Capítulo 15: Um Fantasma.

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Ele me encarou, talvez com mais pesar do que eu esperasse. Seus olhos me avaliaram. E eu me virei para a lareira antes que ele dissesse qualquer coisa.

-Você sabe onde ela está? -Respirei fundo. -Você trabalhava com meu pai, deve saber para onde...

-Não. -Eu fechei os olhos com força. -Ela foi entregue a outro comerciante também. Algum tempo depois que você se foi. -Ele suspirou. -Ela sentia sua falta. Perguntava de você o tempo todo.

Mais lágrimas rolaram pelos meus olhos e eu engoli o soluço que quis escapar pelos meus lábios.

-Eu estou procurando por ela a um tempo. Mas não encontrei nada sobre. É como se ela tivesse virado um fantasma. -Afirmei. -Halley simplesmente sumiu.

-Você contou ao seu rei?

-Não. -Neguei com a cabeça rapidamente. -Ele só sabe o básico sobre mim. O necessário... Absolutamente ninguém sabe sobre Halley.

Apenas Aaron. Pensei, lembrando de suas palavras no jantar.

-Porque não conta a ele e pede ajuda? -Questionou e eu senti vontade de rir.

-Meu rei não é a pessoa mais confiável possível. Eu o sirvo porque ele me salvou do mundo inferior. -Caminhei até a porta. -Você sabe quem era o comerciante?

-Não. Nunca tinha o visto antes. -Ele deu de ombros. -E também nunca mais o vi depois daquele dia.

-Certo. -Balancei a cabeça. -Obrigada por me receber.

Abri a porta e encarei a pequena garoa que caia nas terras humanas. Passei pela porta voltando a pisar na lama.

-Holly? -Ele chamou e eu me virei para encara-lo. Sua expressão demonstrava preocupação. -Cuidado com essa sua missão. Não sei o que se passa dentro do reino Superior. Mas conheço o meu rei o suficiente.

-Ele aprisionou vocês. -Afirmei. -Não acha que ele deve pagar por isso?

-Talvez nos merecêssemos isso. -Disse por fim, com se estivesse pensado longe. -Boa sorte na sua busca. Espero que a encontre.

Eu olhei para ele uma última vez e então me retirei.

[...]

Andei pelo meio das casas velhas sem um lugar fixo a ir. Eu só não queria voltar para o castelo ainda. Eu havia saído cedo, antes mesmo do café da manhã. E tenho certeza que Aaron me obrigaria a tomar café com ele, então quis evitar isso.

Minhas roupas já estavam úmidas e meu corpo frio, com o leve ar gélido que se chocava contra mim. Continuei andando, até mesmo quando escutei passos atrás de mim. Minha mão parou em cima de uma das adagas.

Respirei fundo e tirei o cabelo molhado do rosto. Quando achei que quem quer que fosse, estava perto o suficiente, eu me virei, com a adaga em mãos. Mas não havia nada atrás de mim. Nada além de sombras rastejando pelas madeiras antigas.

Eu dei um passo para trás e depois outro quando um lobo negro apareceu na rua estreita por onde eu havia passado. Os olhos brancos e os pelos arrepiados. As garras sujas de lama e os dentes expostos para mim.

Então eu o senti atrás de mim. O portador das sombras. E eu me virei para ele. De novo, ele havia sumido, ficando apenas as sombras para trás. E por um segundo, eu podia jurar que elas estavam rindo de mim.

-Pare com isso! -Grunhi, me virando para a criatura das sombras que me observava com fome.

-Eu disse que seria divertido ver você tentar. -Comentou e eu reconheci a voz no mesmo instante. Então ele apareceu ao lado do lobo, passando a mão pela cabeça enorme da criatura enquanto sorria com divertimento.

-Você é o portador das sombras. -Falei e ele piscou, com os olhos azuis chamativos. As sombras ondulando em volta dele.

-Te assustei? Desculpe. -Falou sorrindo. -Estava dando uma volta por aqui quando vi você. O que faz nessas terras mortas? -Questionou e eu pisquei olhando para ele com curiosidade.

-Estava visitando um conhecido. -Expliquei e encarei o lobo aos pés dele. -Ouvi falar que um portador das sombras estava aqui. Não podia imaginar que era você.

Ele deu de ombros e curvou a cabeça. Seu cabelo molhado grudava na testa, mas ele não parecia se importar.

-Não conhecia essa dimensão ainda. Fiquei curioso depois que me contou que era daqui. -Falou, sem qualquer humor e então olhou para a rua, vendo que haviam pessoas se aproximando. -Quer dar uma volta por um lugar mais interessante?

-Que lugar? -Questionei e observei ele tirar uma pedrinha branca da jaqueta. Uma pedra dimensional, utilizada para se viajar entre dimensões mais rapidamente.

-Eris ainda quer conhecer você. Se eu contar a ele que encontrei você de novo, ele vai me matar por não tê-la levado até ele. -Declarou, mais como uma reclamação. -Você tem noção de como magos podem ser chatos? -Neguei com a cabeça e ele riu. -Pois nem queira ter noção.

Olhei para a pedra na mão dele, depois para a rua. A carruagem me esperaria, então não tinha porque dizer não. Além do mais, eu estava curiosa em relação ao portador das sombras na minha frente. Não é todo dia que se encontra um.

-Tudo bem. -Me aproximei dele. Mackenzie me estendeu a mão e eu a segurei. Ele sorriu e piscou para mim, antes de nós tiramos das terras frias dos humanos.

Meus pés tocaram o chão firme no mesmo segundo. O clima estava quente e o céu amarelo da manhã. Olhei em volta vendo que estávamos em uma pequena cidade bruxa. Não era difícil perceber isso, pela cara das pessoas que passavam em volta de nós.

-Onde estamos? -Questionei, vendo Mackenzie guardar a pedra no bolso.

-Dimensão das estrelas. -Ele sorriu e começou a caminhar pela rua. Eu o segui em silêncio. -Eris tem residência fixa aqui. Eu o visito as vezes.

-Não mora com ele? -Mackenzie negou. -E o que você faz?

-Eu viajo entre todas as dimensões. Conhecendo cada uma delas e fazendo alguns serviços por aí. -Deu de ombros.

-E a sua dimensão? -Questionei curiosa e ele olhou para mim sem qualquer humor.

-Não vou até lá a mais de um ano. -E pelo tom da sua voz, ele não queria falar mais sobre aquilo.




Continua...

Reino de Fogo e Caos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora