Lucas
Estou surpreso ao notar que já amanheceu. Coço a cabeça e me viro de lado, novamente reparando a ausência de uma revista. É uma merda, mas ontem o meu pai me prometeu que iremos comprar um novo exemplar. Levando em consideração o quanto sou ansioso, acho que eu deveria ter demorado horas para conseguir dormir, mas foi tão rápido. Que estranho. Eu devo estar me adaptando ao diferente. Calço os pés puxo a persiana da minha janela e reparo bem nas casas dos vizinhos. Por incrível que pareça eu não fiz isso no dia anterior. Estava mais preocupado com a mudança em si. Mas vejo que são ótimas casas também. Algumas menores, mas ainda legais.
Abro meu guarda-roupas e pego as típicas roupas, ou seja, uma cueca, uma calça jeans e uma camiseta listrada. Estou escolhendo um par de meias quando meu pai me chama, sem entrar no quarto:
— Já está acordado, Lucas?
— Sim, pai. Um momento. — bocejo e pego minhas roupas. Destranco a porta e sorrio ao vê-lo. — Bom dia para o melhor pai do mundo.
Ele começa a rir.
— Moleque danado. Bom dia, filho. Vá tomar seu banho e desça para tomarmos café da manhã.
— Certo.
Nos despedimos e percebo que estou apertado, por isso corro para o banheiro.
✡
Estamos sentados à mesa enquanto Luís ainda dorme solenemente. Minha mãe preparou um bolo de fubá muito saboroso e comprou pães na padaria do bairro. Meu pai assou ovos e linguiças. Desci a tempo de ferver o leite e colocá-lo em uma jarra transparente.
— A vizinhança daqui é bem acolhedora, querido. — minha mãe diz ao meu pai. — Quase todos que vi me cumprimentaram agora pela manhã.
— Isso é ótimo, querida. Então, — ele bebe um pouco do seu café fumegante. — eu me informei e descobri que há uma banca de revistas aqui perto.
Sinto uma explosão dentro de mim e começo a ficar ansioso.
— Ah, que bom. Eu já estava ficando receoso. — não resisto e parto outra fatia de bolo de fubá. — Fiquei com medo de não conseguir encontrar o volume sete aqui por perto.
— É muito feio falar de boa cheia, rapaz! — minha mãe repreende e eu peço desculpas apenas sussurrando.
— Não se preocupe, filho. Se não encontrarmos aqui eu irei telefonar para algum amigo de nossa antiga cidade. Sabemos que lá existem milhares.
Sorrio. É verdade.
Eu me levanto e lavo as mãos. Ouvimos o choro de Luís e subo as escadas numa pressa tamanha. Abro a porta de seu quarto e o tiro do berço. Sua roupa azul-clara está um pouco amassada. Ponho a chupeta em sua boca e saímos de seu quarto. Desço as escadas lentamente para não agitá-lo. Minha mãe ainda está à mesa quando o pega no colo e lhe dá de mamar.
Volto a subir as escadas, já um pouco sem fôlego e abro minha gaveta compartilhada entre meias e cuecas. Escolho o par de meias roxas e pego um par de sapatos qualquer. Após amarrar os cadarços eu olho novamente para a minha estante só para não me confundir com o volume que sumiu.
Meu pai grita por mim do lado de fora e estufo o peito, falando comigo mesmo:
— Vamos lá, Lucas! Com certeza você irá encontrar o volume.
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Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...