Meus olhos se abriram quando eu senti algo serpentear pelas minhas pernas e braços. Encarei a cela escura, estava noite ainda ou eu havia dormindo o dia todo.
Eu encarei a pequena janela quadrada na parede em cima de mim, por onde sombras entravam e se esgueiravam pelas paredes até onde eu estava. Eu abaixei os olhos, vendo elas circularem minhas pernas e braços em uma carícia lenta.
Por um segundo eu podia jurar que estava ouvindo-as cantar. Uma canção que cobria os gritos e uivos do lado de fora. Mais havia outra coisa lá no meio da noite. Algo que fazia todos os pelos do meu corpos se eriçarem.
Eu podia ouvir o grunhido alto e as garras que se arrastavam no chão. E os gritos de pavor eram diferentes de um lobo para aquilo. Me encolhi no chão, sentindo meus músculos gemerem em reprovação.
Meus braços pareciam moles e sem vida, já que eu não conseguia movê-los. Então eu escutei a canção ficar mais alta. Meus olhos foram para o corredor, onde eu ouvi os gritos dos guardas e os estalos dos seus ossos se quebrando.
Eu encarei a criatura que se aproximou e saltou sobre o guarda que corria ali e ele caiu na frente das minhas grades. Eu vi o pavor no seu rosto quando ele viu o que estava lhe atacando.
A criatura ela larga e esguia. O corpo sem pelos e os olhos arredondados e brancos. Sua boca era repleta de dentes grandes e afiados. Os braços longos e com garras que rangiam sempre que tocavam o chão.
Rastejadores eram uma das piores criaturas das sombras que existiam. Eles eram rápidos e verdadeiros carniceiros. Se você um dia pudesse escolher entre eles ou um lobo, deveria escolher um lobo. Eles pelo menos te darão uma morte rápida, enquanto os rastejadores farão tudo na maior lentidão possível. Eles parecem gostar de ver a presa sofrer.
A criatura estava em cima do guarda morto, dilacerando tudo que tocava com os dentes. Eu escutei a música ficar mais alta e reconheci a voz na hora.
Os passos chegaram até a poça de sangue que se espalhava e ele desviou do corpo morto e da criatura, enquanto cantarolava algo baixinho e olhava para o molho de chaves na mão.
-I wake up to the sounds of the silence that allows... -Mackenzie colocou a chave na trava e a abriu, enquanto a música ecoava baixinho pelas paredes. -For my mind to run around, with my ear up to the ground...
Então ele abriu as grades e entrou na cela, voltando a olhar para o molho de chaves
-I'm searching to behold the stories that are told... -Mackenzie se ajoelhou ao meu lado e eu encarei o rosto dele, tão calmo e sereno. -When my back is to the world that was smiling when I turned...
-Mac... -Tentei falar e ele me olhou de esgueira, antes de continuar tentando abrir as correntes que me prendiam.
-Tell you you're the greatest... But once you turn, they hate us... -Ele parou de cantar quando olhou para meu braço e o nome de Kian escrito nele. Mackenzie curvou os olhos e abriu as correntes.
Ele trouxe a mão para baixo das minhas pernas e a outra para minhas costas, então me ergueu entre seus braços, enquanto eu sentia meu corpo dormente.
-Ícaro. -Falei, quando ele começou a me levar em direção a saída, para onde a criatura esperava.
-Eu já comentei com você que as pessoas costumam me chamar pelo meu sobrenome? -Questionou e eu encostei minha cabeça no ombro dele.
-Eu gosto de Ícaro. -Falei, quase sem voz e vi ele sorrir.
-Tudo bem. Você pode me chamar de Ícaro então. -Afirmou e nós começamos a andar pelos corredores repletos de sombras que ele criava.
-O que era isso que estava cantando?
-Uma música que ouvi em uma das dimensões que eu passei. -Esclareceu e eu murmurei um "eu gosto" e então ele voltou a cantar. -Oh, the misery...
Everybody wants to be my enemy
Spare the sympathy
Everybody wants to be my enemy...[...]
Abri os olhos sentindo um pano quente sendo colocado na minha testa e vi Eris. Ele abriu um sorriso fraco.
-Como se sente? -Questionou e eu me sentei no sofá da casa dele, vendo Mackenzie sentado na poltrona de olhos fechados e com a cabeça escorada.
-Eu estou bem. -Menti e ele se sentou ao meu lado. Puxei a manta que me cobria, me encolhendo embaixo dela.
-Sinto muito pelo que aconteceu. -Eris falou e eu assenti olhando para um ponto vazio.
-Como sabia o que estava acontecendo? Foi Isaac? -Questionei a Mackenzie e ele apontou para algo atrás de mim. Me virei para onde a cozinha ficava e vi as duas figuras que se aproximavam. -Vocês dois aqui?
-A gente não pretendia ficar do lado do Kian. Ele é meio doído. -Callum afirmou ao lado de Lorck. -Pretendíamos voltar ao reino de Andalor e falar com você. Mas não deu tempo.
-Soubemos do que Kian pretendia. Mackenzie apareceu lá atrás de você e nós contamos a ele. -Lorck completou. -Então ele nos mandou pra cá.
-Não que fosse necessário vocês terem contado. -Eu levei um susto ao ouvir a voz feminina atrás de mim e então a figura de Isaac apareceu. -Eu já ia avisa-lo que Holly precisava de ajuda. Vocês foram dois intrometidos isso sim.
-Desde quando você é amiga de criaturas das sombras? Sabe isso é estranho. -Callum afirmou e eu voltei a olhar para Mackenzie, vendo que agora ele me encarava.
-O que quer fazer? -Ele questionou, como se estivesse lendo minha mente.
-Eu quero falar com Adya. -Afirmei e me coloquei de pé com certa dificuldade. -Vou trazer Aaron de volta. Nem que precise entrar no inferno pra isso.
Epílogo...
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Reino de Fogo e Caos / Vol. 1
FantasyLIVRO1 (TRILOGIA REINO DAS SOMBRAS) Nenhuma lâmina é mais afiada que as adagas de Holly Orion, a assassina cruel do rei dos superiores. Quando criança, ela foi vendida pelo próprio pai e viu sua família ser escravizada pelo grande rei de Andalor. O...