Lucas
Entro dentro de casa e o aroma de comida caseira me transporta até a cozinha. Minha mãe beija minha testa assim que me vê. Luís está dando seus primeiros passos em um tapete infantil e rechonchudo como o pelo de um gato. Brinco rapidamente com o seu chocalho e ele sorri para mim.
— Vou tomar banho para almoçar. Até daqui a pouco, mãe.
— Até, meu filho. Não demore. Passe talco nos pés.
Rindo, subo as escadas. Meu coração parece prestes a parar de bater a cada vez que sinto o envelope em minhas mãos.
Meu pai sai de dentro do banheiro assim que eu tiro meus sapatos.
— Olá, Coroa.
— Olá. Que envelope é esse?
— Mari me deu.
Meu pai sorri e toca em minha cabeça, fazendo um cafuné.
Entro em meu quarto e, para criar um certo suspense, pego uma barra de chocolate que deixei em cima da cama e dou uma mordida após tirar toda a embalagem. Chocolate ao leite.
Não como toda a barra porque preciso almoçar. Lavo as mãos rapidamente na pia do banheiro e as enxugo com minha toalha listrada.
De volta ao quarto, abro o envelope. Há duas folhas de papel. A primeira é uma nova caricatura que Mari desenhou. Começo a gargalhar porque esta é idêntica à primeira e ao mesmo tempo me vejo tão diferente. Ela ainda fez questão de marcar o topo com as marcas de seus lábios com batom. Os mesmos lábios que eu adorava.
Pego a outra folha e me deparo com uma carta.
Querido Lucas,
Hoje é o seu aniversário e estou escrevendo esta carta alguns minutos antes de ir me arrumar para ir até a sua casa com minha mãe e nossos amigos. Como seus pais estão? Saudades deles. Meu amor, infelizmente temos a mesma idade a partir de agora, não é? Mas eu ainda pareço ser mais velha, eu sei. Brincadeiras a parte, estou contente por poder comemorar seu aniversário, o primeiro de muitos que iremos partilhar. Se vocês tivessem chegado algumas semanas antes, teriam comemorado o meu, mas tudo bem. Ainda teremos oportunidades. Lucas, obrigada por sempre me encorajar, por me fazer acreditar no amor. Eu não estava disposta a me apaixonar por causa do sumiço de meu pai, mas você me fez perceber que ainda o amo e que espero ansiosamente pela volta dele. Você me fez querer amar e estou amando você desde então. Lembro do nosso primeiro beijo. A chuva torrencial que caía. Ficamos doentes e conversamos ao telefone por horas e horas. Eu me lembro de tudo. Compartilhar histórias e memórias com você é como usufruir de um jardim repleto de flores sem espinhos com seus aromas. Você me faz querer levitar. Eu quero que você saiba que o seu progresso me anima muito. Você é uma inspiração para mim. Meus parabéns, meu amor. Você não queria presentes, mas não tive como deixar de fazer algo para você. Que Deus o abençoe. Amo você.
Marina Lopes, sua namorada.
Minhas lágrimas deixam meu pescoço encharcado e minuciosamente eu vou até onde o telefone está.
— Alô? — ouço a voz de Mari e ela percebe que sou pelo som da minha respiração. — Lucas! Oi. Já leu?
— Eu te amo como nunca amei ninguém... — falo em meio às lágrimas. — Obrigado por ser presente e por me apoiar. Você é a minha cura.
— Obrigada, meu amor. — ela também chora. — Vamos viver como se não houvesse amanhã. Amo você.
Desço as escadas com as lágrimas ainda escorrendo e saio de minha casa. Percorro os poucos metros até sua casa e aperto a campainha. Ouço os passos de Mari e ela abre o portão. Ainda estamos com os uniformes escolares, mas o beijo que sela nosso momento resiste ao sol escaldante do início de tarde.
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Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...