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Marina

O dia mal começou e nós duas já estamos na banca. Por conta da crise a minha mãe decidiu abri-la um pouco mais cedo, porque sempre aparecem pessoas indo ao trabalho que procuram por garrafas de água mineral. Até então já vendemos cinco e isso foi muito, muito bom. Nelson irá trazer a prometida e bendita remessa de picolés pela tarde e finalmente poderemos reabastecer o freezer. Minha mãe está enfileirando as pipocas nas prateleiras enquanto estou no caixa, olhando para as minhas unhas descascadas. Quando um senhor de aparentemente mais de quarenta anos entra dentro da banca e um garoto com uma calça jeans grande demais entra logo após. Nunca vi nenhum dos dois antes. Minha mãe sorri para eles.

— Bom dia, como posso ajudá-los?

O senhor nos cumprimenta e passa a palavra ao garoto, seu filho, provavelmente.

— Bom dia, senhora. Estou à procura do sétimo volume da revista do Batman, primeira edição.

Minha mãe não responde e eu saio de detrás do caixa. Sei que revistas em quadrinhos não é sua praia.

— Oi. Então, não sei se temos este volume, mas posso procurar.

O sorriso em seu rosto parece do tamanho do mundo.

— Sim, por favor. Eu posso ajudar você.

Começo a checar todas as prateleiras. O garoto está boquiaberto. Como se ele fosse uma cobra e um ovo estivesse prestes a sair lá de dentro. Vejo o Batman estampado em uma revista e puxo-a, entregando a ele e perguntando se é o volume que procura.

— Não. — ele diz desanimado. — É o volume onze. Estou procurando pelo sétimo.

Assinto e volto a procurar. Vejo que seu semblante não é mais o mesmo de quando entrou na banca, mas não desisto e encontro outros volumes. Vou agrupando todos no caixa.

— Estes são todos os que temos, Marina? — minha mãe me pergunta.

— Sim, senhora. Do Batman, sim. Vamos checar? — pergunto a ele.

O garoto anda um tanto quanto desajeitado e começa a olhar exemplar por exemplar. Pelos meus cálculos há oito revistas no caixa. Nós vendemos revistas em quadrinhos, mas não é algo frequente. Acho que sempre evitaram comprar aqui por ser uma banca comum, não uma livraria, como se isso mudasse alguma coisa.

Quando ele pega o penúltimo exemplar e olha a numeração do último, grita como se tivesse encontrado um milhão de dólares. Eu me assusto, assim como mamãe.

— Pai! Eu achei! Eu achei!

O garoto pula que nem pipoca de milho. O pai sorri e afaga seus cabelos. Não consigo evitar de sorrir também.

— Aliás, foi você quem achou. Muito obrigado mesmo. De coração. — fico vermelha ao ouvi-lo me agradecer. Não sei lidar com isso.

— Ah, de nada. Fico muito grata por poder ajudá-los.

Seu pai puxa sua carteira do bolso e conversa com minha mãe a respeito do preço. Pego os exemplares no caixa e os coloco de volta.

— Eu não sei onde foi parar o meu antigo volume. Eu amo histórias em quadrinhos! — ele me diz, ainda sorrindo.

— Eu vejo. — rindo, reparo em suas feições. Pele negra, cabelo crespo e muito, muito bonito. — Quais são os seus preferidos?

Percebo que ele fica amuado ao notar que estou lhe observando.

— Meu preferido é X-Men. Mas gosto de Batman, Homem-Aranha, Super-Man e também gosto de Turma Da Mônica. Vejo que vocês vendem vários exemplares.

— Vendemos, sim.

Seu pai nos agradece, assim como ele e vão embora. Ainda posso ouvir a voz alta e vibrante dele enquanto se distancia. Que alto astral!

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora