22

1 0 0
                                    

Lucas

Demorei dez minutos para tomar banho e escovar os dentes, além de dar uma "ajeitada" nos meus cabelos. Escolhi uma camisa verde lisa e a mesma bermuda curta da noite anterior. Calço os pés e desço as escadas. Meu irmãozinho está em sua cadeirinha azul com planetas de pelúcia pendurados e dou-lhe um beijo na bochecha. Na cozinha, meus pais e Mari estão sentados e há muita comida em refratários e pratos. Uau! Há uma cadeira desocupada ao lado dela e quero muito me sentar ali, mas e se os meus pais percebessem algo? Ou a própria Mari? Desde o nosso abraço de ontem, que por sinal mantém-se vivo em mim e nas minhas lembranças, me fez pensar que ela gosta de mim de um jeito um pouco diferente. Somos amigos, mas às vezes acho que ela sabe do meu interesse. Porque eu sempre fui péssimo em esconder o que sinto.

- Bom dia, gente. - Não resisto e me sento ao seu lado. Pego um copo e coloco um pouco de suco de melancia. Está geladinho. - Eu me lembro que uma vez você me falou sobre o seu tio que trabalha fazendo queijos. Acho que até comi um pouco ontem lá na sua casa, não foi? - pergunto.

Mari sorri.

- Isso mesmo. Ele vai mandar mais queijo logo e minha mãe quis dividir com vocês. Irei trazer mais vezes, certo?

Seu jeito de falar é tão meigo. Tão agraciado. Fico com vontade ouvi-la falar por horas e horas. Como sempre. Ouvir sua doce voz é a mesma coisa que ouvir o álbum favorito do seu cantor também favorito. Ouvir sua voz é como ouvir o meu álbum favorito do Legião Urbana.

- Você irá trabalhar hoje com a sua mãe, Marina? - meu pai pergunta após dar uma bela mordida em seu pão com requeijão.

- Sim, senhor. Mas não agora. Hoje iremos abrir depois das oito da manhã. - Mari responde, tímida. Ela olha para mim e diz, abrindo o maior sorriso: - Lucas, minha mãe ficou feliz demais com a sua presença lá em casa.

Sorrio. Porque é o que meu cérebro me ordena a fazer. E também eu não teria outra alternativa.

- Foi bom demais. Mamãe quer que vocês duas venham almocar conosco em breve. - digo, saboreando um pedaço de pão também com requeijão.

- Não fale de boca cheia, meu filho. Tenha modos, por favor. - minha mãe me repreende. - Faremos muito gosto se vocês vierem, Marina. Por favor.

Eu tenho educação. Mas tê-la em minha casa me deixa um pouco agitado. O coração batendo mais rápido que o normal. E isso não é algo negativo para mim. É revigorante. Porque eu não escondo de mim mesmo o que sinto. Para que esconder o que já está sacramentado? Não faz sentido para mim.

Marina me traz de volta à realidade.

- Sim, nós viremos. É só marcarmos, senhora. - Mari diz, sorrindo. E prossegue: - A propósito, peço desculpas por não estar comendo algo deste baquete. Um café da manhã muito cheiroso. Mas eu já comi e estou cheia. Não quis fazer desfeita e achei que sentar à mesa com vocês seria a melhor decisão, ao menos.

Desta vez, para não levar outra bronca da minha mãe na frente de Mari, primeiro engulo o resto do meu pão e tomo mais um pouco do meu suco de melancia, que já não está mais tão geladinho.

- Imagina, Mari. Ter você aqui conosco já é bom demais. Estou muito feliz com a sua presença aqui.

Praticamente explodi como fogos de artifício. Eu só não esperava que Mari ficasse com o rosto todo vermelho e que meus pais não parassem de olhar para mim. Acho que confessei demais. Droga!

Levanto e Mari faz o mesmo. Ela despede-se de meus pais e promete voltar em breve. Abro a porta para ela e nos abraçamos novamente.

- Até outro dia, Lucas.

- Até outro dia, Mari. Obrigado pelo queijo.

Aceno e ela segue seu caminho. Por sorte ela não tem um estetoscópio. Porque meu coração está a mil por hora. Estar apaixonado é uma delícia.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora