Capítulo 11: Magia Mais Sombria.

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Aaron piscou algumas vezes, encarando Alfie um pouco pensativo. Era incomum ver portadores das sombras, ainda mais aqueles capazes de controlar criaturas que tiveram origem da escuridão.

Existem vários portadores pelo mundo. Pessoas com dons de controlar magia, como sombras, luz, fogo, água, ar, terra... Alguns até mesmo sendo capazes de controlar os raios que caem nas tempestades. Em alguns lugares eles levam o nome de elementais, mas para a maioria no mundo inferior, eles são conhecidos como portadores.

Fadas da luz, as fadas da Corte Alada são portadoras da luz. Seres da magia mais pura que existe. Já portadores das sombras são seres da magia mais sombria. Eles podem trazer escuridão para o mundo com apenas um estalar de dedos. São raros e extremamente poderosos. Normalmente não gostam de chamar a atenção. Não é costume ver um andando por aí com um bando de lobos negros. Mas parece que esse não se importa de ser visto.

-Ele atacou alguém? -Aaron questionou depois de alguns segundos.

-Não, senhor. Estava apenas andando pela floresta. Ele convocou os lobos quando tentamos captura-los e os levou para longe da cidade. -Alfie esclareceu.

-Certo... Tudo bem. -Aaron relaxou na cadeira. -Apenas se certifiquem que ele não vai nos causar problemas. Pode deixar que siga seu caminho. -Aaron balançou a mão, mandando Alfie se retirar.

Assim que ficamos sozinhos eu encarei meu prato. Eu não havia tocado em nada. E para falar a verdade, estava morrendo de fome. Eu já não havia almoçado também.

-Coma. Não está envenenada. -Aaron falou, sem humor algum. O encarei, vendo ele se levantar e ajeitar o casaco sobre o corpo. -Até amanhã, Holly.

Então ele se retirou, sem nenhuma explicação para o jeito estranho de agir no último minuto. Assim que fiquei sozinha ataquei o prato de comida na minha frente, sem precisar usar todas as minhas energias com Aaron.

[...]

-Xeque-mate! -Callum falou, movendo a rainha e deixando o rei controlado por Freya na mira. Ele soltou uma risadinha vendo ela revirar os olhos e empurrar o tabuleiro de xadrez.

-Você rouba. Não vale assim. -Acusou e ele colocou a mão no peito.

-Não posso fazer nada se não sabe jogar. -Declarou, enquanto reorganizava as peças. -Lorck, venha jogar. Sua vez de perder para mim.

Caminhei até a varanda da sala, vendo o céu claro de Andalor e as cachoeiras que haviam logo após o fim do castelo. Aaron havia se retirado logo depois do café da manhã, desaparecendo completamente. Alfie nos trouxe para cá e sumiu junto. Fomos chamados para o almoço, e para nossa surpresa, Aaron também não apareceu.

Nenhum feérico se dignou à falar com a gente a não ser o mínimo possível. Fomos da sala de jantares para a sala de estar e vice versa. Aposto que por ordens do próprio diabo, que mesmo longe fez questão de nós deixar presos aqui.

-O que acha que ele está fazendo? -Freya se colocou ao meu lado e eu dei de ombros. -Ele sumiu o dia todo. Acha que está com problemas?

-Espero que sim. -Abri um sorriso divertido. -Nos poupa muita coisa.

-Holly, estou falando sério. -Ela resmungou. -Ainda não me explicou o jantar de ontem. -Olhei para ela, vendo a mesma me encarar com os braços curvados e um olhar desconfiado. -Pode começar a falar.

-Eu já disse, não tem explicação. Ele me chamou para jantar. Só isso. -Ela curvou os olhos e eu lhe direcionei um sorriso totalmente falso.

-Não acredito em nada disso. Você é uma péssima mentirosa. -Freya se aproximou de mim. -Imagine o que Kian vai pensar se souber que Aaron se interessou por você.

-Não vai pensar absolutamente nada! Aaron está fazendo o previsto. -Sibilei. -Estamos conquistando a confiança dele. Não era isso que Kian e seu pai queriam?

Freya ficou em silêncio, apenas me encarando como se pudesse ver muito mais do que eu estava revelando. Por fim ela sorriu, tão falso que qualquer um poderia notar.

-Tudo bem, se diz. -Ela deu de ombros. -Vamos aguardar os próximos passos.

[...]

Abri os olhos sentindo o ar frio da janela entrar. Me encolhi embaixo das cobertas e suspirei. Eu estava bem longe do meu apartamento confortável e quentinho.

Ergui a cabeça e encarei o quarto estranho. As portas da varanda estavam abertas e as curtidas creme balançavam com o vento. Me levantei, com o fino tecido do pijama deslizando pelo meu corpo. Fui até a varanda e fechei as portas. A lua estava brilhante e no seu ponto mais alto.

Peguei a pequena vela que clareava o quarto e sai para o corredor vazio e silencioso. Meus pés descalços tocavam o piso gelado e não emitiam som algum. Andei por aqueles corredores sem ter certeza para onde iria.

Parei quando encontrei um grande quatro na parede. A pintura era de uma família feérica. O rei e a rainha com um menino entre eles. Não precisei de uma bola de cristal para saber que o menino era Aaron. E ele parecia já ter aquele sorriso arrogante e irritante de sempre.

-Bisbilhotando a essa hora da noite? -A vela caiu da minha mão quando meu corpo se sobressaltou com a voz dele atrás de mim.

Me encostei na parece com o peito ofegante, enquanto a vela se apagava assim que tocou o chão. Encarei Aaron, que estava sorrindo muito. O rosto sendo iluminado apenas pela luz da lua. O que deixava ainda mais evidente os olhos avelã claros.

-Tsc, tsc... O que eu faço com você, minha doce assassina? -Questionou para si próprio, enquanto eu cruzava os braços. -É muito feio bisbilhotar.

-Eu só estava dando uma volta. -Rebati, engolindo a raiva que se acumulava nos meus lábios. -Você aparece como um fantasma.

-Talvez eu seja um. -Ele deu de ombros, com um sorriso zombeteiro. Revirei os olhos e observei o que ele tinha em mãos.

-Você lê. -Falei, com minha voz demonstrando o quão surpresa eu estava. Aaron curvou a cabeça, talvez mais surpreso que eu.

-Porque isso a surpreende? Um vilão, como pensa que eu sou, não pode gostar de livros? -Fiquei em silêncio e ele sorriu. -A propósito, tenho uma imensa biblioteca aqui.

-Onde? -Questionei, talvez rápido demais. Algo cintilou nos olhos de Aaron, e eu engoli em seco.

-Gosta de livros, Holly? -Não respondi e ele continuou. -Quer que eu lhe mostre onde fica a biblioteca?

-Não. Posso achá-la sozinha. -Afirmei, passando por ele e encarando o corredor vazio. Aaron soltou uma risada casual e ajeitou o casaco sobre o corpo. Só então percebi que ele não estava com roupas de dormir. Ele seguiu meus olhos, como se soubesse o que eu estava pensando.

-Tive alguns contratempos hoje. Espero que não tenha sentido tando minha falta durante o dia. -Provocou e eu senti vontade de tacar o livro que estava em suas mãos na cabeça dele.

-Pouco me importa o quanto pretende sumir. Espero que tenha uma pilha de problemas que não possa resolver. -Afirmei, sorrindo falsamente para ele.

-Que adorável da sua parte. -Ele balançou a cabeça e começou a andar em direção ao corredor escuro. -Venha, Holly.

Olhei em direção ao corredor que ficava o meu quarto e depois pra onde ele estava indo. Cerrei os punhos e respirei fundo antes de começar a segui-lo em direção a escuridão.




Continua...

Reino de Fogo e Caos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora