I can't look up to the sky ☆ (l.s.)

Rua, eternidade e negação

"I lie in the soil and fertilize mushrooms
Leaking out gas fumes are made into perfume
You can't fire me because I quit
Throw me in the fire and I won't throw a fit."

- Scentless Apprentice

A fumaça se destacava melhor na madrugada sob a luz de postes amarelos, aquecia o rosto gelado de Harry, mesmo que o fizesse torcer o nariz pelo cheiro desagradável.

Kathleen tragou mais uma vez antes de jogar o cigarro na calçada e pisar nele, ela costumava dizer que isso tornava as noites menos frias. Por isso mantinha o péssimo hábito de fumar, sempre acompanhada de seu namorado.

Harry tinha as mãos nos bolsos ao lado dela, eles estavam encostados em um muro cuja pixação era difícil de se descrever. Observavam Zayn levantar Jane do chão do outro lado da rua, na frente de um dos pubs mais sujos da cidade. O ruivo respirou fundo para não se aproximar, Kat o encarava com certa preocupação, mas um orgulho palpável.

Ela podia até sentir um pouco de empatia pela dor de Jane, porque apesar de todo o ódio que acumulou por ela nos últimos anos, doía ver como todos os seus problemas atravessavam Harry como uma possessão demoníaca e se instalavam no peito dele com pesar.

Portanto, ela e Zayn nunca seriam capazes de negar ajuda, mesmo que ele estivesse revirando os olhos profundamente enquanto passava o braço da mulher quase desacordada por seus ombros.

Era quase fim de março, e Harry estava morando com Christopher a uma semana. Ele acabou sendo expulso do colégio por destruir o carro de um professor, e suas aulas na escola nova começariam segunda-feira.

Christopher brigou por ele o suficiente para que ele continuasse com as mesmas notas da escola anterior sem serem necessárias novas provas. Apontou diversos argumentos para que a diretora, diante da situação de Harry com seus pais, fosse benevolente o suficiente para cuidar de tudo sobre sua transferência sem a necessidade de um responsável legal se envolver.

Foi uma pequena ilegalidade que deu a ele a oportunidade de sua vida. A diretora lamentou por ter que expulsá-lo, ainda mais quando Christopher apontou seu desempenho impressionante considerando sua realidade, e sua vontade concreta de se reerguer. No entanto, Harry entendia muito bem que havia deixado-a sem escolha.

Toda a experiência foi muito engraçada e nova para Harry, pois ver um problema seu ser resolvido pelas mãos de outra pessoa que fez tudo parecer muito fácil era no mínimo estranho para ele.

Agora eram por volta das quatro e meia da manhã, e ele sabia que não deveria estar onde estava.

Ele viu Zayn sair de sua antiga casa, descer os poucos degraus de madeira em frente a porta e olhar para os dois lados da rua antes de atravessar. O azul de seus cabelos estava desbotado e sua expressão indicava que ele estava com sono.

Harry deu um passo a frente na calçada, como quem espera por boas notícias na sala de espera de um hospital, sem o direito de se aproximar da sala de cirurgia e fazer alguma coisa.

- E aí?

- Nada demais, só bebeu todas de novo - Afirmou Zayn, aceitando um cigarro que Kat ofereceu.

Os três passaram a caminhar juntos na calçada.

- Me desculpem de novo por envolver vocês... Eu só acho que se eu chegar perto demais, não vou conseguir me afastar de novo, sabem?

- A gente entende Harry, mas uma hora ou outra você vai ter que deixar pra lá - Aconselhou o garoto, acendendo seu cigarro.

- Ela é minha mãe, é difícil - Explicou, colocando uma mecha de seu cabelo ondulado atrás de sua orelha.