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Marina

Janeiro começou há duas semanas e eu já me sinto ansiosa. Falta pouco mais de um mês para a volta às aulas, o que significa que irei para o terceiro ano. Só mais alguns meses e eu finalmente terei a chance de prestar o vestibular e conseguir uma bolsa de estudos. Futuramente estarei aparecendo nas casas de quase toda a população. Com minhas roupas chiques, saltos deslumbrantes e os penteados que estarão na moda. Mal poso esperar. Decidi começar a me preparar o quanto antes, ou seja, estou estudando desde setembro do ano passado. 1993 foi um ano legal para mim. Pois finalmente cheguei à conclusão do que quero para o meu futuro. Não foi fácil, mas a vida é assim mesmo, querendo ou não.

Levanto da cama e me espreguiço. Vejo que já passa das sete da manhã. Respiro aliviada por estar de férias, caso contrário eu estaria atrasada para ir para a escola. Eu não sou de perder a noção do tempo, mas não quer dizer isso não irá acontecer, de qualquer maneira. Pego um elástico em cima da minha cômoda e amarro meus cabelos. Estão um pouco ressecados, mas não tenho dinheiro para ir ao salão de beleza da mãe da minha amiga. E eu não pedirei à mamãe. Ultimamente ela tem estado cabisbaixa. A banca de revistas não tem recebido muitos clientes. E não temos condições de retirar alguns itens do nosso catálogo, porque não queremos perder dinheiro. Mas sempre aparece alguém para comprar algum jornal de dias passados. Talvez em busca de empregos ou notícias, não sei bem.

Saio do quarto e vejo Tigresa dormindo próxima à escada. Minha gata não tem jeito. Escolhi este nome porque eu queria criar um tigre quando pequena, mas minha mãe me disse que era algo impossível. Eu chorei muito. Até que adotamos uma gatinha recém-nascida de pelos amarelos quase puxando para o laranja. Não que seus pelos fossem similares aos de um tigre, mas achei que seria legal lhe dar este nome. Pego-a e desço as escadas com ela nos braços, parecendo um bebê. Tigresa boceja e praticamente pula das minhas mãos e some de vista. Danadinha!

Vejo que minha mãe está na cozinha preparando algo para o nosso café da manhã. Entro na cozinha e me senti à mesa, sentindo um aroma delicioso de queijo derretido.

- Bom dia, mãe.

- Bom dia, Mari. Estou derretendo alguns pedaços de queijo para misturarmos com ovos. Já comprei pão. Está com fome?

- Sempre, fofa.

Rimos e percebo que ela está um pouco menos preocupada e já me alegro.

- Hoje é o meu dia de ficar sozinha na banca, não é? - pergunto enquanto abro a sacola com pães e ponho dois em meu prato raso.

- Eu estava esquecida, mas é, sim. Já escovou os dentes?

- A senhora sabe que gosto de escovar os dentes apenas após tomar café da manhã. Acho melhor.

- Sei.

Ela traz a frigideira para a mesa e retira todo o queijo e praticamente o joga por cima dos ovos já mexidos com orégano. Sinto cheiro de felicidade. De cama arrumada. Minha barriga praticamente canta em alto e bom som.

Comemos e logo após subo e tomo banho, além de escovar os dentes.

São exatamente oito da manhã e já estou aqui na banca. Felizmente não é longe de casa, o que matematicamente significa uma pequena distância de aproximadamente duzentos e quarenta e oito passos dependendo da pessoa. Se eu estiver com pressa, o que não é lá frequente, pois sou muito paciente, acho que não levará mais do que cento e cinquenta passos.

Olho para dentro do pequeno freezer e vejo que precisamos abastecer o estoque de picolés. Lembro que o moço da fabrica ligou lá para casa e nos disse que alguns sabores estavam em falta. Principalmente o de chocolate. Isso é possível? Qual a graça de ter picolés e não ter de chocolate?

Pego o espanador e limpo a pouca poeira que se encontra perto das revistas de mulheres com vestidos de gala e maquiagens muito exageradas. Gibis da Turma Da Mônica "olham" para mim e pego um exemplar para ler e dar algumas gargalhadas.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora