Skate, recesso e o bibliotecário

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"And I forget just why I taste
Oh, yeah, I guess it makes me smile
I found it hard, it's hard to find
Well, whatever, nevermind"

- Smell like teen spirit

Era a última semana de aulas antes do recesso de natal. Havia um desejo no ar, um desejo que cheirava à biscoitos mofados e cera derretida. Era curioso e ao mesmo tempo assustador, ele queria abraçar o mundo com suas mão e faze-lo parar de girar até que todas as feridas, cujo o sangue corria pelos oceanos tão naturalmente quanto todo o sal, fossem amparadas.

Louis não podia entender como as ruas continuavam molhadas e as pessoas continuavam a espalhar enfeites de natal por seus telhados sujos enquanto viviam na fantasia de suas realidades. Aquela cidade não era mais a mesma aos olhos dele, nem o chão onde pisava ou as nuvens que tocava ao sonhar.

As vezes acreditar que todas as pessoas são felizes é mais fácil, e te faz ter mais vontade de montar uma árvore de natal ao fim do ano.

Ele queria gritar para que todos parassem, desejava que todos mudassem da mesma forma que ele mudou depois de ler aquele diário. E esse é o grande mistério sobre como se encaixar no mundo, não importa o que te afete, ele continua o mesmo e parece não haver sempre um novo espaço para algo tão fluído quanto o espírito humano.

Louis bateu a porta do carro com força, o nariz ainda coçando e a garganta doendo um pouco. Ele usava mais blusas do que o necessário e um cachecol vermelho e horrível que Amélia o proibiu de tirar. O mais novo cruzou os braços irritado depois de jogar sua mochila no banco de trás, Dean revirou os olhos dando partida no carro antes de perguntar:

- O que aconteceu? - Havia um fio de preocupação em sua voz, ele sabia que Louis sozinho no lago em meados de dezembro era uma história muito mal contada.

Dean tinha consciência de que suas tentativas de colocar juízo na cabeça de seu irmão acabavam por ser eficazes e ele nunca faria isso simplesmente por acidente, ou por um descuido de sua parte.

- Você sabe o que aconteceu - Louis respondeu grosseiramente.

- Eu sei que quase se afogou, sei que seus amigos foram babacas mais uma vez, e sei que está tão irritado com alguma coisa que gritou com Caiden por ele ter te chamado mais de uma vez pra mostrar que tem um dente novo crescendo na boca.

Louis bufou em resposta e Dean apenas lhe encarou pelo canto de seus olhos, quase toda sua atenção presa nas ruas enquanto ele dirigia devagar diante da neve no asfalto.

- Você sabe como ele está animado com isso, e já teve a idade dele... Deveria entender. - Aconselhou ainda estudando cada uma das reações de seu irmão.

- E eu imagino que você entenda melhor do que ninguém - Debochou ele irritado, Dean levantou as sobrancelhas surpreso e Louis continuou. - Você é tipo tão perfeito não é Dean? Com seu namorado bonito e carinhoso, suas notas perfeitas, levando seu irmão pra escola enquanto dirige perfeitamente e com todos os seus hobbys perfeitos que nossos pais adoram vangloriar e com esse seu rosto perfeito e... E notas perfeitas!

- Você disse notas perfeitas duas vezes... - Observou segurando o riso - Isso é sobre as notas das provas que você vai receber nessa semana?

- Aí! Está vendo? Você nem está irritado, porque você é super maduro e perfeito! E eu toco guitarra alto demais e me afogo no lago e coloco brincos e nossos pais acham que você é melhor que eu... Mas os pais deveriam entender que todos os filhos são especiais e ama-los, e saber que foi ideia deles criar essas crianças que nunca pediram para nascerem... Era para ser assim, ninguém deveria se sentir culpado por existir só porque não é como seus pais imaginaram. Sim eu toco guitarra e escrevo poesia e isso é tão especial quanto prêmios de matemática!

I can't look up to the sky ☆ (l.s.)Onde histórias criam vida. Descubra agora