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O Amor

Marina e Lucas estão um de frente para o outro. Ainda chove uma enormidade. Talvez mais que o previsto para o mês inteiro e fevereiro começou recentemente. Eu sinto seus corações baterem incessantemente mais. Espero que eles não pensem que isso é angina. Infelizmente eu não possuo a mesma habilidade do meu amigo Destino, por isso não tenho como prever o que irá acontecer aqui. Mas estou certo que algo lindo acontecerá. Com ou sem chuva. Acho que com chuva.

— Mari! O que você está fazendo na rua a esta hora? — Lucas pergunta, todo molhado. — Já passou das onze da noite.

— Saia da chuva, por favor. Você vai adoecer. — foi como se ela tivesse fingido não ouvir sua pergunta e mudou de assunto. Pelo menos eu acho.

A menina dá alguns passos e logo o protege da chuva. Na verdade ela tenta. O guarda-chuva rosa é pequeno. Não dá para duas pessoas ficarem debaixo.

— Desculpa, Lucas. Eu deveria ter pego um maior e...

— Você ignorou a minha pergunta. — ele a interrompe, mas não aparenta estar bravo. — Mas vamos supor que você me perguntou a mesma coisa. Eis a minha resposta... eu queria te ver. Sei lá, o jantar não foi o bastante. Eu não paro de pensar em nossas mãos juntas. Foi caloroso demais. Eu gosto muito de você, Mari. Sei que você sabe disso.

A menina está calada. Até parece que desaprendeu a falar. Está pálida. Mas seu coração está batendo muito mais rápido.

— Eu não tenho experiência nenhuma neste quesito chamado amor, mas eu gosto de você. Gosto muito. Você é a primeira garota a qual me interesso. Bom, as heroínas das minhas revistas não entram em questão. — Lucas prossegue, ainda ao seu lado. Parece que ele não se importa com a chuva. Está mais molhado ainda.

— Lucas... — Marina balbucia, mas logo para. Sua boca treme. Ela olha para o chão. — Também gosto muito de você. Mas eu tinha medo. Tinha medo que o mesmo que o meu pai fez conosco acontecesse novamente. Eu sei que você não me abandonaria. Mas é que este lance de amor é complicado. Mas fica tão fácil quando penso em você. Quando penso em nós. Eu estou envergonhada. Não consigo olhá-lo nos olhos. Sinto muito.

Lucas segura a mão que ela não usa para segurar o guarda-chuva e beija os nós de seus dedos. Marina consegue olhá-lo nos olhos e começa a sorrir. Um sorriso extremamente lindo. Adoro observar declarações de jovens. Porque é nesses momentos em que eu ajo. Quer dizer, na maioria das vezes tudo começa assim.

Não há lua no céu. Apenas as luzes dos postes claream a rua. Não há luzes nas janelas das casas. Não há pessoas do lado de fora. Há apenas amor. Minha pessoa. Irradiando desejo para dois jovens apaixonados.

— Amo você, Mari.

— Amo você, Lucas.

Mas eles não se beijam. O guarda-chuva cai da mão dela e os dois se abraçam como se não houvesse amanhã. É um abraço terno. Reforço que não tenho como saber o que acontece em suas cabeças. Mas não é tão difícil de entender.

— Lucas, fui eu. — Marina diz ainda abraçada, os braços dele em volta de suas costas. — O desenho... fui eu.

— Sério? Por que você não me disse, Mari? Fiquei com receio de lhe mostrar porque você me falou sobre os seus desenhos, mas nunca me mostrou nenhum e eu não queria que você ficasse chateada se eu lhe mostrasse o desenho antes de ver os seus. Não queria que você pensasse que outra garota havia me desenhado antes de você.

— Acho que eu ficaria chateada, sim. Mas eu deveria ter lhe dito antes. Desculpe a minha fraqueza. — lamenta Mari, agora dando passos para trás, acabando com o abraço. — Eu já gostava de você quando enviei o desenho.

— E eu já gostava de você quando omiti o desenho. — ele assume, sorrindo com os olhos fechados. Muito fofo.

Ele segura a mão dela e ela puxa seu corpo de encontro ao seu. Mas não o beija. Ela abraça seu peitoral, como se estivesse procurando consolo. Ele afaga seus cabelos molhados.

A chuva aumenta ainda mais e Marina puxa a mão de Lucas e juntos correm pela rua, não muito longe de suas casas. Param em baixo do letreiro de uma loja de roupas.

— Você já beijou na boca? — Lucas pergunta, olhando para os lábios dela. Hum, acho que ele quer prová-los.

— Sim. Mas foi só um selinho. Nada de mais. Coisa de adolescente desesperado. — ela responde, numa confissão nem tão séria. E pergunta: — E quanto a você?

Ele não diz nada. Não emite som algum. Apenas balança a cabeça, em negativa. Marina assente e começa a corar.

— Eu nunca soube como dizer isso a você. Não é lá uma coisa grave, mas ainda assim. Farei dezessete anos no mês que vem, como você deve lembrar.

— Lucas, idade é uma coisa a parte. Está tudo bem. Existe uma hora para tudo.

Ele sorri e estende a mão, sentindo a chuva cair na palma de sua mão. Num impulso ele toca na testa dela e ela dá um gritinho, mas não para de gargalhar.

Eu estudei muito para chegar onde estou hoje. A filosofia do amor, ou minha filosofia, não é fácil de entender a não ser que você goste muito de algo ou alguém. Amor não está apenas ligado ao sentimento amoroso. Mas estes dois amam um ao outro. Eu sei que seus pais já perceberam. É nítido. E muito lindo.

— Posso ser a primeira pessoa a beijar seus lábios, Lucas? — Marina pergunta, confiante. Sorrindo de orelha a orelha.

— Pode. Mas me perdoe se eu babar muito ou morder sua língua. — Lucas responde, brincalhão como o meu amigo Destino me contou.

E então... e então... ele toma atitude e beija os lábios dela. Marina envolve o pescoço dele. Lucas, sem parar de beijá-la, envolve sua cintura. Para quem nunca havia beijado antes, ele sabe dar conta do recado.

Já faz mais de um minuto e eles continuam. Não sei como suas bocas não estão dormentes. Pelo menos eu acho que não estão.

— Beijo com gosto do pudim da minha mãe. — Mari diz, rindo, ainda envolvendo seu pescoço. — Foi muito bom.

— Desculpe. Comi três vezes. Ah, também gostei. Acho que nem por ter sido minha primeira vez, mas por ser com você, Mari. — Lucas beija seus lábios rapidamente, um selinho. — Não sei se eu babei ou se foi a chuva que deixou tudo um pouco molhado.

— Isso não tem importância nenhuma, Lucas. Gostei da sua boca. Quero provar mais vezes.

Pisco e nem percebo que os dois já estão aos beijos novamente. Meu Deus! Adolescentes têm muito gás. Estou com inveja. Eu, O Amor, com inveja de dois jovens apaixonados.

— Mari, já deve ser meia-noite. Nossos pais podem perceber nossas ausências. Melhor voltarmos.

Lucas segura sua mão e pega o seu guarda-chuva rosa.

— Vamos nos ver amanhã? — Mari pergunta, sorrindo. Essa menina sorri o tempo todo.

— Vamos, sim. — Lucas abraça seu corpo.

Vejo cada um entrar em suas casas e observo. Fico disperso, claro. Só tenho dois olhos. Olhos que viram uma das cenas mais lindas e românticas desde que fui designado a isso. Estou feliz demais.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora