Paredes amarelas, biscoitos e dinheiro

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"My heart is broke, but I have some glue
Help me inhale and mend it with you
We'll float around and hang out on clouds, then we'll come down"

- Dumb

"21 de dezembro de 1993

Amo-te a alguns anos, desde que nomearam vênus, desde que vinte e nove livros lhe contaram vinte e sete segredos.
Amo-te nas noites cansadas, e naquelas em que não faz diferença dormir ou não
Não sei quem tu és, o primeiro sussurro das minhas manhãs.
A ultima suplica de minha ressurreição.

Amo-te desde o início da história
Pois só amor te faz querer começar uma
Amo-te com toda a força em que te odiei por ser distante.
Amo-te com essa raiva estonteante.
Desde mercurio até netuno, desde que o sol ditava o tempo.
De sua luz me esquivo, de sua voz pelo vento.

Queria conhece-lo, queria tocar teu rosto, como o destino havia proposto.
Você continua a se esconder, e eu continuo a ama-lo para viver.
Você se mostra em pequenos olhos,
E eu dúvido que seja você.
Pois o amor que guardei é precioso, já não há mais coragem neste céu horroroso.

Amo-te esperando para ama-lo.
E eu não sei quem tu és
Amo-te sem saber seu nome
Amo-te com medo de amar errado
Amo-te desde o começo, amo-te por não ser amado.

Diga-me que é você, não me deixe esperando.
Pois amo apenas você e amo-te a tantos anos."

As cadeiras do hospital eram vermelhas e desconfortáveis, enfeites de natal adornavam as portas daquele infinito corredor. Havia aquele cheiro de hospital que costuma se agarrar as memórias mais tragicas daqueles que passam por ali, felizmente por aquela manhã, não era ruim para eles. 

O ruivo tentava se concentrar no que estava escrevendo em seu diário, enquanto Louis dormia com a cabeça em seu ombro. E o frio os alcançava naquela vazia sala de espera.

Harry sentia leveza na escrita, mesmo que não significasse nada além de um poema que lhe renderia algum dinheiro. Ele passaria os versos para outra folha e esconderia junto a seus pertences secretos em sua casa, como fez com todos os outros. Vendendo a página do diário para não olhar mais para ela e dizendo a si mesmo que era apenas pelo dinheiro, respirando fundo depois de cuspir as palavras de sua confusão sem ter ideia do peso de cada uma delas.

Existe o momento em que os machucados lhe acompanham a tanto tempo, que se tornam um hábito silencioso. Sussurram nas madrugadas, e você está tão acostumado a não dormir que o barulho que aumenta gradualmente não incomoda mais, o conhece tão bem que aprende a conviver com ele, ainda que sufoque com uma lentidão cruel.

É como segurar um punhado de neve nas mãos, com o tempo você sente a pele se anestesiar, e passa a não ter ideia do quanto está se queimando.

Foi apenas quando Harry alcançou seus vinte e poucos anos que aqueles versos o fizeram chorar como uma criança, talvez como ele devesse ter chorado quando era uma.
Porque depois de sua adolescência tudo o que ele tocou durante essa época pareceu se tornar amaldiçoado, como sombras que barravam seu próximo passo. Ele se lembra de ter queimado o diário antes dos trinta anos, se lembra do cheiro das páginas queimando como as pessoas se lembram do cheiro dos hospitais.

Mas naquela manhã ele estava apenas escrevendo sobre amor, porque Amélia honrou a memória de sua filha e o fez se sentir amado, como Louis vinha fazendo a meses, e era confuso.

Seu namorado se moveu e ele fechou o diário rápido, então Louis se arrumou ao seu lado e bocejou.

- O que estava escrevendo? - Perguntou ele baixinho, com sua voz fina que parecia ainda estar mudando, mesmo que a de Harry já tivesse mudado a algum tempo.

I can't look up to the sky ☆ (l.s.)Onde histórias criam vida. Descubra agora