Marina
Faltam alguns minutos para o término da última aula, a de Matemática. Estou sentada na mesma carteira de sempre: na terceira, penúltimo lugar. Lucas está sentado na quarta carteira, então Camila, Jungwon e Aninha estão ao nosso redor.
É tão bom ver que todos estão se dando bem com Lucas e ele está tão radiante, tão contente.
O professor apaga todo o conteúdo da lousa e o sinal toca, trazendo o fim do primeiro dia de aula. Olho para Lucas e o observo guardar todo o seu material escolar. Bobo, ele comprou mais canetas que o necessário. Infelizmente caneta é um objeto que quase sempre some e começa a falhar, então ele está mais preparado que eu, que apenas comprei quatro. Mamãe não está com tanto dinheiro e eu também não quis que meus materiais custassem caro. Agora com a volta das aulas o movimento na banca irá aumentar, eu tenho certeza. Ainda estamos no verão e nessa época nós vendemos bastantes picolés.
De pé, ajeito as alças da mochila e Camila sorri para mim.
— E então, como vão suas aulas de canto? — pergunto, segurando a mão de Lucas, que sorri.
— Vão bem, amiga. Faz duas semanas que retornei e tenho tido três aulas semanais. Meu timbre está cada vez melhor. — ela responde e seus cabelos cacheados trazem volume ao seu rosto e sua pele linda. O batom vermelho realça seus lábios.
— Ei, você é cantora? — Lucas parece abismado e eu começo a rir.
— Camila nasceu com o dom de cantar, cara. Você precisa ouvi-la. — Aninha responde.
— Vocês me deixam sem jeito. Eu faço aulas de canto, mas muitas pessoas amam a minha voz. — Camila responde e apoia um dos braços nos ombros de Lily, que acrescenta:
— Canta algo para ele, Mila. Por favor.
Jungwon e Aninha reforçam o pedido e Camila respira fundo.
— "Agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês..." — a música de Chico Buarque e Nara Leão combina com com Camila e Lucas é primeiro a bater palmas.
— Vocês são muito legais e talentosos! Mari não me contou a respeito de toda as características de cada um. Não foi, Mari?
Eu me empertigo e, um pouco acanhada, sorrio.
— Eu quis que você descobrisse tudo com seus próprios sentidos, meu amor.
Assim que termino de falar reparo que os quatro olham para mim e Lucas e começo a sorrir novamente. É a primeira vez que eles me veem apaixonada e sei que não estou aí indo como uma desesperada. É que não quero fingir ou parar de demonstrar o que sinto pelo meu namorado.
Lucas beija a minha bochecha e todos aplaudem como se fôssemos atores em cima de um palco e estivéssemos quebrando a quarta parede.
— Fofos! Vamos logo antes que as tias apareçam. Gosto delas e não quero que elas limpem a sala enquanto ainda estamos aqui. — Jungwon diz e todos saímos de dentro da sala.
Como antes, todos os alunos que estão no pátio olham para nós, mas desta vez há um novo membro em nosso grupo. Somos tão diferentes e únicos aos nossos jeitos. E isso é bom. Bom demais. Valeu a pena ficarmos quase dois meses afastados. Valeu a pena ter deixado Lucas entrar em minha vida.
— Já que ainda há dever de casa, onde iremos neste final de semana? — Lily pergunta enquanto caminhamos para fora da escola.
Sempre gostamos de sair uma vez por semana. Agora Lucas seria incluído.
— Que tal para a casa de jogos? — eu proponho.
— Boa ideia. — Camila e Aninha dizem em uníssono.
Jungwon assente e Lily pula de alegria como uma criança.
— É muito longe? Não sei onde fica. — Lucas revela, meio acanhado.
— Fica a uns vinte minutos da rua onde moramos, Lucas. Peça aos seus pais para que deixem você nos acompanhar no sábado, certo? — respondo, já ansiosa.
— Eles deixarão, tenho certeza, Mari.
Então nós dois nos despedimos de nossos amigos que moram em outros quarteirões e seguimos caminhando, de mãos dadas e felizes.
O melhor primeiro dia de aula de todos os tempos.
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Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...