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Marina

Faz horas que conversamos e sua imagem continua plena em meus pensamentos. Por quê? Por que ele é tão fofo e gentil? Eu me senti muito protegida quando estávamos sentados no banco. Por que sinto um formigamento? É ansiedade? Mas pelo quê? Não consigo entender. Estou muito eufórica e acho que minha mãe já percebeu, pois chamou a minha atenção algumas vezes enquanto eu viajava na maionese.

Estou me sentindo uma boba. Sorrindo de orelha a orelha. Ainda sinto o cheiro do chocolate que ele dividiu comigo. Eu lavei as mãos, mas o cheiro não sai de jeito nenhum. Vez ou outra me pego cheirando minhas mãos e sentindo um aroma doce. Mas como se não fosse do chocolate, mas o cheiro dele. Lucas. Qual é o seu sobrenome? Sou dois meses mais velha. Não que isso faça muita diferença.

O que tenho que fazer para tirá-lo dos meus pensamentos? Não é ruim, mas estou perdendo o juízo. Não quero que minha mãe fique brava por qualquer descuido meu. Sendo bem sincera, não quero parar de pensar nele. É bom. Bom demais.

Anoiteceu e voltamos para casa. Jantamos pães com ovos e queijo e minha mãe foi dormir após assistirmos "Olho No Olho". Ainda estou na sala. Olho para o telefone e não me perdoo por não ter o número do telefone de sua casa. Abro a janela da sala e vejo que as luzes de sua casa estão acesas. Seria muito inconveniente ir até lá? Melhor não levar essa ideia adiante. Não quero dar uma de impaciente e desesperada. Somos vizinhos. Iremos nos ver incontáveis vezes.

Na verdade eu quero ouvir sua voz de novo. Seu sotaque diferente do meu. Temos quase a mesma altura. Ele é tão fofinho. Um castorzinho bem dentuço. É claro que quero ser sua amiga. Só não sei como responder. Dizer "Sim, somos amigos" não é lá muito convincente. Quero dar uma resposta mais elaborada.

Desligo a TV e subo as escadas. Tigresa continua dormindo. Preguiçosa! Entro no banheiro e vejo meu reflexo no espelho.

— "Somos amigos, Lucas." — digo para mim mesma. Ajeito uma mecha do meu cabelo. — "Lucas, você é muito legal. Quero ser sua amiga."

Não está dando certo. O que eu vou dizer para ele? Preciso escolher as palavras certas. Como se eu dependesse de tudo isso. Como se fosse um caso de vida ou morte.

Escovo os dentes e saio do banheiro antes que minha mãe acorde e me pergunte se estava falando sozinha.

Já é de manhã. Na noite passada eu fiquei sem sono e desenhei um pouco antes de finalmente adormecer. Seu rosto continua fresco em minha memória e não consegui me conter. Tive que desenhá-lo. O marrom de sua pele contrastou lindamente com minha obra de arte. Os cabelos enroladinhos ficaram iguais aos dele. O desenho é uma cópia muito perfeita. Abro uma gaveta e pego um velho envelope rosa de dentro. Dobro a folha com sua caricatura e pronto. Um bilhete.

Minha mãe ainda está dormindo. Entro no banheiro e faço xixi. Após escovar os dentes eu volto para o meu quarto e visto um short jeans. Em dois minutos estou fora de casa. A rua está praticamente sem movimento algum. Vejo a mercearia aberta e aceno para o Geraldo, dono. Vejo a caixa de correspondência da casa de Lucas e coloco meu bilhete lá dentro.

Já novamente em casa, preparo o café da manhã. Abro a geladeira e retiro uma jarra com iogurte de dentro. Pego bolachas água e sal no pote. Asso ovos e procuro pelo pacote de pão de forma. Achei! Estava no outro armário. Minha mãe chega sem emitir som algum e elogia:

— Lá de cima eu senti. Que cheiro delicioso! Está inspirada, meu bem?

— Não. — minto. — Só estou feliz.

— Posso saber o motivo?

— Não agora, mãe. Mas em breve, sim.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora