Lucas
Acho que eu não deveria ter dito isso. Foi tão do nada, surpreendente. Mas Marina sorriu também. Eu mesmo vi. Não consigo parar de mexer a perna direita. Mas eu precisava dizer a ela o que tenho pensado ultimamente. Nos conhecemos há pouco tempo e já me sinto assim sempre que a vejo.
- Estou sendo sincero, Marina.
- Eu sei, Lucas. Vejo isso. Mas não acha que é cedo demais?
- Por quê? Eu só disse que não paro de pensar em você. Não disse que estou apaixonado. Não é isso.
É isso, sim. No começo eu pensei que não era paixão, mas talvez algo como a ansiedade em encontrar uma boa amiga. Mas a partir do momento que o meu coração começou a bater mais rápido somente ao encontrar com ela eu percebi que estou apaixonado. E tudo aconteceu tão rápido. É a primeira vez que me apaixono. Sempre tive medo de que fosse rejeitado pelas garotas só pelo meu gosto por histórias em quadrinhos. Ou meu vício em chocolate. Até pela minha cor de pele. Eu já presenciei o racismo várias vezes. Não obstante estou aqui nesta nova cidade hoje.
E ainda assim o meu coração continua a bater como pipoca de milho pulando dentro da panela. Tum-Tum-Tum. Estou com vontade de arrancá-lo com minha mão e oferecer-lhe a ela como uma prova da minha verdade. Dos meus sentimentos. Na verdade eu sei que estou exagerando. Preciso do meu coração. Mas quero compartilhá-lo com ela. Da mesma forma que quero (queria, melhor dizendo) que ela faça o mesmo e me dê um pedaço do seu coração lindo. Não sou cardiologia, mas sei que é lindo. Assim como seu sorriso. Sua generosidade. Tudo o que fez e faz com que eu me apaixone por ela. Marina, doce Marina.
Levanto do sofá e, no momento em que me dirijo à porta, ela segura minha mão. Estremeço com o seu toque.
- O que está fazendo, garoto? Por que quer ir embora? - sinto seu hálito doce. - Fique aqui, por favor.
- É que eu estou envergonhado.
- E por qual motivo? Você mesmo disse que isso não tem nada a ver com paixão. Eu também não paro de pensar em você desde então. Porque você é muito legal. Nunca vi um garoto igual a você.
Não consigo esconder meu sorriso. Então ela também tem pensado em mim frequentemente.
- Vai, senta ali de novo e vamos conversar. Vamos nos conhecer melhor. Tornar esta amizade ainda mais sincera e verdadeira. - um sorriso de orelha a orelha brota em seu rosto. - Topa?
- Sim, claro.
"Com você eu topo qualquer coisa" tenho vontade de dizer, mas só me sento. Um gato desce as escadas correndo e passa por nós.
- É a Tigresa. Ela é uma figura. Depois você vai se acostumar com ela.
- Ah, que legal.
- Quer tomar alguma coisa? Não tem suco feito, mas posso fazer agora mesmo.
- Não, tudo bem. - digo. - Vamos só conversar. Não vou poder demorar muito porque minha mãe não sabe onde estou.
- Mas está seguro, isso é o que importa.
Acredito em suas palavras.
✡
Falamos sobre tantas coisas. Já parecemos amigos de infância. Falo como era a minha vida na outra cidade, sobre o meu irmãozinho, quando comecei a gostar de histórias em quadrinhos. Evito falar sobre o que aconteceu na antiga escola. Ainda é algo muito recente. Marina me fala sobre seus desenhos e que logo irá me mostrá-los. Fala sobre seus artistas favoritos e sobre novelas. Muitas novelas. Até comenta sobre o tio que trabalha fazendo queijo.
Meu estômago faz um barulho alto e fico com vergonha. Estou tão acostumado a comer chocolate antes do almoço que meu organismo sente falta.
- Não tenho chocolate, desculpa.
- Imagina. Eu trouxe uma barra no meu bolso. Quer? - ofereço enquanto ponho a mão no bolso.
- Sim, novamente, sim.
Rimos e divido a barra com ela.
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Um Amor Em 94
RomanceEm algum lugar do Brasil, 1994. Marina Lopes é uma bondosa garota de 17 anos que sonha em se tornar jornalista e cobrir uma Copa Do Mundo. Administra com a mãe uma pequena banca de revistas que já vira dias melhores. Fã de música internacional, a jo...