Capítulo 18: Olá, Holly Orion.

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Eu comecei a respirar com dificuldade, sentindo a onda de eletricidade que passava por dentro de mim. Aaron estava praticamente implorando por aquilo.

Eu o empurrei com toda força que encontrei dentro de mim. Cai para trás e observei Aaron sentado no chão, com os braços imóveis e seu olhar intenso para mim. Seu peito estava ofegante.

-Nunca mais toque em mim. Nunca mais me abrace ou finja se importar comigo. -Me levantei e me afastei dele até ficar contra a parede. -Eu odeio você, Aaron. Eu o odeio tanto, tanto!

-Holly... -Ele se levantou do chão e deu um passo na minha direção.

-Fique longe de mim! -Grunhi, com o rosto vermelho de raiva. -Você acabou com a minha vida! -Aaron encarou meu rosto molhado pelas lágrimas. -Eu vou matá-lo na hora certa. E pode ter certeza, ficarei feliz com isso. Ficarei feliz sim, por ter seu sangue nas minha mãos.

Aaron piscou algumas vezes. Seu rosto tremeu em algo que eu não sabia identificar. Ele virou a volta e saiu do quarto. A porta se fechou e eu desabei contra o chão, sentindo meu peito se rachando em pedaços. Algo dentro de mim se revirava pelo contato íntimo que ele tinha tido comigo.

Não importava o que acontecesse. Aaron morreria um dia.

[...]

-Você ficou trancada no quarto quase a tarde toda. -Freya comentou, me analisando com curiosidade, enquanto andávamos por uma das pontes do castelo que passava exatamente por cima de uma das cachoeiras. -Foi tão ruim assim?

-Não quero falar sobre isso. -Falei automaticamente e Freya suspirou.

-Eu estou preocupada com você, Holly. Você está estranha desde que chegamos. E Aaron sumiu o restante do dia hoje. -Afirmou e eu senti vontade de rir.

-Que ele suma para sempre então. -Declarei e Freya balanço a cabeça desanimada. -Eu não me importo.

-Você pode se abrir comigo, Holly. Pode confiar em mim. Sabe disso, não sabe? —Eu olhei para Freya e ela me observava preocupada. -Eu sei que não teve uma vida fácil na infância. Que as terras humanas eram seu lar e seus pais, sua única família morreu. Mas...

-Chega, Freya. Por favor me deixe em paz. -Resmunguei. -Eu não quero me abrir como se fôssemos melhores amigas. Não quero um ombro amigo para chorar. Agradeço, mas quero ficar sozinha!

Freya piscou algumas vezes e eu vi um lampejo de dor passar pelos seus olhos. Ela balançou a cabeça desistindo.

-Vamos nos encontrar com os lideres das cortes hoje a noite. -Freya se afastou, quando parei para observar as águas que passavam por baixo da ponte. -Aaron nos avisou durante o café. Acho que deveria saber para poder se preparar.

Fiquei em silêncio e mal olhei para Freya quando ela se afastou com a cabeça baixa. Eu não me importava com os líderes das cortes. Não me importava com fingimentos mais. Não fazia mais sentido.

Três dias aqui foram o suficiente para eu perceber o quanto Aaron é pior que todos os meus pesadelos. A visita as terras humanas e seu jeito de me tratar só me deixavam com mais raiva.

Voltei a caminhar, recebendo o olhar torto de muitos feéricos que passavam. Ignorei todos eles e retornei ao castelo indo em direção ao meu quarto. Fechei a porta e encarei o local pouco aconchegante.

Os livros que eu havia jogado em Aaron ainda estavam espalhados pelo chão. Juntei cada um dele sentindo pena dos pobres livros. Não tinham culpa por nada. Os coloquei em cima da cama e só então noite o embrulho prateado solto em cima dela, com um grande laço vermelho.

Caminhei até o lado da cama e o peguei. Ele tinha o formato retangular e parecia ser uma fina caixa. Engoli em seco e retirei o laço, abrindo o embrulho com os dedos trêmulos. Puxei a caixa de madeira e abri a tampa rapidamente, com a curiosidade batendo.

Franzi a testa quando encontrei uma adaga dentro dela. A lâmina chegava a brilhar de tão afiada que estava. Eu podia ver o reflexo dos meus olhos. O cabo era muito bem desenhado com algumas pedras incrustadas.

-Aaron... -Peguei a adaga e desejei estar no mesmo local que ele. -Isso só pode ser uma grande piada com a minha cara! -Exclamei, pegando a caixa e o embrulho, os jogando pelo quarto em meio a uma onda de raiva.

Caminhei até a varanda e fiz um movimento de jogar a adaga para longe, em direção a água. Parei e encarei ela nas minhas mãos. Voltei para dentro e enfiei a adaga no meio das roupas que estavam na mala.

Parei quando vi outra coisa completamente estranha. Havia uma pequena agenda no meio das minhas roupas. A capa era grossa e lisa, com um lápis preso a lateral. Não havia nada escrito na mesma que dissesse a quem ela pertencia.

Puxei ela e me sentei no chão, cruzando as pernas e abrindo a agenda. Não havia absolutamente nada. As páginas estavam completamente vazias. Sem uma mísera palavra ou nome.

Eu não sabia aonde Aaron queria chegar com aquilo. Primeiro a adaga e depois a agenda. Para mim não fazia o mínimo sentido. Abri a agenda de novo e deixei que as folhas em branco rodassem pelos meus dedos. Nada. Absolutamente nada!

Suspirei e fechei ela, jogando em cima da cama e esfregando o rosto com as mãos. Me levantei e me deitei com a cabeça no travesseiro. Puxei a adaga debaixo do travesseiro e deslizei o dedo pela lâmina. Uma lâmina de verdade. Não algo fácil de se partir ao meio.

Meus olhos se fecharam e eu adormeci, segurando a lâmina entre meus dedos. E eu sonhei com a única pessoa que importava de verdade, Halley. Eu esperava que Mackenzie a encontrasse e a trouxesse de volta. Então não haveria mais assassinatos para o rei. Não haveria mais vida servindo a realeza.

Meu plano nunca foi me casar com Kian e passar o resto da vida matando pessoas. Eu queria encontrá-la e viver de verdade, como uma família. E se eu a encontrasse, faria de tudo para que tivéssemos uma vida felizes juntas. Como uma família que deveríamos ter sido. E nunca mais deixaria que nem Aaron ou qualquer rei atrapalhasse isso.

Quando abri meus olhos de novo, meus dedos estavam manchados de vermelho. Durante o sono eu apertei a lâmina de uma forma que ela cortou levemente a palma da minha mão. Soltei a adaga e me sentei na cama, sentindo o cheiro de sangue no meu nariz.

Me levantei pronta para ir até o banheiro, mas parei quando noite que a agenda, que eu havia deixado fechada, estava aberta na primeira página. Me aproximei de novo na cama e encarei a folha que antes estava em branco.

Meu sangue gelou quando eu percebi que havia algo sendo escrito no início da página. Meus olhos correram pelas palavras sendo formadas.

"Olá, Holly Orion."



Continua...

Reino de Fogo e Caos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora