Capítulo 14: Halley.

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13 anos antes...

Halley rabiscava a folha, enquanto estávamos deitadas no chão do quarto que dividíamos. A tempestade caindo sobre o telhado fazia o som ecoar pelas paredes podres.

-São apenas bonecos de palito. -Ela resmungou, empurrando a folha com o desenho para mim.

Halley apesar de ser dois ano mais nova que eu, era como uma cópia minha. A única coisa que nós diferenciava era seus olhos cristalinos.

-Você disse que éramos nós. -Falei automaticamente e ela deu de ombros.

-Mas eu não sei desenhar. Então virou apenas bonecos de palito. -Resmungou de novo e eu soltei uma risada.

-Eu gostei. -Afirmei e ela me encarou. -Vamos dar a mamãe. Aposto que ela vai gostar.

Halley assentiu com a cabeça e eu me levantei, segurando a mão dela e a puxando em direção ao andar de baixo. Descemos as escadas e vimos ela na cozinha.

-Mãe, Halley fez um desenho da nossa família. -Falei, chamando sua atenção e ela se virou para olhar nos duas, com um sorriso carinhoso.

-Me deixe ver, querida. -Pediu e Halley foi até ela, lhe estendendo o papel meio amaçado. Nossa mãe o analisou, com um brilho nos olhos.

-Ah está lindo, filha. -Ela deu um beijo na testa dela e passou a mão pelos cabelos, os colocando atrás da orelha. -Eu amei.

-Mesmo? -Halley questionou em dúvida.

-Mesmo, mesmo. -Nossa mãe sorriu.

O sorriso que havia no rosto dela morreu quando os sinos da cidade começaram a tocar. Ela se levantou, rápido demais e encarou a janela da cozinha.

-O que está acontecendo, mamãe? -Perguntei, puxando Halley para perto de mim. Eu podia escutar o barulho das pessoas correndo do lado de fora.

-Venham, rápido! -Ela puxou nos duas e abriu a porta do armário debaixo da escada, nos colocando lá dentro.

-Mãe? -Halley chamou e ela abriu um sorriso para nós duas. Uma lágrima escorreu pela bochecha dela quando ela se aproximou e depositou um beijo em cada uma de nós.

-Fiquem aqui, está bem? -Pediu. -Voltarei para buscar vocês. Não saiam daí. -Então ela fechou a porta e nos duas ficamos no escuro. Halley se agarrou a mim, com medo da escuridão que nós cercava.

-Holly, o que está acontecendo? -Sussurrou e eu me sentei no chão a puxando para os meus braços.

-Não sei. -A apertei mais contra mim quando escutei um estrondo do lado de fora. -Vai ficar tudo bem, Halley. Prometo a você.

Halley soltou um grito quando algo arrebentou a porta da nossa casa. Passos e mais passos apressados até nossa mãe aparecer de novo. Ela estava de olhos arregalados e com o rosto sujo de cinzas.

-Venham! -Ela puxou Halley do meu colo e a segurou entre os braços. Então meu pai apareceu e me puxou para ele.

-Rápido, Adeline. Eles estão vindo. -Meu pai exclamou, correndo para fora da casa comigo no colo. Minha mãe vinha atrás de nós, com Halley grudada ao colo dela.

-Quem está vindo? -Questionei, olhando para o desespero de todos na rua. -Quem está vindo, papai?

Mas ele não respondeu. Ele continuou correndo pelas ruas. A lama saltando em suas roupas. Algumas casas queimavam e viravam cinzas, enquanto a chuva caia sobre nós.

-Pegue as duas. -Meu pai mandou, a voz trêmula e embargada.

-Eu quero só uma delas. Já tenho crianças demais aqui. -A voz masculina resmungou.

-Mas elas são irmãs. Não podemos separa-las. -Minha mãe interviu.

-Uma delas ou nada feito. A outros barcos aqui. Mandem a outra com outro comerciante. -O homem declarou. -Eu quero a mais velha.

-Pai? -Arregalei os olhos quando mãos firmes me puxaram do colo dele. -O que está acontecendo? Mãe?

Eles não responderam, ficaram observando eu me debater nos braços daquele estranho que me tirava deles. Eu gritava e esperneava, vendo meus pais me olharem com os rostos contorcidos em dor. E Halley, chorando desesperada tentando entender tudo o que estava acontecendo.

-Mãe? -Gritei. -Por favor!

Então os portões da cidade caíram e meus olhos pararam nos homens que entravam sobre cavalos. As roupas de soldados. Feéricos.

-Leve ela agora! -Meu pai gritou e o homem correu comigo no colo.

-Pai! -Estendi a mão para trás, implorando por eles. Halley fez o mesmo, tentando alcançar algo invisível entre nós duas. Eu olhei para minha mãe, vendo ela murmurar um "eu te amo" antes de correr com Halley no colo. -Mãe, por favor! Mãe!

O homem correu comigo até chegar a uma carroça e me jogar em cima dela, no meio de outras crianças. Olhei para a cidade vendo a destruição ficando para trás, enquanto os humanos eram presos. E logo nós estávamos nos afastando daquele lugar.

Eu fui levada até um navio e colocá-da lá junto com as outras crianças. Cinco dias no mar e então chegamos a uma ilha. Era um pântano nojento e fedido. Os homens nós puxaram por decks de madeira até uma caverna no interior de um tronco.

-Não acredito que vai trazer elas pra cá. -Um dos homem comentou.

-Eles me pediram para cuidar delas. E é isso que eu estou fazendo. -Ele resmungou.

-Trazendo-as para o mundo inferior?

-A vida é cruel, quanto antes souberem disso melhor. -Declarou antes de nós empurrar em direção a escuridão da caverna.




Continua...

Reino de Fogo e Caos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora