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Lucas

Hoje é sábado! Os cinco primeiros dias de aula passaram voando e eu gostei de tudo: escola, novos amigos, professores. Eu me senti muito acolhido por todos. Vi tantas diversidades como jamais havia visto antes. Meus pais querem conhecer meus novos amigos e eu disse que em breve os trarei aqui em casa.

Faz dois dias que minha psicóloga veio diretamente me consultar e ela ficou muito feliz com o meu progresso. Eu só tomava um comprimido por dia e então ela me deu alta. Parei de tomar remédio e me sinto bem mais leve e melhor que nunca. Sinto como se nada mais pudesse me prejudicar. Revelar a verdade para a Mari me ajudou de um jeito que não consigo expressar. Eu a amo. Amo muito.

Pedi para o meu pai comprar uma jaqueta jeans no shopping próximo ao trabalho dele. Eu pedi para ele escolher uma que combinasse comigo e ele trouxe uma jaqueta incrível, com pequenos rasgos e uma corrente próxima ao bolso. Acabei de sair do banho, então ainda estou apenas de cueca. Abro o meu guarda-roupas e opto por uma calça grande demais que eu não tenho usado com frequência. Consigo vesti-la num piscar de olhos. Abro uma das gavetas e pego um par de meias pretas.

Calço meus tênis e passo bastante perfume por todo o meu corpo, inclusive nas pernas.

Desço as escadas rapidamente e me despeço de meus pais, que estão fazendo o jantar. Aceno para o meu irmãozinho e saio de casa. Tento não correr até a casa de Mari. Não quero suar.

Toco a campainha e ela aparece logo, como se já estivesse próxima à porta. Ela está com um vestido lilás típico dos anos 50 e sapatilhas transparentes. Seus cabelos estão presos num rabo de cavalo.

Nossos lábios se tocam solenemente.

— Boa noite, Lucas.

— Boa noite, Mari.

Eu faço menção para que ela apoie seu braço no meu e começamos a caminhar juntos. Não sei onde fica a casa de jogos, por isso faço com que ela meio que me guie.

— Você está muito linda! — eu a elogio, olhando para suas feições.

— Obrigada. Você também está lindo! Parece um galã de filmes antigos, da época do Charles Chaplin.

Eu rio.

— Cinema em preto e branco era uma graça. Já assisti alguns filmes da época. — revelo enquanto esperamos o sinal para atravessarmos a pista. — Você também já assistiu, Mari?

Atravessamos.

— Sim, poucas vezes. Meu pai deixou algumas fitas VHS. Era ótimo assistir com ele e com a minha mãe.

Engulo em seco.

Alguns vendedores ambulantes e pedestres olham para nós dois. Estamos chamando muita atenção. Obviamente, nossos trajes são muito chamativos.

— Gostou da nossa professora de geografia? — Mari me pergunta e acrescenta: — Ela é um amor de pessoa!

A senhora Gerusa realmente mostrou-se muito legal e competente.

— Gostei muito, Mari. Até então não tenho o que falar mal de ninguém da escola. Todos tem sido muito gentis. Esta nova experiência é muito importante para mim. De verdade. Obrigado.

Ela sorri e avisto uma garagem, pelo menos é o que aparenta com luzes fosforescentes e duas mesas de sinuca na frente. Há algumas pessoas mais velhas que nós. Apressamos os passos e encontramos nossos amigos já reunidos. Lily, Jungwon, Camila e Aninha também estão muito arrumados e elegantes. Somos seis jovens prestes a entrarem em uma casa de jogos em um sábado de Carnaval de 1994.

Todos nos cumprimentamos e entramos.

Há vários fliperamas espalhados pela garagem que mais parece uma galeria. Vejo ventiladores no teto e algumas mesas dispostas com jogos de tabuleiro, dominó e cartas. Em uma pequena TV passa o clipe da música "I Wanna Dance With Somebody" da Whitney Houston. Parece um lugar ambientado nos anos oitenta, onde eu era uma criança.

— Vamos nos divertir, pessoal! — Mari grita e eu abro os braços, vivendo algo que minha depressão não permitia.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora