Marina
Sexta-feira é um dia muito legal. O fim de semana está mais próximo e assim o movimento na banca vai aumentando consideravelmente. Não tanto quanto gostaríamos, mas ainda assim é algo. Mamãe está sentada em seu banco e observando a rua. Faz alguns minutos que tirei a poeira de algumas revistas. É preciso fazer isso diariamente. Porque ninguém merece comprar algo totalmente empoeirado. Estou com tanto calor que penso em pegar um picolé. Sei que ela não vai brigar comigo, mas penso que seria um lucro a menos. Retiro o avental e saio de dentro da banca. Eu esperava sentir algum vento, mas está tão quente que vejo a maioria das pessoas com roupas finas. Camisas regatas e shorts. E a minha calça esquentando as minhas pernas.
- Meu Deus! - reclamo. Não que seja culpa de Deus. Mas que calor!
- Está muito quente, hein? - minha mãe puxa o colarinho de sua blusa e começa a se abanar com uma folha de papel. - Estou suando.
Concordo com um simples aceno de cabeça e retorno para dentro da banca. A alguns centímetros de mim eu vejo algumas revistas em quadrinhos e já penso nele. Espero que ele esteja tendo uma manhã excelente. E refrescante. Estou com vontade de desenhá-lo mais uma vez e desta vez entregar-lhe o desenho em suas mãos. Não quero que ele pense que é outra pessoa quem está desenhando seu rosto. Quero muito lhe perguntar o que ele achou do desenho de ontem, mas onde está a coragem? Hoje eu acordei pensando nele. Assim que me levantei eu observei sua casa pela janela. Mas não vi ninguém, embora ele não tenha puxado a persiana. Não que isso tenha me deixado chateada. Só queria mesmo ter tido uma oportunidade de vê-lo. Acho que preciso ir à casa dele.
❣
Mamãe resolveu fechar a banca às quatro da tarde. Disse que está com vontade de preparar um jantar delicioso. Fomos à mercearia e compramos alguns alimentos que estavam em falta em nossa casa. Tomei um banho um pouco demorado e agora estou com o meu vestido rosa que já foi mais firme. Está um pouco amassado, mas não tem problema. Vejo Tigresa acordada e beijo seu pelo. Mamãe está cozinhando. Consigo sentir o aroma maravilhoso daqui da escada.
— O que está preparando? — pergunto ao chegar na cozinha. — Senti o cheiro lá de cima.
Ela sorri.
— Estou cozinhando peito de frango com muitas verduras e legumes. E faz um tempo que não faço molho de tomate, não é? — assinto e sento na cadeira mais próxima ao fogão. Claro, sem que a quentura me ataque. — Vou fazer panquecas. Quer me ajudar?
Sorrio também e pego o liquidificador. Sei fazer a massa. Ponho todos os ingredientes exceto a farinha de trigo. Deixo pulsando um pouco e começo a peneirar a farinha. Pouco a pouco vou acrescentando e pulsando. Estou com tanta vontade de pegar uma colher e provar do frango, mas preciso me conter e esperar pela hora do jantar.
Em meio ao barulho do liquidificador eu percebo que minha mãe está dizendo algo, mas não consigo entender. Peço para que ela repita e desligo o aparelho quando vejo que a massa já está no ponto.
— O que você e o garoto fascinado por histórias em quadrinhos fizeram ontem? Ele chegou todo arrumado lá na banca e ficou com o rosto murchinho quando eu disse que você estava aqui.
Engulo em seco. Não fizemos nada de errado. Mas não sei bem como responder isso.
— Ah, nada de mais. Ficamos conversando e comemos chocolate. Quando ele chegou eu ainda estava fazendo faxina. — é o que consigo dizer, simplesmente. — A senhora deixou a casa toda uma bagunça só porque eu estava de folga — mudo de assunto rapidamente.
— Não sou tão malvada assim. — rimos e ela torna a falar: — O que acha de convidá-lo para vir jantar conosco? Ainda dá tempo de convidá-lo. Ele mora bem ali. O que acha?
— É sério?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...