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Marina

Mamãe foi fazer algumas compras e deixou minha mochila em cima do sofá, então não precisamos subir até meu quarto. Faço carinho em Tigresa e deixo a porta encostada, pois minha mãe perdeu a sua chave e nunca vai ao chaveiro do bairro. Lucas está tão bonito e radiante. Um galã! Eu queria muito que ele tivesse me dado um selinho quando nos vimos, mas ainda estamos nos acostumando ao fato de sermos namorados.

Saímos de minha casa e reparo que seu modo de andar está diferente, como se ele estivesse mancando.

- O que houve? Por que está andando assim? - pergunto ao virarmos a esquina.

- Minhas meias são pequenas e não as troquei. Mas acho que isso é o de menos, Mari. - assinto e Lucas pergunta: - O ponto de onibus é aquele ali, certo?

Confirmo e em alguns segundos vejo uma das linhas que pode nos levar.

- Vamos entrar neste ônibus!

Lucas retira uma carteira do bolso e vejo notas de cruzados. O motorista para o ônibus e entro primeiro. Pago a minha passagem e passo pela catraca. Há pouquíssimas pessoas dentro do ônibus. Lucas entra logo após e aceno para que sente-se ao meu lado, nos fundos.

O motorista segue o trajeto e vemos casas, prédios e árvores. Olho para ele e vejo que está tremendo um pouco.

- Pra que toda esta ansiedade e nervosismo? Fica calmo, por favor.

Deito minha cabeça em seu ombro e Lucas aperta minha mão.

- É que não faço a mínima ideia de para onde estamos indo, Mari. E se você me abandonar em um matagal? Ou me jogar numa represa? - levanto a cabeça e vejo que ele está rindo contidamente.

- Eu poderia fazer isso, mas quero que você me acompanhe na escola, então vamos colocar essas suposições dentro dos nossos bolsos, certo? - sorrio e o motorista para em outro ponto. - Acho que mais pessoas irão fazer companhia para nós dois e as outras quatro pessoas que já estavam aqui antes de entrarmos.

Não sou vidente, mas uma multidão entra aos poucos e agora o ônibus está realmente repleto. Pelas roupas é fácil perceber que a maioria irá à praia. Domingo, dia em que muitas pessoas adoram sair para descansar após a jornada semanal de trabalho.

Puxo um dos zíperes da minha mochila e pego um pequeno depósito. Abro e o aroma de bolo de laranja emana instantaneamente. Pego um guardanapo do punhado que coloquei dentro e ofereço uma fatia a Lucas. Ele aceita e agradece.

- Eu não tomei café da manhã. Que cheiro delicioso! Quem fez? - ele me pergunta enquanto dá uma mordida generosa na fatia e pedacinhos caem no ônibus.

- Fui eu, meu bem. Sou uma ótima boleira. E futuramente serei a melhor jornalista e boleira do país. Anote minhas palavras!

Rimos e também como uma fatia.

Após mais de uma hora de viagem, descemos em um ponto recheado de arbustos e flores. Quase dois anos sem vir aqui. Lucas está tão disperso que chega a ficar engraçado. Pego sua mão e atravessamos a estrada pouco movimentada.

Passamos por algumas cercas e sei que já passa das nove da manhã. Está muito quente. Nossos calçados estão sujos de lama, mas isso é bom para percebermos que aproveitamos algo.

Andamos um pouco mais e paramos abaixo de uma árvore imensa que conheço como a palma da minha mão. A sombra nos protege dos raios de sol.

- Que lugar diferente e distante! Onde estamos? - Lucas pergunta após sentarmos. Coloquei uma toalha de mesa na grama.

- Eu vinha muito para cá. Com meus pais, claro. Mas depois apenas minha mãe e eu vínhamos para cá. É um lugar especial para mim. Faz com que eu recorde minha infância e quando eu era bem mais feliz com a presença de um pai. - desabafo, respondendo sua pergunta.

Ele afaga minhas costas e eu sorrio, porque, apesar das recordações, estar aqui novamente, com a presença dele, acalma meu coração e me faz ter vontade de ficar aqui para sempre.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora