O passado
15 de novembro de 1993
Lucas saiu de dentro do elevador do prédio e entrou dentro carro. Seu pai estava olhando o movimento da pista e pediu para o filho colocar o cinto de segurança. Sentado no banco do passageiro, o fã de revistas em quadrinhos e chocolate estava mal-humorado porque sua mãe pedira para ele ser um pouco mais consciente quando seu irmão estivesse dormindo. Lucas sempre voltava para casa fazendo uma algazarra tremenda. Parecia pisar em panelas. Luís ainda não estava acostumado a dormir fora do berço.
Seu pai parou em frente aos portões da escola e beijou a testa do filho.
— Amo você. — ambos disseram em uníssono.
Como não tinha muitos amigos, Lucas apenas acenou para o grupo de alunos do outro corredor e sorriu ao ver Estela, sua paixão há pelo menos três meses. A loira sempre cumprimentava o garoto quando o encontrava no pátio ou corredores, mas naquele dia ela apenas riu e ele ficou sem entender.
Dirigindo-se à sala de aula, alguns valentões que ele não costumava trocar palavras ou olhares pararam em frente à porta e Lucas sentiu-se intimidado.
— Por que você se acha melhor que a maioria? — perguntou o forte garoto de bigode e cabelos bagunçados.
— Não sei do que você está falando. Não nos conhecemos. Pode me dar licença, por favor? — Lucas pediu, apertando cada alça da mochila com as mãos.
Logo uma multidão se formou e ele viu-se no centro de um círculo formado por vários alunos que ele conhecia e outros que apenas via pelos corredores.
Estela reapareceu e tornou a rir de algo que ele não sabia, não entendia e não compreendia. Então, ela foi a primeira a arremessar um rolo de papel higiênico em seu corpo magro. Ela o acertou bem no rosto. Lucas protegeu o rosto com as mãos e outros alunos começaram a jogar mais papel, alguns até sujos com ketchup e outros molhos vendidos na cantina.
Desolado, ele encolheu todo o corpo e ficou em posição fetal, assustado, triste... desolado. Jamais havia sido acometido à tamanha humilhação.
— Isso é para você aprender a não se achar superior só pelo seu pai ser um dos mais ricos da região, seu negro fedido. O lugar de pessoas como você é no chão, onde você já encontra-se. — gritou o mesmo aluno de antes e, Lucas pôde ver, ele beijou Estela no pescoço e correu segurando a mão dela.
Outros alunos também correram, apenas alguns, a maioria também pretos, permaneceram e o ajudaram a se recompor. Também havia brancos, claro. Alguns alunos chamaram professores e os diretores da escola.
De pé, Lucas começou a chorar e correu pelo corredor. Sentia uma dor em seu âmago.
O racismo machucava.
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Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...