Mackenzie me encarou por alguns segundos, antes de abrir o saquinho de moedas e contá-las.
-Se for pouco posso lhe dar mais. Quanto desejar. Mas precisa encontrá-la para mim. -Afirmei e ele mordeu os lábios.
-O que ela é sua? -Questionou, guardando as moedas no bolso.
-Minha irmã mais nova. Ela está com 18 anos agora. Halley é parecida comigo. Rosto, cabelo, quase tudo. -Afirmei. -Mas ela tem olhos azuis. Duvido que tenha mudado tanto. Você provavelmente vai saber que é ela assim que a vir. -Eu estava com a voz um pouco trêmula nesse momento. Mackenzie me encarava atentamente. -Só por favor, encontra ela.
Mackenzie se colocou de pé e eu fiz o mesmo, com o olhar atento de Eris sobre nós dois.
-Você teria algo dela? -Questionou. -Qualquer coisa que seja. Preciso de um mísero perfume dela. -Pisquei algumas vezes e balancei a cabeça afirmativamente.
-Tenho. Mas é algo de treze anos atrás. Não acho que ainda vai ter...
-Não subestime uma criatura das sombras. -Eris exclamou, bebericando o café. -Lobos negros são conhecidos por caçar a mesma presa por milhões de anos, apenas com o cheiro.
Olhei para Mackenzie e ele tirou a pedra do bolso da jaqueta. Me aproximei dele um pouco ansiosa.
-Adeus, Eris. Foi um prazer te conhecer. -Ele abriu um sorriso.
-Ah o prazer foi meu, criança. Se precisar, conte comigo. -Assenti e voltei a encarar Mackenzie.
-Pra onde quer ir?
-Castelo de Andalor. -Afirmei e Mackenzie curvou a cabeça desconfiado.
-Não tem ninguém te esperando nas terras humanas? -Questionou e eu senti vontade de rir. Balancei a cabeça negativamente, em uma clara mentira. Aquele feérico que me esperasse para sempre.
Mackenzie segurou minha mão e depositou a pedra na palma dela. Certo, eu precisava fazer isso. Mackenzie não havia estado no castelo e precisava de uma imagem clara para que pudéssemos viajar entre as dimensões. Então eu teria que fazer isso.
Segurei a pedra entre meus dedos e Mackenzie colocou a mão no meu ombro. Fechei os olhos e pensei no quarto que eu estava usando no castelo e um segundo depois meus pés tocaram o chão.
Mackenzie se afastou de mim e analisou o quarto com interesse. Joguei a pedra para ele e corri em direção a minha mala. A abri e tirei algumas roupas, até encontrar um livro escondido no final. O peguei e abri com cuidando. Então o papel dobrado caiu nas minhas mãos e eu suspirei.
Soltei o livro e abri o papel, encontrando o desenho que Halley havia feito naquele dia. Eu havia pegado ele quando entramos no armário debaixo da escada. Ele ficou nos meus bolsos e eu o protegi como uma joia rara até hoje. Era minha única lembrança.
Me levantei e caminhei até Mackenzie. Ele estalou os dedos e uma mancha de sombras apareceu ao lado dele, e dela surgiu um logo negro. Fiz uma careta vendo a criatura se sentar aos pés dele.
-Eles gostam de você. -Falei, vendo o jeito que o lobo agia perto dele.
-São os únicos. -Mackenzie ironizou e estendeu a mão para pegar o desenho. Meus dedos tremeram um pouco quando entreguei a ele, relutante. -Vou fazer o meu melhor, Holly. -Mackenzie afirmou, me encarando sem humor. -Tentarei dar notícias em breve.
-Certo... Leve o tempo que precisar. Só a ache, por favor. Terei uma dívida com você se fizer isso. -Declarei e ele assentiu.
Mackenzie se afastou alguns passos e não demorou muito para sumir com o lobo. Meu corpo estava trêmulo e meu coração acelerado. Eu havia entregue a ele a única coisa que restava da minha sanidade. A única coisa que me lembrava que eu ainda tinha motivos para viver.
Eu penso em Halley todos os dias desde que fui levada. Todos que me conhecem acham que eu vou para o mundo inferior e fico bêbada no dia do meu aniversário. Mas eles não sabem... Não sabem que esse dia na verdade é aniversário de Halley e não meu. Eu bebo porque nesse dia algo se contorce dentro de mim. Grita que este é mais um ano que não estou passando o aniversário ao lado dela.
Encarei a janela com o coração pulsando e com as lágrimas caindo pelos meus olhos como uma tempestade sem fim. Cerrei os punhos quando ouvi uma batida na porta. Não me movi.
-Eu sei que está aí dentro, Holly. Abra a porta. -Aaron murmurou do lado de fora e eu fechei os olhos com força. -É feio deixar alguém esperando. Já fez isso com o meu soldado, que foi de bom grado a levar até suas terras. Não fará isso comigo também.
-Vá para o inferno! -Gritei e soltei um soluço logo em seguida. Aaron não podia me ver assim. Ninguém jamais me viu desabar e ele não seria o primeiro.
-Abra a porta, Holly. -Pediu, com a voz mais calma do mundo. -Abra pra mim.
Balancei a cabeça negativamente, mesmo sabendo que ele poderia não ver. Eu queria matá-lo. Queria ficar sozinha. Queria que tudo acabasse logo.
Eu não sei em que momento ele abriu a porta e entrou no quarto. Mais eu agarrei um dos livros que havia pegado da biblioteca e joguei em direção a porta sem nem pensar direito. Meus olhos se arregalaram quando o livro acertou em cheio a testa de Aaron e ele cambaleou para trás, surpreso.
-Holly! -Ele advertiu e eu agarrei outro livro e joguei de novo. Fiz isso com os outros, vendo Aaron se esquivar de todos eles e andar a passo pesados na minha direção.
Quando não havia mais livros eu agarrei uma das adagas presas a minha coxa e ataquei Aaron bem no momento que ele chegava a centímetros de mim. Sua mão agarrou meu braço e parou o movimento bem a tempo.
-Holly...
-Eu odeio você! -Gritei, tentando acertar ele com a adaga e alcançar as outras, enquanto ele me segurava. -Eu odeio você, Aaron. Eu odeio você. Odeio você... Odeio, odeio, odeio...
Quando percebi nós dois já estávamos no chão. A adaga caiu da minha mão e Aaron pressionou meu corpo contra o peito dele, com os braços firmes em volta de mim. Eu estava tão desesperada, soluçando e chorando feito uma criança que meu cérebro demorou para processar o que estava acontecendo.
Aaron estava me abraçando. Seus braços me envolviam protetoramente e seus lábios estavam colados na minha testa.
-O que está fazendo? -Minha voz saiu como um fantasma pelos meus lábios. -O que está fazendo, merda! -Fechei minhas mãos e as bati contra o peito dele sem parar. -Eu odeio você, Aaron. Eu odeio você...
Em vez de me afastar, ele me abraçou mais apertado e eu solucei, sentindo o calor do corpo dele me envolver. Meus braços pararam e meu rosto ficou escondido no peito dele, enquanto a única coisa que eu fazia era chorar.
-Eu sei. -Ele sussurrou perto do meu ouvido. -Você me odeia mais do que qualquer outra coisa. -Afirmou com a voz um pouco trêmula. -Por favor, não chore. Eles não merecem você. Aquelas pessoas... Aquele lugar... -Ele respirou com dificuldade. -Eles não merecem você, Holly.
Algo estava se quebrando dentro de mim enquanto eu ouvia sua voz baixa e trêmula perto. Seus braços me apertavam mais, como se ele estivesse com medo que eu fosse sumir.
-Você me odeia. -Ele pressionou os lábios na minha testa de novo. -Então se me matar for fazê-la feliz... Por favor, me mate agora mesmo, minha doce assassina. Só não chore por eles. Eles não a merecem.
Continua...
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Reino de Fogo e Caos / Vol. 1
FantasyLIVRO1 (TRILOGIA REINO DAS SOMBRAS) Nenhuma lâmina é mais afiada que as adagas de Holly Orion, a assassina cruel do rei dos superiores. Quando criança, ela foi vendida pelo próprio pai e viu sua família ser escravizada pelo grande rei de Andalor. O...