LIVRO1 (TRILOGIA REINO DAS SOMBRAS)
Nenhuma lâmina é mais afiada que as adagas de Holly Orion, a assassina cruel do rei dos superiores.
Quando criança, ela foi vendida pelo próprio pai e viu sua família ser escravizada pelo grande rei de Andalor. O...
Coloquei a capa sobre minha cabeça, escondendo meus cabelos castanhos e parte do meu rosto.
Eu não era muito bem-vinda no mundo inferior. Já cacei pessoas por essas ruas estreitas. Matei mais pessoas aqui do que se pode imaginar. Então, a lista de pessoas querendo me matar e se vingar é extensa.
Enfiei a mão no bolso da calça e tirei o papel meio amaçado de dentro.
-Aqui, preciso que arrumem isso para mim. -Estendi o papel para Lorck. -Vou até A Fortaleza.
-Então nós vamos atrás das coisas que você precisa, enquanto você vai beber? -Callum reclamou e eu suspirei.
-Achei que era vocês quem trabalhavam para mim e não o contrário. -Sibilei afiada e os dois trocaram olhares. -Consigam isso e me encontrem lá.
Comecei a andar deixando os dois para trás. Os dois sabiam muito bem que essa era a missão da minha vida. E pela primeira vez eu estava ansiosa para usar minhas lâminas.
Passei por uma das pontes erguidas em cima do rio que havia abaixo do mundo inferior. O mundo inferior nada mais era que o amontoado de casas velhas e criaturas estranhas. Três andares acima e pontes que cortavam o rio. Era um verdadeiro labirinto. Ruas e mais ruas. Nunca tendo um fim. Ele era o centro de algo muito maior. Inúmeras dimensões. Mundos diferentes repletos de humanos e criaturas mágicas. Cada um com sua característica marcante. E todas elas se encontravam aqui.
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Eu morei no mundo inferior por três anos, depois que meu pai me vendeu. Três anos sem ver o céu azul ou o sol. Três anos vendo as pessoas se matando aqui embaixo. Até que então o rei dos superiores apareceu e me salvou. Me tirou do lixo que eu vivia.
Parei na rua quando fiquei de frente para o bar de Declan. Uma casa de pedras cheia de musgos com o inscrito em cima A Fortaleza.
Passei pelas portas ouvindo o sininho preso ao teto, avisando que alguém havia entrado. O bar estava lotado. E todos pararam para olhar para mim, parada na porta.
Os olhos de todos os humanos e criaturas me analisaram e então, eles voltaram a fazer o que estavam fazendo, absolutamente nada.
Suspirei e caminhei até o balcão, me sentando em um dos bancos e jogando uma moeda de ouro em cima dela.
-O mesmo de sempre? -Declan perguntou e eu assenti.
Esperei ele encher o copo com o líquido de cor avermelhado e soltá-lo na minha frente.
-O que faz aqui? -Ele questionou, escorando as mãos na bancada. -Você não costuma aparecer aqui duas vezes por ano. Apenas nos seus aniversários. -Comentou, como se me conhecesse muito bem. -Então, qual o motivo da comemoração?
-Só preciso relaxar. -Afirmei curta e grossa.
-Vamos lá, Holly. Eu conheço você. -Ele riu. -Você vem aqui todo ano encher a cara no dia do seu aniversário. Sempre se lamentando pelo passado.
-Cale a boca. -Sussurrei e ele riu.
-Você esteve aqui dois meses atrás. Quantos aninhos mesmo? 12? -O copo se quebrou na minha mão e Declan ficou em silêncio.
-Eu tenho 20. Mas obrigada por me lembrar das vezes que venho aqui. -Ironizei. -Agora, por favor, feche a boca, Declan.
-Você já foi mais simpática.
-E você menos curioso. -Rebati e ele estalou os dedos e sorriu.
Declan limpou os cacos de vidro e arrumou outro para mim. Suspirei e bebi um gole, sentindo o gosto forte descer na minha garganta.
O sininho da porta fez barulho e eu não me dei ao trabalho de olhar quem havia chegado.
-Ouvi dizer que a assassina do rei dos superiores está aqui. -A voz grossa falou com certa raiva. -Onde?
Dei outro longo gole sabendo que todos estavam apontando na minha direção.
-Por favor... -Declan sussurrou para mim. -Se for matá-lo, faça isso lá fora.
Abri um sorriso e levei minha mão as adagas presas na minha coxa.
-Ei... -Ouvi a voz atrás de mim. -Você é Holly Orion?
-Sim. -Bebi outro gole.
-Temos contas a acertar. -Afirmou e eu soltei o copo vazio na bancada.
-É mesmo? Sugiro que entre na fila então. -Ironizei. -Já vou avisando que ela é um pouco extensa.
-Chega de brincadeira, garota! -Ele tocou no meu ombro e puxou a capa que estava na minha cabeça.
Puxei a adaga. Me virei e enfiei ela no pescoço dele antes mesmo que ele percebesse o que estava acontecendo. A faca na mão dele caiu no chão. O bar ficou em silêncio.
Puxei a adaga e empurrei a cabeça dele em direção ao balcão. Ela bateu fazendo um estrondo e o corpo dele foi para o chão.
Senti o sangue pingar dos meus dedos para o chão, enquanto eu encarava o bar todo em silêncio. Eles analisaram e então voltaram a beber. Um assassinato no mundo inferior era mais do que comum.
Bem vindo a realidade.
Me sentei e coloquei a capa sobre meus cabelos de novo. Soltei a adaga suja de sangue no balcão e suspirei.
-Droga, Holly. Eu pedi para não matá-lo aqui dentro. -Declan resmungou. -Olha quanto sangue. Agora aqueles sanguessugas nojentos vão aparecer aqui.
-Foi mal. -Menti e coloquei outra moeda em cima do balcão. -Mais uma dose, por favor.
Declan bufou e pegou o copo. Olhei para a lâmina parcialmente suja de sangue. Eu podia ver meu reflexo na área limpa da adaga. Meus olhos cor de mel refletiam perfeitamente na lâmina afiada.
O copo foi solto na minha frente e eu virei ele de uma vez só na minha boca. Respirei fundo quando o banco ao meu lado foi arrastado e então um copo foi solto.
-Então você é a famosa Holly Orion. -A voz masculina era calma e suave.
-Já matei um. Não me incomodo em matar você também. -Garanti e ouvi a risada dele.
-Seria adorável ver você tentar. -Ironizou e eu curvei os olhos. -Mas não estou aqui para tentar te matar.
-E está aqui porque?
-Só quero conhecer a famosa Holly. -Comentou. -Já ouvi falar de você.
-Mal, eu presumo. -Ouvi uma risada divertida vindo dele.
-Na verdade, não. Conheço um cara muito fã seu. Ele já me contou uma história sua mais de 50 vezes. -Explicou. -Você, Holly Orion, matando 4 homens com uma única faca.
-Um fã? -Perguntei com dúvida. -Essa é nova.
-Eris Keegan é o nome dele. Um mago. -Ele bebeu um gole e soltou o copo. -Ia ficar mais do que feliz em te conhecer.
-Estou meio ocupada, mas quem sabe outro dia. -Afirmei e ouvi outra risada dele.
-É, quem sabe outro dia. -Concordou.
Virei o rosto para olhá-lo pela primeira vez. O rapaz parecia ter uns 23 anos. Os cabelos eram um tom muito loiro e estavam muito bagunçados, como se ele não se importasse em arruma-los. Ele vestia roupas escuras e tinha uma espada na cintura. Olhei para as mãos, vendo algumas tatuagens aparecendo atrás da manga da jaqueta de couro.
-E você seria quem?
Ele virou o rosto na minha direção. Um pouco pálido demais. E eu encontrei olhos tão azuis como o oceano.