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Marina

Faltam poucos minutos para o término da aula de educação física. Faz calor na quadra da escola. Houve uma divisão de gêneros: meninos jogaram futebol de um lado e meninas jogaram queimado do outro. Não gostei muito da ideia. Achei controversa. Agora estamos observando Aninha jogando vôlei com outro alunos tão altos quanto ela.

— Ela me lembra a Vera Mossa! — Camila comenta enquanto Jungwon e Lucas desdém as escadas em direção aos banheiros. — Você sabe quem é?

— Sim. Já assisti a um jogo dela na TV Bandeirantes. Muito talentosa! Assim como nossa amiga.

Olho para o lado e Lily está mais afastada que antes. Ela mal. Jogou queimado. Alegou dores abdominais e a professora a liberou. Desde a semana passada nós duas não temos dialogado muito. Em parte porque eu ainda não me conformava com sua ideia de ir para São Paulo tentar uma vaga na USP e também pelo comentário infeliz durante o aniversário de Lucas.

Não quero ser a chata da história, pois amo a minha melhor amiga. Deixo o orgulho de lado e me aproximo dela.

— Não temos trocado muitas palavras. — eu digo ao me sentar ao seu lado, pondo sua mochila em meu colo.

— Talvez não tenhamos muito o que conversar.

Sua frieza me espanta, mas sei que preciso continuar aqui e dar um basta em tudo.

— Seus pais estão com problemas novamente, não estão?

Lily fica com os olhos esbugalhados em minha direção e eu me assusto.

— É tão notório assim? — ela me pergunta ao juntar as pernas e apoiar a cabeça em seus joelhos. — Eu pensei que eles estivessem se acertando.

— Talvez eles precisem de um pouco mais de tempo, Lily.

— Mari, desculpe ter perguntado aquilo ao Lucas. Eu fiquei muito impressionada com a casa dele. Fui muito infeliz, não fui?

Enxugo suas lágrimas com as pontas de meus dedos.

— Não, você não foi. — ela levanta a cabeça e me olha com tamanha surpresa que quase perco a fala. — Lucas me disse que ficou chateado, mas ele negou a vocês. Nós conversamos. Está tudo resolvido. Fique tranquila.

— Certo. E, Mari... sei que você ficou mexida quando falei sobre a minha vontade de ir para São Paulo. Você não sabe esconder suas emoções.

Isso é verdade. Realmente não sei. Quando conheci Lucas eu praticamente deixei perceptível o quanto já gostava dele.

— Eu só não quero ficar longe de você. — digo e percebo que agora também estou chorando.

Lily me abraça apertado e eu apoio minha cabeça em seu ombro.

— Estaremos longe fisicamente, mas nossa amizade sempre estará por perto, minha amiga.

Entre soluços e arrepios, eu compreendo. Acredito em suas palavras.

Ouvimos passos e Lucas, Aninha, Jungwon e Camila estão parados em nossa frente.

— Abraço coletivo? — Lucas pergunta e nós duas sorrimos.

O que era um momento de tensão agora é um abraço entre seis amigos que sabem que há muito a ser vivido, compartilhado e amado.

Descemos as escadas e nos dirigimos para os portões. Já não haverá mais aulas hoje e temos inúmeras coisas para anotarmos. Havia uma tarefa de casa de língua portuguesa que eu precisava terminar o quanto antes. Todos já haviam terminado as suas, faltava apenas eu. Eu estava muito irrequieta, mas agora que Lily e eu resolvemos as coisas, me sinto leve. Até parece que estou prestes a voar.

Assim que paro em frente à minha casa, abro minha mochila e entrego um envelope amarelo para Lucas.

— O que é isso, Mari? — ele me pergunta com uma das sobrancelhas arqueada.

— Seu presente de aniversário, seu bobo. — beijo lábios rapidamente e corro. Parada com a mão na maçaneta, completo: — Só abra quando estiver dentro de casa.

Ele assente e sorri. Fecho a porta e me derreto cada vez por ele.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora