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Lucas

Deitado na grama e com a cabeça apoiada em suas pernas, vejo que Mari está muito emotiva. Suas bochechas estão extremamente rosadas e seu olhar, profundo. Ela aparenta estar muito feliz e nostálgica por estar neste lugar lindo. Também não consigo esconder minha felicidade. Porque é a primeira vez que estamos juntos em um lugar distante, haja vista que não leva nem um minuto de distância entre nossas casas.

O clima está agradável demais. Um pouco nublado, mas ainda um pouco quente. Os raios de sol iluminam tudo o que há ao redor, principalmente alguns canteiros de flores ao nosso lado que, toda vez que uma brisa bate, o aroma vem até nós. É insano. É perfeito. É onde estamos agora. Parece o Paraíso.

— Lucas...

Levanto a cabeça e sento ao seu lado.

— Oi, Mari.

Ela olha para mim e vejo que agora um semblante triste toma conta de seu rosto.

— Naquele dia, lá na sua casa... eu... eu não queria ter dito aquilo sobre meu pai. Porque eu sinto muita falta dele. Ainda não entendo muito bem por que ele foi embora. Nem tive como me despedir dele. — lágrimas descem e eu toco seu ombro. — Minha mãe parou de falar sobre ele, mas eu sei que ela ainda sofre bastante. Ela me disse, alguns anos atrás, que quando engravidou de mim, em setenta e seis, eles tiveram uma discussão e quase terminaram. Mas meus avós insistiram para que eles ficassem juntos. Antigamente não era igual a hoje em dia. Não que hoje em dia tudo tenha mudado consideravelmente. Mas sentir falta de um pai dói na alma.

— Você acredita que ele voltará algum dia? — pergunto e não sei se foi a melhor coisa a se perguntar no momento.

— Eu não sei se acredito. Mas anseio bastante, sabe? — Mari responde e enxuga suas lágrimas. Com a voz ainda embargada, prossegue: — Eu li um livro chamado "O Poder Do Anseio". Nele, um trecho me marcou muito e eu, sempre que podia, anotava em todos os cantos, tanto que hoje decorei. Posso recitar para você?

— Claro. Fique à vontade.

— "Você tem que ansiar pelo que há de melhor na vida. Um anseio não faz mal. Uma ambição, sim. Mas quando você anseia a permanência de alguém em sua vida, alguém que toque em seus dedos e faça você sentir-se mais especial do que já é, realmente anseie por isso."

— Isso foi muito forte e sensível, Mari! — digo e ela sorri.

Ouvimos um barulho e vemos alguém dirigindo um fusca todo enlameado. Mari levanta-se e acena com muito entusiasmo para quem quer que esteja no volante.

Com um pouco de esforço eu consigo ver um homem na casa dos vinte e poucos anos. Ele está sorrindo. Estaciona na estrada e sai do fusca. Ele parece um caubói: camiseta xadrez, calça jeans, botas de couro e um chapéu. Mari corre em direção a ele e praticamente pula em seus abraços. Ele beija a cabeça dela e a abraça com muita força. Ele é forte! Parece que cada braço e perna equivalem a um fogão.

Continuo parado porque não sei o que falar ou fazer.

— Quem é o garoto? — ouço o homem perguntar para Mari.

— É o Lucas, meu namorado e melhor amigo. Vamos, venha conhecê-lo melhor.

Meu coração está para sair pela boca. Em parte porque estou com um pouco de ciúmes e por ela ter dito que somos namorados. Uau! Eles atravessam a estrada e o homem, parado bem na minha frente, estende a mão grande para mim. Eu a aperto e sinto tanta força que acho que ele amassou minha mão.

— Oi. Bom dia. Sou o Lucas. — pareço um robô.

— Bom dia, moleque. Sou o Zézinho. — com ele mais perto eu posso reparar em seu sotaque forte. Com certeza ele não é daqui. Quer dizer, talvez seja, mas não de onde nós moramos, já que estamos em outro município.

Mari sorri novamente.

— Lucas, este é o Zézinho, meu primo barbudo e da roça!

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"O Poder Do Anseio" é um livro fictício.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora