Elodie, cordoma e batalha de bandas

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"I'm so tired I can't sleep
I'm a liar and a thief"

- Pennyroyal tea

Harry pensou nas palavras de Louis nos próximos dias que passaram, tentando entender porque era tão complicado para ele concordar com uma coisa que fazia tanto sentido.

Os corredores do hospital sempre faziam Harry pensar na morte. As paredes brancas e os seus próprios passos pelo piso da mesma cor sempre soavam pacatos e cruéis como ela.

Era digno barganhar com a morte e ser pago para isso, ter sangue limpo em suas mãos, a promessa de salvar uma vida embaixo da língua, ainda que falhasse tantas vezes em proteger e honrar a sua própria.

Harry reconhecia o peso de suas escolhas sempre que se sentia insuficiente para alguma coisa. O peso do jaleco ou da ficha de nove meses sóbrio que ele carregava no bolso, dos remédios para concentração e ansiedade que ele tomava e de cada consulta difícil na terapia.

As vezes ele sentia como se o tempo fosse seu inimigo, porque todos prometeram que ele seria capaz de curá-lo, mas ele lhe mostrou apenas que algumas coisas precisam de mais de uma vida para serem apagadas. E sete anos de tratamento pareciam não ser nada.

Em momentos como esse Harry se odiava, e odiava saber que algumas coisas nele nunca poderiam mudar. Mas Louis insistia em amá-lo principalmente quando ele se odiava, e talvez essa fosse a questão com o amor de verdade. Afinal, James costumava odiá-lo sempre que ele amava a si mesmo, e aquilo definitivamente não era amor.

Foi difícil para Harry se desapegar do que ele queria tão desesperadamente acreditar que se tratava de amor. Porque para ele a definição de amor deveria ser o que está com você desde a infância.

Portanto, ele se sentiu um principiante no amor quando Louis fez tudo parecer tão claro, sólido como um gesto de carinho e real como um beijo que fazia alguma coisa dentro dele formigar.

O amor era aconchegante como uma noite de filmes com sua família, saboroso como o almoço que Louis fez para ele todos os dias depois da primeira vez, era barulhento como a risada de sua irmã e silencioso como jogar dominó com seu melhor amigo, o amor era quente como a cama depois do sexo e fácil como comprar um buquê de flores.

Harry só precisava se esforçar um pouco mais para se lembrar desses pequenos detalhes mesmo que sua mente continuasse a gritar o que aprendeu muito antes de disso.

Que amor era assustador como o choro de Jane, amargo como a saudade de sua filha, barulhento como os gritos de seu ex-namorado e silencioso como as punições que ele recebia por ser tão difícil de lidar, que amor era quente como a chama de isqueiro perto da pele e difícil como vencer um vício.

- Então... O que o Louis fez de bom hoje? - Começou Nathan, com suas sobrancelhas levemente erguidas e curiosidade nas marcas de expressão, enquanto eles andavam pelo terceiro andar do hospital.

- Alguma coisa com legumes e uma carne que eu não me lembro o nome - Ele disse brevemente, concentrado no prontuário que estava lendo.

- E ele vai dormir lá em casa de novo? - Questionou no mesmo tom, tentando encontrar uma maneira de perguntar o que realmente queria.

- Vai. Eu não vou dormir na casa dele - Ele levantou o olhar e estendeu a Nathan o prontuário - Você vai me ajudar com essa paciente?

- Essa é sua e do Samuel - Respondeu ele, depois de ler o nome no topo da folha.

- Merda. Odeio ele.

Os dois pararam em frente ao elevador e Nathan apertou o botão do primeiro andar.

I can't look up to the sky ☆ (l.s.)Onde histórias criam vida. Descubra agora