Capítulo 13: Terras Humanas.

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-Porque diabos eu não posso ir junto? -Freya questionou pela vigésima vez e eu revirei os olhos, ainda andando pelo corredor em direção a saída.

-Eu quero ir sozinha. -Afirmei.

-Ainda não me explicou como consegui que ele a deixasse sair. -Freya resmungou e eu parei de andar, me virando para ela sem paciência.

-Você já percebeu que espera explicações de tudo, como uma criança em crescimento? -Ironizei e ela franziu a testa ofendida. -Estamos todos aqui por um motivo, Freya. Estou fazendo a minha parte. Mas e você?

Ela piscou algumas vezes, como se a pergunta a tivesse pego de surpresa. Eu soltei uma risada e voltei a andar em direção a saída.

-Espero que saiba o que está fazendo, Holly. -Ela falou, agora sem me seguir. -Sabe como Kian é.

Sim, eu sabia. Ele era possessivo e controlador. Mas não havia nada para ser controlado em mim. E ele jamais conseguiria isso. Entrei na carruagem e deixei todo o resto para trás.

[...]

Engoli em seco quando a carruagem parou depois de longos minutos. A porta se abriu e a luz de um céu nublado e chuvoso entrou. Desci com a ajuda do cocheiro. Estávamos do lado de fora dos portões de madeira das terras humanas.

-A carruagem não pode entrar lá, senhorita. Terá que ir a pé. Esperarei aqui mesmo. -O rapaz afirmou e eu assenti.

Coloquei a capa sobre os cabelos, tentando esconder parte do meu rosto e comecei a andar em direção aos portões de madeira velha. Eles eram guardados por vários grupos de feéricos armados com espadas muito bem afiadas. Parei na frente do portão e encarei os olhos violetas do homem que estava do outro lado.

-Tenho autorização do rei para entrar. -Afirmei e ele me analisou, antes de abrir o pequeno portão e me deixar ver o lado de dentro. Entrei, com a respiração um pouco pesada.

O chão era feito de pedras e um pouco de lama. As casas eram de madeira velha e estavam remendadas na maior parte. Haviam pontes de madeira passando entre os andares superiores das casas. Pontes quase caindo aos pedaços. O céu era nublado todos os dias do ano. Eles jamais viam o sol. Apenas tempestades.

Comecei a andar pelas ruas, vendo os humanos andando com trapos que chamavam de roupas

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Comecei a andar pelas ruas, vendo os humanos andando com trapos que chamavam de roupas. A pele pálida e os corpos magros. Todos trabalhando para o grande e perverso rei de Andalor. Eles andavam com baldes, cestas e tudo que se podia imaginar ser pesado para um corpo desnutrido.

Parei de andar e observei as crianças que brincavam na rua, no meio da lama e da sujeira. Algo se revirou dentro de mim e meus olhos arderam com a subida vontade de chorar.

Haviam feéricos andando entre eles. Bem vestidos e prontos para matar qualquer um que saísse da linha. Cerrei os punhos e odiei Aaron muito mais por isso. Treze anos e nada mudou. Treze anos e ele ainda trata eles como animais. Minha espécie.

Entrei nas ruas mais vazias e passei pelo meio estreito das casas, vendo o interior vazio e mal organizado. Meus sapatos já estavam completamente sujos de lama, assim como a parte da capa que pegava no chão.

Parei em frente a uma porta de madeira antiga e velha. A placa em cima da porta ainda era a mesma de quando eu morava aqui. Só que agora ela tinha mais pregos e remendos, e estava torta.

Ferreiro.

Bati na porta. Uma, duas vezes até escutar os passos pesados e apressados dentro dela. A porta foi aberta rapidamente e um senhor de cabelos brancos apareceu, ajeitando a camisa amarrotada dentro da calça rasgada e suja de cinzas.

-Senhor Cosmos? -Questionei e ele ergueu os olhos castanhos até mim. Ele me analisou dos pés a cabeça e sua testa se curvou, no que pareceu confusão e supresa.

-Adeline? -Questionou, quase se engasgando com o ar ao falar o nome.

Eu dei um passo para trás, quando aquele nome me atingiu em cheio como a lâmina afiada de uma adaga. Meus dedos se fecharam mais ainda.

-Não... -Olhei em volta, vendo se havia alguém na rua. -Filha dela, na verdade. -Ele piscou, como se tivesse ficado mais confuso ainda. -Sou eu, Holly.

Como se fosse possível, o rosto dele ficou mais pálido ainda. Ele parecia olhar para mim e ver um fantasma. E talvez naquele momento eu fosse.

-Ho... Holly? -Ele se empertigou. -Ah meu Deus, eu achei que você estivesse morta! -Ele abriu mais a porta e estendeu a mão. -Entre, criança, por favor.

Entrei na oficina, vendo as chamas acessas de uma lareira empoeirada e os objetos de trabalho dele espalhados por todo lado.

-O que faz aqui? Como entrou aqui? -Ele questionou e eu pisquei algumas vezes, me virando para ele com o coração completamente acelerado.

-Eles estão vivos? -Questionei e observei ele se recostar em um sofá rasgado e empoeirado. Antes mesmo de ele negar com a cabeça, eu já sabia a resposta.

-Morreram três anos depois que você se foi. -Afirmou com a voz baixa. -Sinto muito. Os primeiros anos aqui não foram nada fáceis.

Virei o rosto para que ele não visse a lágrima silenciosa que escorria pela minha bochecha. Me virei e fiquei encarando as chamas da lareira.

-O que aconteceu com você, afinal?

-Depois que meu pai me vendeu eu fui parar no mundo inferior. Fiquei lá ate meus 10 anos. Então o rei dos superiores apareceu por lá. Ele levou a maioria das crianças presas naquele lugar e lhes deu uma vida digna. Eu era uma dessas crianças. -Esclareci. -Trabalho para ele hoje em dia. Estou em uma missão oficial do reino Superior.

-Que missão? -Questionou e eu fiquei em silêncio. Minhas mãos se fecharam em volta do escoro de uma cadeira velha.

-Não estou aqui para falar sobre isso, senhor Cosmos. -Afirmei com a voz trêmula. -Preciso saber o que aconteceu.

-Holly... -Eu me virei para ele, os olhos vermelhos e repletos de lágrimas.

-Eu sempre soube que eles já teriam partido. Nunca tive esperança de encontrá-los vivos. -Mais lágrimas caíram dos meus olhos. -Eu vim até aqui por causa de Halley. -Sussurrei. -Minha irmã.


Continua...

Reino de Fogo e Caos / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora