Chuveiro, almoço e doze primaveras

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"And if I say what it's like
I might be dreaming, if I may what is right, summer time, see me yield"

- Do Re Mi

A palavra arrependimento é descrita no dicionário como pesar ou lamentação pelo mal cometido; compunção, contrição. Harry julgava a palavra grande demais para uma definição tão simples, e não era justo desrespeitar uma palavra com tantas nuances dessa forma.

Mas as definições de justiça e desrespeito também não eram tão boas assim, e talvez ninguém mais se importasse com esse tipo de coisa. A verdade é que Harry passava tempo demais tentando distrair sua mente insegura e paranoica sempre que alguma dessas palavras surgia em seus pensamentos.

A voz que deixou seus olhos abertos naquela noite trazia sussurros injustos e contraditórios, sobre a ingenuidade e todos os defeitos de Harry que ninguém merecia conhecer ou ter que lidar mais uma vez. As cores que desbotaram ao seu redor o chamaram de desrespeitoso e egoísta.

Mas assim que Louis abriu seus olhos pela manhã, Harry fantasiou sobre simplicidade e reconheceu o quão fraco ele poderia ser diante de um azul iluminado. A luz não era tão radiante como a de anos atrás, era levemente mais fosca, ainda que permanecesse intensa e sincera.

Os dois mantiveram as cortinas do quarto fechadas e sussurraram "bom dia" um para o outro, ignorando o nascer do sol.

A pouca luz que atravessou a janela, desenhou na parede a imagem de suas sombras se movendo em sincronia no meio da cama, enquanto eles se beijavam como se precisassem do ar preso no céu da boca um do outro para respirar.

Tão grudados quanto dois versos que rimam perfeitamente dentro de um poema de amor.

Harry podia sentir o cheiro dele ao seu redor, era forte como rosas vermelhas e também era amadeirado, era exatamente como ele se lembrava, uma droga escondida em doces de framboesa. Ele se esqueceu da definição de arrependimento, e deixou que Louis voltasse a tirar todas as suas roupas, sem se importar com o tempo e nem com a culpa. Harry se lembrou um pouco de como era ser amado daquele jeito, e de verdade.

E apesar de ser dramático para caralho se sentir assim depois da primeira vez com alguém, Harry sabia que a carência, o egoísmo e o desespero eram alguns dos seus defeitos mais vergonhosos.

Desejar Louis foi tudo o que ele fez no último mês, mas se sentir tão sem valor quando alguém o desejava de volta era sempre uma surpresa que ele não esperava. Atrelado ao seu otimismo novo e sua esperança construída tão lentamente, ele acabava se esquecendo de como era assustador se entregar e perceber que precisa tanto de alguém.

O quão patético e desesperado ele podia ser? O quanto ele já tinha sido nas últimas semanas? E por que ele não podia se importar menos? Ele trouxe Louis para seu colo e deslizou um toque inseguro por cada parte dele, porque seu corpo parecia queimar de dentro para fora e a dignidade nunca foi algo que ele buscou com afinco o suficiente.

Ele ouviu seu nome ecoar pelos quatro cantos do quarto na voz rouca de Louis, e guardou todas as suas declarações apenas para ele, puxando seu cabelo e sussurrando em seu ouvido com devoção.

- Eu senti mesmo a sua falta - Confessou, enquanto ele parecia inebriado entre suas mãos firmes.

Ele era a personificação da tentação, e Harry se deu conta de que ele sempre foi. Alguém para se admirar e venerar completamente, ainda que soubesse o quão longe estava de merece-lo.

Ele nunca disse não a Louis, pelo menos nunca de verdade, e ele estava começando a se lembrar o porquê.

- Caralho como eu queria isso - Louis murmurou com a voz ofegante e um sorriso imprudente, os olhos revirados bem diante de Harry e as mãos trêmulas sobre seus ombros.

I can't look up to the sky ☆ (l.s.)Onde histórias criam vida. Descubra agora