Marina
Olho para Lucas e não é difícil decifrar que ele está com ciúmes do meu primo. Eu mereço! Zézinho abre a porta de trás de seu carro e eu puxo Lucas para que entremos juntos. Quer dizer, um após o outro. Eu me acomodo e ponho o cinto de segurança. Aponto para o lado e peço para que ele faça o mesmo. Zézinho volta a dirigir pela estrada e vejo que o povoado onde ele mora está muito perto. Lucas continua com um semblante de incômodo, sendo que ele deveria estar curioso para saber aonde estamos indo. Mas ele é ciumento demais para o meu gosto. E eu não sabia disso.
— Lembra do meu tio que sempre manda queijo lá para casa? — tento recordá-lo. Lucas assente. — Ele é o pai do Zézinho. Meu primo preferido. Estamos a caminho de uma das casas em que eu mais gosto. Fica em um povoado próximo.
— Ah, vocês são primos? Pensei que fossem amigos, que coisa! — ele diz e sinto vontade de contrariá-lo, mas apenas ouço suas palavras enquanto olho pela janela do fusca. — Falando em queijo, eu e a minha família praticamente devoramos aquele que você levou lá para casa, Mari. Muito obrigado.
— Agradeça a mim, moleque. — Zézinho diz, rindo, e também começo a rir. — Estou de zoação, cara. Eu adoro fazer queijo. Faço de vários tipos. Meu pai me ensinou quando eu tinha dez anos e de lá para cá não parei. Sempre enviamos bastante queijo para a Mari e para a tia. Falando nisso, como ela está, prima?
— Está bem, graças a Deus. Esteve preocupada porque adoeci recentemente, mas já estou melhor. Ela disse que hoje não iria ficar até às treze horas na banca. Eu pedi para ela descansar um pouco. Acredito que às onze ela já esteja em casa, primo.
Toco o ombro de Lucas e ele apoia a cabeça em meu ombro. De ombro para ombro, literalmente. Nossas mochilas encontram-se em nossos colos e estou bastante curiosa para saber o que há dentro da sua.
Ele beija os nós da minha mão direita e reparo que meu primo nos observa pelo visor do fusca. Sinto que estou vermelha e volto a olhar pela janela. Já estamos no povoado. Vejo a pequena capela aberta e alguns moradores lá dentro. Ao lado, uma carroça parada, sem cavalos, com milhares de cestos com cenouras. Eu não me lembrava de quão rural é este município. Eu sempre me apeguei mais às lembranças que tive com papai e acabei deixando este detalhe de lado.
Zézinho estaciona em frente à enorme casa de decoração rústica. Casa esta que meu pai morou durante a infância e adolescência, até conhecer minha mãe e ir morar na área urbana do estado, isso lá nos anos setenta. Ele sai do fusca e abre uma das portas. Lucas sai primeiro e segura minha mão quando também saio. Com o barulho do veículo, a imensa porta da casa abre e um pequeno leitão corre em direção do meu primo. Lucas fica assustado e corre. Desato a rir.
— Calma, minha Bolota! — meu primo diz ao pegar o animalzinho nos braços. — Não tenha medo, moleque. É a minha porquinha de estimação. Esqueci de avisar a você, prima. Esta é a Bolota!
Acaricio sua cabeça, com um pouco de medo, não posso negar e ouço um "Oinc". Provavelmente ela gostou de mim. Lucas, que até então estava atrás de mim, dá alguns passos e, sorrateiramente, toca a orelhinha da porquinha.
Zézinho sorri e Arlete, sua esposa, aparece e beija seus lábios. Ela sorri ao nos ver e me abraça calorosamente.
— Arlete, este é o Lucas, meu namorado! — ela também lhe abraça e afaga suas costas. — Está gostando de conhecer meu primo, sua esposa e sua porquinha de estimação? — pergunto, pois estou tão feliz por estar aqui após tanto tempo.
— Estou, sim. É um pouco exótico, não nego, mas vocês são muito legais. Obrigado pelo convite, Mari.
Sorrio e entrelaço sua mão à minha.
— Vamos entrar, pessoal! Vão ficar para o almoço, hein? — Arlete sorri e todos entramos dentro da casa.
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Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...