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Destino

Lucas voltou para casa com o coração acelerado. Sentou-se no sofá com tanta rapidez que sua mãe correu em sua direção e lhe perguntou o que havia acontecido e onde ele estava. Ela ainda não havia visto Marina e nem sequer cogitava que o filho estava apaixonado. Ora, ela também se apaixonou cedo e hoje está casada há dezenove anos. Lucas sorriu e disse que não acontecera nada de mais e que estava dando uma volta pelo bairro. Sua mãe não acreditou em suas palavras. Desculpa de adolescente, ela pensou. Era certo que ela não teria como forçá-lo a dizer a verdade. Sempre foram muito próximos. Certamente ele lhe diria em breve o que havia acontecido. Quando ela subiu as escadas e entrou em seu quarto, Luís chorou e ela correu para dar-lhe de mamar.

Lucas tirou os sapatos e as meias e deitou-se em sua cama. Que calor! Era como se ele estivesse próximo de um vulcão em erupção. Suas pernas estavam tão suadas que ele considerou ir tomar um banho de piscina. Mas seu pai ainda não mandou instalar a velha piscina inflável que de velha não tinha nada, apenas não era montada. Quando ele tirou todas as vestimentas e deitou-se de cueca em sua cama, tornou a pensar nela. Na adorável companhia que tivera poucos minutos atrás. Ele sabia que estava gostando dela. Já era um fato mais do que consumado. Ele se perguntou por que não falara para ela sobre o desenho que recebera pela manhã. Entendeu que ficara com medo. Medo que ela entendesse que ele já possuía novas amizades. Talvez até melhores que ela. Medo de que ela ficasse chateada por ainda não ter lhe mostrado seus desenhos e então, como uma surpresa, alguém apareceria e lhe desenharia. Meninas eram tão complicadas. Mas Lucas iria falar com ela sobre o desenho. E quando visse os seus, já sabia, não iria compará-los. E nem mentir. Por mais que Marina fosse perfeita em absolutamente tudo de acordo com sua mente nada santa, Lucas jamais iria mentir só para não ferir seus sentimentos. A verdade era sempre a melhor escolha, não é mesmo? E então ele enroscou uma toalha na cintura e foi tomar um banho gelado. Queria estar na neve.

Após sair de seu quarto e colocar ração para Tigresa, Marina desceu as escadas lentamente, como se cada passo fosse muito doloroso. Mas não era. Ela sabia que já sentia a falta dele. E estavam tão próximos um do outro. Levava menos de dois minutos para chegar até a casa dele. A casa que por anos ficara desabitada porque ninguém tinha dinheiro para comprá-la. Tinha dúvidas quanto ao dinheiro de seus pais, mas não sentia inveja. Ela trabalhava. Não ganhava muito. Mas quem ganhava tanto assim no Brasil em 1994? Imersa em pensamentos, a menina abriu a geladeira e tirou de lá duas porções de comida e pegou um refratário de alumínio. Pôs as porções dentro e colocou no forno. Numa temperatura tão baixa que levaria dias para esquentar as comidas. Mas ela não poderia gastar tanto gás. Sua mãe dissera.

Em pé na cozinha, Marina tentou pensar no futuro: não necessariamente comprometida com alguém. Ainda não conseguia esquecer o que seu pai fizera sete anos atrás. Pra que se entregar ao amor se as pessoas iam embora? Mas por que ela sentia que gostava de Lucas um pouco mais do que como amigo? Era muito visível, será? O próprio dissera que não possuía sentimentos por ela. Mas Marina desconfiava de tudo e de todos ao seu redor. E se ele estivesse mentindo? Até que ela gostaria que ele estivesse. Pois sentia que queria mergulhar fundo naquele rio. E a coragem que tinha era advinda do que sentia pelo garoto apaixonado por histórias em quadrinhos e chocolate. Era possível alguém fazer com que sentisse tamanho sentimento e admiração? Ainda mais por um garoto que acabara de conhecer? Que vida confusa, menina!

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora