Capítulo 1: Reino Superior.

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Holly

A casa antiga estalava a cada passo dado dentro dela. O barulho das goteiras era irritante e continuo.

Ergui minha cabeça e encarei o rapaz amarrado na cadeira, no que antes deveria ser a sala de estar da casa abandonada.

Meus dois homens, Lorck e Callum, estavam postos um de cada lado da cadeira, evitando qualquer tipo de fuga do prisioneiro.

-Ergam a cabeça dele. -Mandei, vendo que o rapaz não se movia na cadeira.

Lorck se movimentou lentamente até o lado do prisioneiro. Ele, assim como Callum possuía a pele morena, mas seus olhos eram num tom âmbar muito vivo, enquanto Callum possuía olhos azuis vibrantes e chamativos.

Segurando os cabelos encaracolados do prisioneiro, ele puxou sua cabeça para cima e logo o rapaz estava com os olhos em mim.

-Holly... -Estalei a língua quando ouvi a voz dele.

-Não tente implorar, Juan. Sabe que eu não tenho pena nenhuma. -Falei com a voz calma e ele engoliu em seco. -Eu vou te fazer uma única pergunta e quero que me responda com sinceridade.

Ele soltou algumas lágrimas e alguns soluços. Ergui minha mão e analisei minhas unhas pintadas de preto.

-Você confirma as acusações feitas a sua pessoa, de traição ao nosso rei? -Questionei e voltei a olhá-lo, esperando por uma resposta.

Juan engoliu em seco várias vezes e lentamente  confirmou com a cabeça.

-Sim. Eu confirmo. -Baixou novamente a cabeça para o chão, chorando desesperadamente.

Encarei ele por alguns segundos e então olhei para Callum, que tinha os olhos em mim.

-Solte-o. -Ordenei e ele rapidamente se prontificou a cortar as cordas que seguravam o prisioneiro.

Juan pareceu completamente surpreso por um momento. Quando as cordas caíram ele me encarou esperançoso e eu abri um sorriso.

-Vou dar uma chance a você. -Comecei. -Você tem cinco segundos para correr e sair por aquela porta. -Apontei para a porta atrás de mim. -Antes que uma de minhas adagas encontre a parte de trás de sua cabeça.

Ele arregalou os olhos e ficou paralisado ainda sentado na cadeira.

-Eu já estou contando, Juan. -Aleitei.

Então ele correu. Passou como uma flecha por mim. Levei minha mão até o cinto preso na minha coxa e puxei uma das adagas presa nele.

Minha mão se ergueu e a adaga foi lançada, girando no ar com um único destino. Três segundos depois restava apenas o cadáver de Juan a centímetros da porta.

Lorck passou por mim e caminhou até o corpo sem vida, removendo minha lâmina suja de sangue da nuca dele e a limpando nas próprias roupas. Ele caminhou até mim e me estendeu a adaga de volta.

-Limpem essa bagunça. -Pedi com calma e comecei a caminhar com tranquilidade até a saída.

[...]

Meu salto fazia barulho no piso enquanto eu caminhava pelos corredores até a entrada da sala do trono.

As portas foram abertas pelos guardas assim que me aproximei. Entrei na sala do trono com a postura mais ereta que conseguia.

No final do grande salão, sentado em um trono imenso estava Dener Dirksen, rei do Reino Superior.

-Vossa majestade. -Fiz uma reverência e encarei o chão. -Trabalho terminado com sucesso.

-Holly, querida. -Ele sorriu preguiçosamente. -Ocorreu tudo sem nenhum imprevisto?

-Nenhum, majestade. Foi rápido e limpo. -Afirmei e ele assentiu satisfeito.

-Fico feliz com isso. Você, afinal, nunca erra. Minha assassina favorita. -Seus dedos batucavam o braço do trono. -Você está dispensada, Holly. Pode pegar alguns dias de descanso. -Afirmou. -Se tudo correr como previsto, em breve você terá uma nova missão.

Assenti com a cabeça e fiz outra reverência, virando a volta e caminhando até a saída.

Os corredores do castelo estavam sempre repletos de guardas. Mas nenhum tinha coragem de olhar para mim. Eles sabiam o que eu conseguia fazer com apenas uma adaga.

Eu já matei centenas de pessoas. Todas elas traíram o reino ou eram nossos inimigos. Foi para isso que eu treinei desde criança. Para ser uma assassina.

Nenhuma lâmina era mais afiada que a minha.
Ninguém era mais rápido que eu com uma adaga.
E o sangue já havia se tornado um amigo próximo.

Eu nunca errava e eu nunca vou errar.

[...]

Passei pelos murros altos que separavam o castelo da cidade humana. Ricos mercadores e pessoas com posses e muito dinheiro.

Era isso que nos diferenciava das terras humanas do reino de Andalor

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Era isso que nos diferenciava das terras humanas do reino de Andalor. Humanos superiores eram livres e poderosos. Já em Andalor, os humanos eram escravos. Viviam na pobreza e no lixo.

Mas nem sempre foi assim. As terras humanas daquele reino já foram livres e ricas. Só que ninguém estava esperando que o rei tirano daquelas terras fosse simplesmente aprisionar os humanos em uma vida de escravidão.

Isso aconteceu a 13 anos atrás. Eu me lembro exatamente como aconteceu, porque eu estava lá. Eu vi inúmeros feéricos surgindo e aprisionando todos os que cruzavam os seus caminhos.

Eu me salvei daquela vida. Meu pai me salvou. Ele me vendeu para um comerciante do mundo inferior. Ele me livrou de levar uma vida na miséria. Enquanto ele e minha mãe ficaram para trás, servindo de prisioneiros para o rei.

Um dia ele ainda pagará por tudo que fez. Por todo mal que vêm causando a minha espécie.

Olhei para o céu noturno do reino e comecei a caminhar pelas ruas cheias. Eu morava em uma pequena casa simples no centro da cidade.

Era simples e aconchegante. E principalmente, eu podia ficar sozinha e em silêncio.

Silêncio, eu apreciava muito isso.

Entrei na pequena sala e observei tudo como eu havia deixado antes de sair. Tirei os sapatos e os coloquei arrumados em um cantinho.

Subi as escadas e entrei no meu quarto, indo direto até a varanda e observando o movimento da rua.

Quando eu estava em casa era ali que eu costumava ficar. Eu dormia tarde todas as noites, pois ficava na varanda observando a noite.

O vento frio balançou as cortinas brancas atrás de mim e eu me encolhi com o frio.

Soltei um suspiro quando mãos firmes seguraram minha cintura e eu senti a respiração nos meus cabelos.

-Olá, minha assassina favorita.


Continua...

Reino de Fogo e Caos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora