Abri meus olhos e senti minha garganta arder quando respirei fundo. Olhei em volta vendo que estava no meu quarto no castelo. Então minha atenção parou na pessoa que estava sentada em uma poltrona no canto do quatro, olhando para a varanda.
-Você está bem? -Ele questionou, sem virar o rosto para mim e eu engoli em seco. Fiquei em silêncio e ouvi um suspiro dele. -O que você viu?
-Minha irmã. -Menti, sentindo um gosto amargo na boca.
-Você está mentindo. -Aaron afirmou, virando o rosto em direção a cama e me encarando. -O que você viu, Holly?
-Minha irmã. -Falei de novo e ele soltou uma risada desacreditada. Meu sangue gelou quando ele se colocou de pé e caminhou em direção a cama.
-Se prefere mentir para você mesma, tudo bem. -Ele abriu um sorriso fraco. -Não sou eu que está fazendo escolhas erradas aqui.
-Você fez elas a alguns anos atrás. -Declarei e me virei para o outro lado da cama, tentando tirar o rosto dele da minha cabeça.
-Descanse. Eu disse a seus parceiros que você passou mal e quer ficar sozinha. -Sua voz começou a se afastar. -Minha proposta ainda está de pé. Espero que use isso que viu com sabedoria e não faça nenhuma loucura.
Então a porta se fechou e eu escondi meu rosto embaixo das cobertas. Eu podia sentir a sensação de como ele a tocou em mim. Podia sentir a sensação de estar tocando ele.
Me virei na cama de novo e levei as mãos para de baixo dos travesseiros. Puxei a agenda com a mão e a abri. Peguei o lápis, mas antes mesmo que eu escrevesse algo, as palavras surgiram.
"Sabia que voltaria, Holly."
Revirei os olhos e pressionei a ponta do lápis na página que ficava em branco.
"Preciso de respostas."
"Sim. Não. Sim e Não..."
"Se quer que eu confie em você, precisa me dizer algo concreto."
As palavras sumiram e eu esperei, enquanto a coisa demorava para mandar uma resposta.
"Porque só eu vejo o que você escreve aqui?"
"Porque eu quero que seja assim."
"Então é isso? Você deseja que seja assim e as coisas acontecem?"
"Sim."
Passei a mão nos cabelos e encarei a palavra sumindo da folha. Não demorou muito que mais uma frase surgisse nela.
"Você é a única que pode ler. E se um dia perder a agenda, ela aparecerá nas suas coisas novamente."
"Coisa sua também?"
Ele não respondeu. A frase sumiu e eu vi aquilo como uma confirmação.
"Me conte algo."
Pedi e aguardei, enquanto a frase desaparecia. Eu achei que a coisa não responderia. Mas logo as palavras começaram a surgir na folha. Um pequeno texto.
"Eu vi quando eles entregaram você. Vi o seu desespero quando seus pais viraram as costas e correram, enquanto você era levada para aquela carroça... Meus pais fizeram a mesma coisa comigo algum tempo depois. Fui levado e de longe, pude vê-los se matarem. A morte parecia melhor do que ser escravo, prisioneiro. Eu demorei para entender isso. Para entender que a morte as vezes é muito melhor que correntes. Mas eu, infelizmente, não tive a mesma oportunidade de escolher a morte como eles fizeram."
Ele terminou e logo as palavras sumiram da página. Minha boca estava seca naquele momento e meu coração tão acelerado que eu mal podia saber onde uma batida começa e outra terminava.
"O que você é?"
As palavras sumiram e eu pensei que não teria nenhuma resposta. Mas me surpreendi quando ela veio.
"Algo poderoso o suficiente para matar alguém com apenas um pensamento. Algo perigoso o suficiente para não ver a luz do dia a anos... Eu não tenho um nome, Holly. Você pode me considerar um portador. Mas eu estou longe disso. Longe de ter um poder que possa ser entendido."
"E você se chama de que? O que você acha que é?"
A reposta demorou a vir. E por um segundo, achei ter ouvido uma risada na minha cabeça e estremeci com a sensação.
"Eu sou um sobrevivente."
Suspirei e fechei a agenda. Quando eu achava que ia avançar, ele falava algo que acabava com minhas expectativas. Olhei para a agenda vendo ela se abrir de novo e então ele voltar a escrever.
"O que você viu hoje no lago da caverna, Holly. O que a luz te mostrou... Precisa tomar cuidado com quem confia. A escuridão se aproxima."
"Você sabe o que eu vi? Que história é essa de escuridão?"
Esperei a resposta. Aaron havia falado a mesma coisa pra mim ontem. A escuridão se aproxima.
"Sim, eu sei o que você viu. Você sendo rainha ao lado de Aaron. Futuro interessante, eu diria. Tirando a parte do sangue no final."
E nada. Nenhuma palavra sequer sobre a escuridão ou o que quer que seja. As palavras sumiram e eu engoli em seco.
"Quer saber mais? Entre nós aposentos de Aaron e encontre o pergaminho escondido entre as coisas dele."
"Que pergaminho?"
"O encontre e saberá. Sei que tem algo que pode te ajudar a se livrar de Aaron por um tempo. Use-o."
E foi isso. As palavras sumiram e a agenda se fechou em um baque, me dando um leve susto. Encarei a agenda fechada nos meus dedos. Ele claramente não queria mais conversar e como da outra vez, havia me deixado com uma incógnita na cabeça.
Me levantei e fui até minha mala, mexendo nas roupas até encontrar o saquinho que estava escondido no bolso de uma das jaquetas. Abri o saquinho e joguei o frasco que estava dentro na palma da minha mão.
Encarei o líquido incolor dentro e abriu um sorriso. Está na hora de jogar, Aaron.
Continua...
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Reino de Fogo e Caos / Vol. 1
FantasiaLIVRO1 (TRILOGIA REINO DAS SOMBRAS) Nenhuma lâmina é mais afiada que as adagas de Holly Orion, a assassina cruel do rei dos superiores. Quando criança, ela foi vendida pelo próprio pai e viu sua família ser escravizada pelo grande rei de Andalor. O...