Lucas
Mamãe preparou um jantar de arrasar. Arroz com milho e pedaços de frango, uma torta salgada de bacalhau com legumes, farofa de cenoura e cebola, além de um delicioso cozido de panela. Meu pai preparou uma deliciosa salada com alface, couve, beterraba e pepino. Não sou fã de salada, mas comerei um pouco para causar uma boa impressão.
Coloco um pouco de cada coisa, tomando o cuidado para o meu prato não ficar maior que a minha cara. Ao meu lado vejo Mari juntar o milho do arroz no canto do prato. Eu me lembrarei de que ela não gosta de milho.
- Está animado com a aproximação da volta às aulas, Lucas? - a mãe de Mari me pergunta enquanto segura seu garfo, com uma rodela de pepino.
- Para falar a verdade, não muito. - respondo após engolir. Prossigo: - Tive alguns problemas na minha antiga escola e agora não sei muito bem o que esperar. - confesso.
Olho para meus pais e eles se entreolham. Eles sabem que ainda sofro com o acontecido. Não obstante tivemos que marcar o jantar para depois das sete da noite, pois eu não queria que elas me vissem tomar meu remédio. Agora que mudamos de cidade, só mantenho contato com a minha psicóloga pelo telefone e ela me disse que virá aqui e irá me dar alta ou não, vai depender do uso do remédio. Eu não aguento mais tomá-lo, mas eles ficam na minha cola e fica praticamente impossível esquecer de tomá-lo.
- Mas você terá a minha presença. E meus amigos. Tenho certeza que eles irão adorar você, Lucas. Acredite em mim. - Mari põe sua mão em cima da minha e sinto um conforto. Como se a sua mão fosse um agasalho que me protege do frio. O que é o frio? Minha insegurança.
Sorrio e sussuro um "Obrigado, Mari". Olho ao redor e todos estão olhando para nós. Rapidamente seguro meus talheres e Mari faz o mesmo.
Limpando a garganta, meu pai diz:
- Estou precisando de um exemplar daquela revista sobre futebol. Eu vi alguns naquele dia em que fomos até a banca de vocês. Acho que amanhã irei até lá.
- Sim, venha. Será um prazer. Não é, Mari? - sua mãe diz e pede para que a filha confirme.
Mari assente.
✡
Após comermos o delicioso pudim que a mãe de Mari trouxe, deixamos nossos pais na sala, conversando sobre novelas, vôlei, política e a iminente Copa nos Estados Unidos. Perguntei se Mari gostaria de ver o resto da casa e ela respondeu que sim. Saímos da cozinha e abro a porta do quintal. Não há muito o que mostrar além de uma árvore, uma pia e alguns varais. Saindo de lá, subimos as escadas e chegamos aos quartos. Há quatro, onde um é dos meus pais, um é meu, o de Luís está com todas as suas coisas, mas ele dorme com meus pais. Pelo menos durante a noite. E o outro quarto está desocupado. A não ser por uma cama de solteiro e uma cômoda um pouco velha. É praticamente um quarto de hóspedes. Ah, há uma suíte no quarto dos meus pais. Eu me contento com o banheiro da casa. Tudo bem.
— A casa é muito linda, amigo. — Mari elogia, sorrindo.
— Obrigado, amiga. Mas a sua também é. — digo, o que é verdade.
Sorrimos ouvimos o falatório vindo da sala.
— Que bom que nossos pais estão se dando bem, não é?
— Sim. — Mari diz simplesmente. Mas logo acrescenta: — Acha que seria egoísmo da minha parte dizer que não sinto saudades do meu pai? — pergunta, seu semblante meio caído.
— Só devemos sentir saudades daquilo que nos acrescenta algo, Mari. Talvez o seu pai também sinta o mesmo. Mas não fique triste. Sua mãe é maravilhosa e sempre lhe dá o que pode. Por isso ele não faz a menor falta. — digo, tocando seu ombro.
— Obrigada, Lucas. Você é incrível!
Descemos as escadas.
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Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...