29

2 0 0
                                    

Marina

Mamãe voltou da casa de Lucas e me disse para descansar após comer. Não comi muito porque estou sem apetite, mas consegui sentir um pouco do gosto da canja e estava muito boa. Incrível como uma canja é uma ótima combatente aos resfriados.

Sento na beirada da cama e minha mãe aparece com o telefone da casa.

— Alguém ligou para nós? Foi algum dos entregadores? — questiono, fitando o aparelho.

— Ainda não ligaram. Mas deixarei o telefone aqui. Se alguém ligar, por favor atenda, Mari. Mas sem muito esforço, combinado? — ela dá uma piscadela para mim.

— Claro.

Ela sai do quarto e eu me levanto, ainda um pouco fraca. Ligo o meu aparelho de som, mas o telefone toca. Prontamente atendo:

— Alô?

— Alô? Mari! Sou eu! — ouço a voz de Lucas e sinto um arrepio. Eu não havia reparado que nunca havíamos sequer trocado telefonemas. — Consegue me ouvir?

— Sim, seu bobo. Você conseguiu o nosso número com a minha mãe, quando ela foi levar a canja, não foi?

— Sim. A propósito, — consigo ouvir sua deglutição. — ainda estou comendo a canja. Muito boa. Mas não conseguirei comer tudo de uma vez. Pedi para a minha mãe dividir.

— Ah. Tudo bem. Você está melhorando?

— Gradativamente. E você, Mari?

— Acho que eu também.

Deito na cama e coloco o telefone ao meu lado, o fio enrolado em meus dedos.

— Não consigo parar de pensar em nós dois.

— É recíproco. Mas me responda uma coisa. Por favor. Foi porque você gostou ou só por ter sido o seu primeiro beijo?

— Foi porque foi com você. Tudo. O que você tem a declarar?

— Sou péssima nisso. Combino mais quando apenas penso. Quando narro a minha vida. Mas eu amei. Você é especial.

— Especial de que jeito? — ouço quando Lucas coloca o prato em algum lugar do quarto.

— De um jeito imensurável, Lucas.

— Compreendo.

— ...

— ...

— Lucas?

— Oi.

— Eu queria lhe ver. Eu quero, no presente.

— Você não veio trazer a canja com a sua mãe.

— Ela não deixou. E você poderia ter vindo me dar o número do telefone da sua casa.

— Minha mãe também não me deixa sair do quarto. Mas eu abusei da teimosia porque queria pedir isso para a sua mãe.

— Elas querem que fiquemos bem. Minha mãe nem pôde ir trabalhar. Estou péssima. Não queria atrapalhá-la.

— Mas você não está. Qualquer mãe no mundo faria o mesmo. Fique tranquila, Mari.

— Ok. Obrigada.

— O que você tem sentido?

— Febre, tontura, dor de garganta, fraqueza e fastio. E você?

— Febre, fraqueza, tosse, nariz congestionado, muitos espirros e um pouco de secreção na garganta.

— Nossa! Estamos na pior. Você deveria ter levado um guarda-chuva, Lucas.

— Eu realmente deveria. Mas foi minha culpa você ter ficado na chuva, mesmo com aquele guarda-chuva minúsculo.

— Ei. Eu gosto dele. É um pouco antigo. Ganhei em mil novecentos e oitenta e cinco, quando fiz oito anos.

— No caso eu ainda tinha sete anos. Mas logo completei oito. Sou apenas dois meses mais novo. Você lembra, não é?

— Sim. Lembro que sou dois meses mais velha.

— Que engraçada! — Lucas tosse algumas vezes e dá um gemido. — Desculpe.

— Tudo bem. Eu estou falando lentamente. Isso incomoda?

— Não, Mari. Mas se quiser desligar e ir dormir um pouco, eu entenderei.

— Não! Não quero dormir! Quero conversar com você, Lucas. A não ser que você esteja cansado demais.

— Não estou. Fique tranquila.

Somos dois mentirosos. Ambos estamos cansados e sabemos que o outro sabe o estado do outro.

— Lucas?

— Oi.

— Você pode me contar uma piada?

— Deixa eu me lembrar de uma, tá?

— Certo.

Envolvo o meu corpo com o cobertor.

— Mari, o que um pedaço de carne disse para o outro?

— Nossa, que original. Eu realmente não sei. Bom... "Viemos do mesmo animal", foi isso?

— Nãooooooo.

— Então o que foi?

— "Nós dois podemos ser cozidos na mesma panela."

A pior piada do mundo. Mas não consigo parar de rir. Claro, rindo moderadamente, para não irritar a garganta.

— Horrível, Lucas! Horrível!

— Eu sei.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora