Capítulo 3: Damas a Bordo.

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Encarei o rei com a adrenalina correndo solta pelo meu corpo.

-Quando? -Perguntei, um pouco rápido demais.

-Não se apresse, Holly. Eu sei que você tem motivos o suficiente para matá-lo. Mas precisamos fazer isso do jeito certo. -O rei argumentou. -Não podemos simplesmente matá-lo. Isso traria problemas para nós. -Ele sorriu. -Por enquanto você irá até lá e fingira ser apenas uma emissária. Freya irá com você.

Concordei com a cabeça, ansiosa. Meus dedos coçavam com a possibilidade de matá-lo. Eu esperei tanto por isso.

-Sim, senhor. -Falei por fim, abrindo um sorriso. -Eu não vou errar.

-Eu sei que não. -Ele sorriu. -Prepare-se. O rei de Andalor já sabe sobre nossos interesses em comércio. Ele espera por vocês duas.

-Quando iremos? -Freya perguntou curiosa.

-Ao anoitecer.

[...]

Girei a adaga na minha mão. Tudo que eu sempre desejei estava prestes a se concretizar.

-Você parece ansiosa. -Kian comentou, enquanto caminhávamos em direção ao cais do porto.

-Esperei muito por isso, Kian. -Afirmei e guardei a adaga. -E está finalmente acontecendo.

-Lembre-se do que meu pai disse. Não se apresse. Temos muitos planos ainda. -Kian afirmou e eu concordei.

-Vou aguardar o sinal. -Prometi.

Parei quando vi o navio que nós esperava. Lorck e Callum já haviam subido a bordo. Iríamos apenas nos quatro. Eu, Freya e os dois. Um grupo pequeno para não levantar suspeitas.

Senti a mão de Kian segurar a minha e me virei para ele.

-Vai sentir saudades de mim? -Questionou e eu sorri.

-Iremos nós ver em breve. -Comentei e ele suspirou.

-Isso soou como um "não". -Ele fez uma careta.

-Não seja dramático. -Dei um beijo rápido nos lábios dele. -Você irá para lá em alguns dias, certo? Esperarei ansiosamente por você.

Ele riu, não acreditando em uma palavra minha.

-Quando nos encontrarmos de novo, Holly, você me pagará caro por isso. -Prometeu e eu balancei a cabeça.

-Estarei esperando, alteza.

Kian se aproximou e Freya o empurrou, me puxando.

-Já se despediram, agora vamos.

-Freya! -Kian resmungou.

-Adeus, maninho. Não vou sentir nem um pouco sua falta. -Ela provocou.

Subi no navio com Freya logo atrás de mim. Callum estendeu a mão para me ajudar e depois a ela.

-Damas a bordo! -O capitão gritou. -A viagem vai começar.

Olhei para o cais e vi Kian acenando para mim. Fiz o mesmo e abri um sorriso fraco.

-Ai, aí. -Freya se escorou no navio e olhou para o cais, que agora ia ficando para trás. -É pra ser uma surpresa. Mas como eu não ligo pra nada que meu irmão faz, te contarei.

-O que? -Questionei.

-Ele vai te pedir em casamento. -Parei de olhar para o cais e me virei pra Freya. Ela soltou uma gargalhada.

-Meu Deus, Holly. Deveria ver a sua cara de susto. -Ela continuou rindo.

-Quando?

-Quando ele for até Andalor, depois que tivermos conquistado o rei. -Ela deu de ombros. -Ele já tem tudo planejado.

Fiquei em silêncio e olhei para o mar.

-Sempre soube que você não o amava.

-Porque está falando isso? -Questionei sem entender.

-Se você o amasse ficaria feliz com a notícia. O que não foi o que aconteceu. -Comentou e então se virou para me encarar. -Vamos lá, Holly. Nenhum dos dois está apaixonado. Mas esse romancezinho de vocês é prático e vantajoso para os dois. Mas não existe amor.

-Obrigada pela sinceridade. -Ironizei.

-Disponha. -Ela sorriu. -Mas então, vai aceitar?

Fiquei em silêncio e Freya curvou a cabeça, sabendo que eu não tinha uma resposta concreta para aquilo.

Ela tinha razão. Eu não estava apaixonada e muito menos ele. Nosso romance começou cedo demais. Era interessante para o rei que eu ficasse com o filho dele e visse versa. Com o tempo isso acabou virando monótono entre nós. Nós acostumamos com isso. Mas casamento?

Kian era muito diferente de mim. Ele é vaidoso e pensa alto. Deseja ser rei mais do que qualquer outra coisa. E eu sei que se eu ousar me casar com ele, ele tentará me controlar.

Eu odeio ser controlada. Eu odeio a possibilidade de não ser livre.

Eu dormi a maior parte da noite. Agora, o sol já estava no ponto mais alto. Encarei a ilha no horizonte, sabendo que estávamos perto do continente de Andalor.

Andalor era um grande continente, dividido em cinco terras diferentes.
As terras reais, onde ficava o castelo e o ponto principal de Andalor.
A Corte Prateada, onde ficavam os feéricos mais ricos do reino.
A Corte Alada, construída no meio de uma floresta de cogumelos, onde moravam as fadas e criaturas mágicas do reino.
A Corte Solstícial, residida por elfos ricos e nada simpáticos.
E por último, as terras humanas. A corte esquecida por todos. Um monte de casas velhas e lama. Repleto de escravos.

Respirei fundo e caminhei em direção ao capitão, parado na ponta do navio, analisando as terras no horizonte.

-Precisamos fazer uma parada antes de chegar até Andalor. -Falei e ele se virou para me encarar.

-Onde, senhorita?

-Terras bruxas. -Ele fez uma careta ao ouvir.

-Holly, me diga por favor que você não está pensando em ir até o mundo inferior. -Freya comentou desanimada.

Olhei para ela vendo a mesma alisando o vestido fino no corpo, enquanto os cabelos caiam por seus ombros.

-Preciso ir até lá. -Afirmei e voltei a olhar para o capitão.

Ele balançou a cabeça e eu vi aquilo como uma confirmação.

-Você não vai?

-Óbvio que não. -Freya respondeu rapidamente. -Leve seus homens com você.

[...]

Pisei no deck de madeira e encarei o pântano que estava em nosso caminho.

-Já comentei o quanto eu odeio essas terras? -Callum falou com um tom de nojo.

-Imagine as bruxas que vivem aqui. -Lorck completou. -Devem ser piores do que qualquer coisa.

-Vamos logo. -Falei, começando a andar pela plataforma de madeira, que se erguia no meio de todo aquele pântano.

Andamos por alguns minutos. A capa atrás de mim deslizava pela madeira suja e molhada. Eu olhava em volta sempre esperando por qualquer problema.

As terras bruxas dessa região eram tecnicamente vazias. Mas ainda existiam algumas bruxas que persistiam em viver aqui. No meio de um pântano mal cheiroso e terrível.

Parei quando encarei a árvore morta no final do caminho. O tronco retorcido se abria em uma caverna para o subterrâneo.

-E lá vamos nós outra vez. -Lorck ironizou.

Nós entramos na caverna e caminhamos pelo túnel escuro até a barreira incolor que delimitava a nossa dimensão com o mundo inferior.

Atravessamos. Lá estava o pior lugar do universo. O ponto central onde todas as dimensões se encontram.

Aqui não existem regras. Não existem leis. O mundo inferior é o pior lugar que alguém vá querer conhecer.



Continua...

Reino de Fogo e Caos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora