Lucas
Terminamos de jantar e Marina está lavando a louça. Eu me ofereci para enxugá-las e guardá-las. Claro, com ela me dizendo onde pôr tudo. Sua mãe subiu e foi dormir. Disse que ficara tão feliz com nosso jantar e que em breve marcará outro. Eu sorri e agradeci, mas não consegui dizer tudo o que senti ao vir para cá. Sei lá, eu me sinto tão confortável. Exceto pela roupa que estou vestindo, mas isso é algo à parte.
— Tenta não dar muita importância às bobagens que a minha disse, Lucas. Por favor. — ela está lavando uma caçarola. — Fazia tempo que não recebíamos visitas. Talvez ela tenha ficado um pouco eufórica.
Não consigo segurar o riso.
— Imagina, Mari. Eu super entendo. De verdade — a gaveta dos talheres está ao meu lado e estou enxugando os garfos que usamos. — Incrível reparar que sujamos tanta louça assim, não e?
Marina me entrega a caçarola e aponta para uma das portas do armário à minha frente.
— Realmente — ela diz, por fim.
Vejo que ela está enxugando a pia. Olho ao redor da cozinha e vejo que nada está bagunçado ou fora do lugar. Não que eu saiba os lugares exatos de cada coisa, mas ora, não é a primeira vez que venho aqui. Meio que consegui me lembrar de praticamente tudo. Estou tão saciado que ainda sinto o gosto das panquecas por causa da deglutição. Eu nem sei o que meus pais prepararam, mas provavelmente deixarei para o café da manhã. Não consigo comer mais nada. Não vejo a hora de tirar a calça social e o terno.
— Hoje eu não pude assistir a minha novela.
Vejo que seu semblante não está lá essas coisas e me sinto culpado. Se eu não tivesse aceitado vir, talvez ela tivesse assistido sua novela. Quando estou prestes a me desculpar, Marina complementa:
— Mas tudo bem. Eu me diverti muito. Sério. Foi muito bom. E quem sabe se essa novela não será reprisada daqui a alguns anos, hein?
— E você irá se lembrar do capítulo específico? O pessoal da Globo corta muitas cenas quando a reprise vai ao ar.
— Ah, é mesmo. Que merda!
Estamos rindo. Rindo bastante. Gargalhando com as bocas abertas. Eu vejo. É tão bom. Tão reconfortante. Isso me dá vontade de segurar sua mão e fazê-la sentir minha força em forma de uma declaração. Mas seria muito rude da minha parte, sei bem.
— Não quis ser um estraga-prazeres, Mari. Longe de mim. Eu...
— Fica tranquilo, cara. Eu achei engraçado — ela me interrompeu, mas não achei ruim.
Estou vermelho de vergonha. Apenas sorrio e continuo em pé, vendo Tigresa dormir no tapete. Que vida boa!
Marina olha para mim e nossos olhares se encontram tão rápidos quanto a água que cai quando abrimos uma torneira.
— Odeio ter que dizer isso, mas acho que já passou das nove da noite. Seus pais devem estar esperando por você.
Vejo seus dedos tremerem um pouco.
— Sim, você tem razão. Engraçado que eles estão bem ali do lado. Moramos tão perto um do outro. Acho tão surreal.
— Sério?
— Sim. Então... acho melhor eu ir.
Marina abre a porta e eu passo por ela, ficando de frente. Sentindo seu perfume que ecoa tão forte o vento bate.
— A gente se vê por aí, Lucas. Apareça na banca, certo? — suas sobrancelhas franzidas me fazem assentir sem que eu sequer diga nada.
— Ah, claro, claro. — engulo em seco. — Faça uma visita à minha casa. Você e sua mãe serão bem-vindas.
— Sim. Falarei com ela. Obrigada. Estou agradecendo por antecipação.
Nós rimos. De novo.
Olho para o céu e vejo que o mesmo está começando a ficar nublado. Acho que vai cair um toró
— Já vou indo, Marina. Muito obrigado pelo jantar. Até...
Não consigo terminar meu agradecimento porque ela avança até mim e aperta seu corpo ao meu num abraço caloroso. Afago suas costas e a aperto mais ainda.
— Até mais, Lucas. Boa noite.
— Até, Mari. Boa noite.
Trocamos sorrisos e nos despedimos. O coração batendo descompassado.
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Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...