Lucas
Odeio ficar doente! Aliás, alguém gosta? Acordei tão mal que pensei que minha presença neste mundo estava chegando ao fim. Tive muitas dificuldades para me levantar da cama e, quando fui ao banheiro, minha urina estava muito amarelada. Parecia suco de maracujá de pacotinho. Chamei meus pais e eles me medicaram aqui mesmo, mas o remédio que eu sempre tomei desde criança estava acabando e minha mãe teve que ir à farmácia. Mamãe não me deixa sair do quarto, o que é um saco. Mas entendo sua preocupação. Eu sei que tudo isso foi por causa da chuva de ontem à noite. E tudo bem, eu aguentaria a maior das tempestades se fosse para beijar a boca dela outra vez. Compartilhar com ela o gosto do pudim da sua mãe.
O que eu mais quero fazer é ir até a casa dela e, juntos, sofrermos. Mamãe me disse que Mari também não está legal. Somos tão loucos um pelo outro que até na doença estamos juntos. Bom, pelo menos não é submissão.
Estou com muita vontade de comer uma barra de chocolate, mas sei que não é o momento ideal. Não quero ficar com dor de barriga. Já estou mal à beça.
— Filho, posso entrar? — minha mãe pergunta do outro lado da porta. Ela quase sempre pergunta isso antes de entrar porque odeia me incomodar. Como se ela fosse capaz disso.
— Pode, mãe. — minha voz soou mais como um sussurro, mas ela ouviu, já que entrou dentro do quarto. — Não consegui dormir. Eu tentei. Mas quero sair daqui. Sinto-me preso.
— É melhor assim. E lembre-se do remédio, rapazinho. Vi a mãe da Mari. Ela, a mãe, é claro, trará canja para você.
— A senhora já me contou, mãe. — ela está tão preocupada que até esqueceu disso. — Espero que a Mari fique boa logo, logo. E eu não sabia sobre a canja. A Mari não pode vir trazer?
Mamãe me abraça e sei que está sentindo quão quente meu corpo está.
— Não é assim tão fácil, meu amor. Ela também está resfriada. É melhor que vocês não se encontrem até tudo estiver resolvido. As saúdes de vocês importam muito.
— Certo, mãe. Eu entendo.
Ouvimos a campainha e mamãe sai do quarto.
Por mais que eu saiba que Mari não pôde vir, gostaria que viesse. A janela do quarto dela está coberta pela persiana. Queria vê-la. Faz horas que não a vejo e já sinto o meu mundo desmoronar. Estar apaixonado é uma das melhores sensações.
Não me contenho e desço as escadas aos poucos. Meu pai, que está com o meu irmãozinho, não gosta de me ver fora do quarto, mas eu peço para que não brigue comigo. Na sala, a mãe de Mari conversa com a minha mãe. Vejo um recipiente branco no sofá e sei que é a canja. Meu nariz está tão entupido que nem consigo sentir o cheiro, que deve estar divino.
— Eu deixei uma pequena porção esfriando. Tenho que ir. Mari precisa de mim. Melhoras para o Lucas, querida.
— Para a Mari também. — minha mãe lhe dá um abraço.
— Ei! — tento gritar, mas sei que passei longe disso.
— Lucas! — minha mãe está brava. Ela me disse para não fazer esforço. Mas ultimamente tenho ficado teimoso. — Já para a cama! Eu disse que a Mari não poderia vir.
— Desculpa, mãe. Oi, tia. — toco no braço da mãe de Mari e ela sorri. — A senhora poderia me fazer um favor? Aliás, um favor para nós dois?
— E qual seria, meu bem?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...