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Marina

Pouco mais de uma hora após ter ido à casa dele, ouço a campainha da minha tocar e abro a porta. Lucas está tão diferente que quase não o reconheço. Os cabelos estão muito molhados e penteados de um modo fofo: divididos e com uma pequena franja. Um terno cinza com uma gravata vermelha e sapatos sociais. Uau, que gatinho! Seu perfume está tão forte que sinto que estou prestes a cair no chão, mas me recomponho rapidamente.

— Nossa, que elegância toda é essa? — abro caminho e ele entra. — Bem-vindo.

Vejo um sorriso brotar em seu rosto.

— Obrigado e com licença. — percebo que Lucas fita o chão e é como se ele estivesse reparando em suas roupas. — Ah, é coisa da minha mãe. Ela queria que eu ficasse muito mais apresentável. Por isso eu optei pelo terno. É novo, só usei uma vez. No casamento da minha tia, em novembro do ano passado.

Seu perfume é como um adoçante para os cafés.

— Mas você está sempre apresentável, Lucas...

— Você também, Marina...

Mamãe aparece antes de eu me desculpar pelo vestido amassado. Acho que é até melhor deixar esse assunto de lado.

— Boa noite, Lucas. — mamãe lhe dá um beijo na bochecha e tira um pequeno resquício de poeira de seu ombro. — Mas que bonitão! É para impressionar a minha filha?

Engasgo na hora. Cof. Cof. Cof.

— Mãe! — grito, envergonhada.

As bochechas de Lucas estão vermelhas. Bom, uma delas contém a marca do batom da minha mãe. Estou tão sem graça que começo a fitar o chão. Por que ela disse aquilo?

Ele sorri, sem graça. Nos dirigimos até a cozinha e nos sentamos. A mesa não é tão grande. Apenas seis cadeiras à disposição. Sento em frente a Lucas e mamãe no meio. As comidas estão todas em refratários de vidro e o suco de maracujá que eu fiz está em uma jarra com gelo.

— O cheiro está delicioso, senhora. — Lucas elogia, ainda sem jeito. — Tenho certeza de que irei gostar de tudo.

— Certo. Mas é pra encher a barriga, ok? Se quiser repetir, repita!

Estou rindo muito. Achei engraçado, é claro. Mas também quero trazer animação ao jantar. Ele agradece e começamos a nos servir. Estou babando pelas panquecas.

— Filha, você já contou para o Lucas sobre a sua futura profissão?

— Não. Então, eu quero ser jornalista. Daquelas bem famosas. — sempre sorrio quando falo sobre isso.

— Que máximo! Boa sorte, Mari. Irei lhe dar todo o apoio necessário.

— Muito obrigada, Lucas. De verdade.

Escolhi ser jornalista aos onze anos, quando mamãe estava no supermercado e me pediu para assistir TV enquanto isso. Não encontrei nenhum desenho animado e então resolvi assistir a primeira edição do jornal local. Eu não era adepta ao costume, mas fui prestando atenção nos jornalistas que apresentavam os fatos do dia. Principalmente quando vi a Glória Maria e a Fátima Bernardes no Fantástico.

A partir dali eu disse para mim mesma que seria tão realizada quanto elas. Desde então não vejo outra profissão que me deixe mais feliz.

— Não sabia que você a chamava de "Mari", Lucas. Que legal!

Minha mãe tirou o dia para me envergonhar, não é possível. Sinto vontade de me levantar e deixá-la sozinha com a louça para lavar, mas não quero ser condescendente. Ainda mais com a visita dele aqui. Quero que ele fique à vontade. Mas está sendo um pouco difícil.

— S-sim. Eu chamo. Acho legal. É. Muito legal. — tadinho, está tão sem graça que até gaguejou. Estou me sentindo péssima por causa disso.

— Mãe, que tal comermos primeiro e depois conversarmos? Acho que vai dar tudo certo. Você também acha, não é, Lucas? — por baixo da mesa eu toco em sua canela. Sem chutar.

Ele treme antes de responder.

— Sim, eu concordo. Estou adorando tudo, senhora.

E eu estou adorando a presença dele aqui. Novamente. Sinto meu coração bater mais rápido.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora