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Lucas

Anoiteceu tão rápido que parece que eu ainda estou na casa da Marina. Após o banho eu folheei algumas páginas de um dos primeiros volumes de X-Men e desci para almoçar com meus pais. Não entendo o motivo para a minha mãe ter ficado praticamente o tempo todo me fitando. Até fiquei sem graça. Ela deve ter percebido que eu menti. Odeio mentiras. Mas não quis dizer que estava na casa da menina mais interessante que já conheci. Mamãe é protetora demais e sei que ela tem medo que eu me decepcione com pessoas novamente. Mas ela precisa entender que eu estou sendo cauteloso demais. E muito, muito criterioso. Eu sei que Marina é diferente. Não é uma garota malvada. Ela é tão bonita. E gentil. Cheirosa. Muito cheirosa. Usa o mesmo perfume que uma prima minha.

São quase oito horas da noite e jantamos há pouco tempo. Papai preparou sanduíches. Comi três. Eu não posso criticar o meu estômago. Meu irmãozinho está aqui na minha cama. Sempre fico com ele quando mamãe ou pai estão no banho. Faço carinho em sua orelha e ele começa a se mexer na cama. Ele ainda não anda e nem fala, mas já sorri muito. Principalmente quando brinco com ele.

— Cadê o menininho do irmão? Cadê ele? — estou com vergonha da minha voz, mas é normal alterarmos nossas vozes ao falarmos com bebês. — Eu estou aqui! — seguro sua mãozinha e ele ri.

Nem me lembro quando exatamente dormi. Mas após papai vir buscar o meu irmãozinho eu fui escovar os dentes e deitei na cama. Há um livro ao meu lado. Acho que li um pouco antes de adormecer. Estou com tanta preguiça. Esqueci de puxar a persiana e o sol está invadindo o meu quarto. Que claridade! Levanto da cama e, quando estou puxando a persiana, vejo a casa da Marina. Grudo minhas bochechas na janela de vidro e tento captar algum sinal de vida. Mas não vejo nada. Eu me esqueço que sua casa é tão próxima da minha. Que vontade de ir vê-la. Mas não quero que ela pense que estou desesperado para vê-la. E eu não estou. Longe de mim. Até sonhei com ela.

Foi um sonho tão bobo. Eu me lembro que Marina segurava um sapato e o atirou em mim. Ela pronunciou palavras que eu não entendi e correu. E então eu acordei. Que droga de sonho mais esquisito.

Saio do meu quarto e sinto um aroma maravilhoso vindo lá de baixo. Rapidamente entro no banheiro e escovo os dentes. Desço minutos depois e meu pai já está tomando café da manhã.

— Bom dia, amores. — cumprimento. Meus pais riem. — O que tem para o café?

Minha mãe põe ovos, linguiça, um pão com queijo e suco de goiaba para mim. Já estou salivando.

— Onde você esteve ontem, filho? — meu pai me pergunta enquanto sua boca está suja de queijo derretido. — Sua mãe me disse que você passou a manhã inteira fora de casa. Eu fiquei surpreso porque você não conhece quase ninguém.

— Vocês são muito curiosos — rio e entrego um guardanapo a ele. — Estou virando amigo da Marina, filha da moça que é dona daquela banca de revistas que fomos juntos esta semana. Satisfeita, mãe?

Ela sorri. Vejo seus ombros relaxarem e imagino que tenha sido como tirar um peso.

— Que bom que você está fazendo amizades, meu filho. Convide-a para vir aqui. Que tal no domingo? Talvez eu prepare uma lasanha.

— Eu falei para ela que a senhora cozinha muito bem. Ela é tão legal, mãe. E mora aqui do lado. Vou tentar falar com ela mais tarde e vir se ela vai aceitar.

— Claro, Lucas. — minha mãe ainda está sorrindo por eu tê-la elogiado.

Meu pai pigarreia alto.

— Foi ela quem desenhou você? — pergunta.

— Acho que não, pois ontem ela não tocou nesse assunto.

Voltamos a comer.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora