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Lucas

Minhas pernas tremem, mas acho que de um jeito bom. Há algum tipo de tremedeira benéfica? Vejo diversos jovens das mais variadas etnias e isso me acalma. Novamente olho para Mari e ela sorri para mim com os olhos fechados. Amo quando ela faz isso, é tão angelical.

— Ei! — uma garota gorda e de touca alaranjada aproxima-se de nós e Mari grita ao vê-la. — Sua boboca!

As duas se abraçam e logo Mari me apresenta:

— Lily, este é o Lucas, meu vizinho e namorado. — Mari mexe as unhas como se fosse um sinal de cumplicidade e Lily me abraça.

— O Famoso Lucas! Marina falou muito sobre você. Olá.

Sem jeito, digo:

— Oi... Mari também me falou sobre você. Estava ansioso para conhecê-la.

Lily estende a mão na direção de alguns alunos e eles correm até nós como se fossem leões e nós três, antílopes.

Um garoto asiático, uma garota negra e uma garota alta demais me olham como se já me conhecessem. Fico um pouco sem jeito novamente.

— Annyeonghaseyo. Eu sou o Shin Jungwon. Prazer em conhecê-lo. — ele estende a mão até mim e eu a aperto com delicadeza.

Mari apenas observa tudo, calada e ao mesmo tempo satisfeita.

— Oi. Eu sou a Camila. Prazer em conhecer você, Lucas. — diz a garota negra. Ela me abraça e eu retribuo.

— Olá. E eu sou a Ana. Pode me chamar de Aninha. Não repare na minha altura. Sou jogadora de vôlei. Ainda não sou profissional.

Nos abraçamos e Mari volta a falar:

— Como é bom estar com vocês novamente. Não via a hora de Lucas conhecer cada um de vocês.

Eu me aproximo dela e seguro a sua mão. Não em um caso de submissão, mas de agradecimento. Estou me sentindo muito acolhido. Cada um é diferente à sua maneira e isso me faz perceber que minha presença aqui será muito especial.

Tivemos algumas aulas e agora estamos no refeitório. Mari, Lily, Camila e Aninha levantam-se e vão banheiro retocar suas maquiagens. Sentado ao lado de Jungwon eu reparo em seus traços e deduzo que ele é coreano.

— Está gostando da escola? — ele me pergunta após engolir um pedaço generoso de seu sanduíche de atum.

— Sim. Até então apenas tenho elogios. — respondo, olhando ao redor do local.

Há uma fila imensa em frente à cantina. Vejo vários alunos bebendo Coca-Cola e comendo coxinhas e biscoitos recheados. Minha mãe preparou um delicioso bolo de ameixa e eu trouxe duas fatias, mas a pequena crise de ansiedade que tive mais cedo levou a minha fome embora.

— Estou feliz por vocês dois. Marina merece ser feliz após o pai dela ter sumido. Sabe, Lucas, ela é uma garota muito durona, mas é frágil como este guardanapo. — Jungwon mostra o guardanapo que envolvia o seu sanduíche e eu começo a rir. — Mas é sério, cara.

— Eu sei. Nós temos encontrado muito conforto um no outro. Tem sido incrível.

Ele sorri para mim e então noto um recipiente de isopor na mesa. Ele retira a tampa e um aroma saboroso de carne cozida e legumes ecoa junto da fumaça.

É lámen.

Ele põe a mão no bolso esquerdo e vejo um par daqueles pauzinhos.

— Já comeu com algum hashi?

— Algumas vezes, mas sem sucesso. Já fui a restaurantes de comida japonesa e chinesa. Não sei manuseá-los corretamente. A propósito, você é coreano, certo?

— Sim, eu sou. Meus pais fugiram da Coreia Do Sul devido às mudanças geopolíticas. Chegamos aqui quando eu tinha três anos de idade.

— Que história! — eu digo e ele assente.

Observo o modo como ele segura os hashis e tento memorizar para futuras oportunidades.

Após engolir uma quantidade do macarrão e um pedaço de carne, Jungwon me pergunta:

— Quer provar, Lucas?

Eu aceito. Então as meninas retornam e todos nós comemos um pouco do lámen e as fatias do bolo de ameixa.

Que maravilha de primeiro dia!

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora