Lucas
Abro a porta de meu quarto e acendo a luz. Ponho meus presentes em cima da pequena estante com minhas revistas e peço para que todos entrem.
Mari entra por último, trazendo um prato descartável com alguns doces e salgados que minha mãe preparou. Sorrio para ela.
— Caramba! — Aninha observa a colcha e a persiana do meu quarto, que são de tecidos idênticos. — Que quarto lindo!
Eu agradeço com um meneio de cabeça.
— De fato. Olhem quantas revistas interessantes. — Jungwon aponta para meus exemplares e eu assunto, permitindo que ele pegue qualquer uma.
— Nós nos conhecemos quando Lucas foi com o pai à banca da minha mãe. Por sorte havia o volume que ele procurava. — Mari revela ao aproximar-se um pouco mais.
— Sim, é verdade. — eu confirmo. — Pouco tempo depois Mari me levou para dar uma volta e conhecer o bairro. Foi muito bom.
Ela aperta minha mão com força e eu gosto disso.
Camila apenas sorri e percebo que Lily aparenta estar um pouco confusa ou, se não for coisa da minha cabeça, meio surpresa demais.
— Lucas, você não é bolsista, certo? — ela me pergunta após sentar-se em uma cadeira que eu deixei ali enquanto fazia anotações para a aula de álgebra.
— Ei! — Mari cruza os braços em sua frente, mas Lily não muda a postura.
— Não. Eu não sabia que havia alunos bolsistas na escola. — confesso e de repente percebo que a escola onde estudamos é particular.
Eu jamais perguntaria para Mari se ela possui condições para pagar as mensalidades. Nunca passou pela minha cabeça que os cinco são bolsistas e eu, um aluno que já fez o pagamento de uma mensalidade. Na verdade o meu pai fez os pagamentos da matrícula e primeira mensalidade quando me contou a respeito da nova escola, poucos dias após termos chegado de mudança.
— Eu não sabia disso. Não sabia que vocês conseguiram bolsas de estudo. Eu sequer sabia que aquela escola é particular.
Mari encara Lily e logo me conforta.
— Isso não é um problema, Lucas. Estudamos juntos e isso não muda nada. Ter uma condição melhor não torna você superior a nenhum de nós. Não é, pessoal? — Mari pergunta aos nossos colegas.
Jungwon assente da sua maneira característica: como se estivesse fazendo uma reverência. Hábito comum na Coreia Do Sul. Camila e Aninha também assentem e me entregam doces sorrisos. E Lily... bom o sorriso dela não é contagiante e me detesto por perceber isso.
— Não é um problema, realmente. Lucas, está tudo bem. Não quis ser insensata. Ainda mais no dia do seu aniversário. Eu sinto muito. Espero que não tenha me entendido mal. — Lily me abraça rapidamente e consigo afagar suas costas por alguns instantes.
— Sem problemas, Lily. Não estou chateado.
Saímos de dentro de meu quarto e meus pais e a mãe de Mari, com meu irmãozinho nos braços, estão reunidos ao redor da mesa com o bolo. Colocamos nossos chapéus e me sinto um garoto de quatro anos. É uma bela sensação.
Trago Mari para perto de mim e meu pai acende a vela com um isqueiro. Com as luzes já apagadas, todos cantam parabéns para mim e eu me emociono. Porque tudo mudou desde que chegamos aqui. Já não penso tanto no que me aconteceu no final do ano passado.
Olho para Mari enquanto batemos palmas e ela dá uma piscadela em minha direção. Ela está tão linda. Seu vestido preto parece ter sido criado por anjos em uma noite de luar. Nossos amigos estão espalhados ao redor da mesa. A câmera fotográfica de minha mãe está pronta para registrar este momento.
Apago a vela com um assopro. Fecho os olhos e faço um pedido. Um pedido que eu tenho certeza que será realizado em breve.
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Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...