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Lucas

Estamos voltando para casa. Seguro a sacola com a minha revista como se estivesse segurando ouro. Mas isso vale bem mais, para ser sincero. Porque é algo do meu agrado, algo que me alegra. Gosto de valorizar o que me faz bem. Acima de tudo. Abrimos o portão e meu pai entra apressado dentro de casa. Ele terá uma audiência em uma hora e não pode se atrasar de jeito nenhum. Não estou vendo minha mãe na sala, então deduzo que ela está dando banho em meu irmão ou fazendo-o dormir. Certamente é algo relacionado a ele.

Abro a porta do meu quarto e logo coloco o sétimo volume em seu lugar de origem e respiro fundo. Cheguei a pensar que não iria conseguir encontrar. Tiro os sapatos, as meias e as calças e visto uma bermuda roxa que frequentemente uso em casa e calço minhas sandálias. Saio do quarto e desço as escadas. Ainda não tive uma oportunidade de conhecer o bairro, mais precisamente a rua em que agora moramos. Saio de cada e começo a caminhar.

O asfalto está um pouco "detonado". Espero que a prefeitura daqui seja consciente e venha dar um jeito nisso. Vejo uma mercearia com caixas repletas de frutas e verduras na frente. O dono, um homem barrigudo e barbudo acena quando me vê e eu faço o mesmo. Lembro que minha mãe disse durante o café da manhã que os vizinhos daqui foram muito gentis com ela. Talvez já saibam que faço parte dos novos inquilinos.

Dois cachorros correm e eu mudo meu trajeto. Vejo a senhora que estava na banca de revistas. Ela me vê e sorri.

— Que bom que encontrou o que procurava.

—  Sim, eu estou muito feliz. Obrigado. — sorrindo, estendo minha mão. Trocamos um aperto de mãos.

— Disponha. Então, você é um dos novos moradores da rua? — percebo que sua pergunta é um pouco como se fosse motivo de fofocas. Que vontade de rir.

— Sou, sim. Somos eu, meus pais e meu irmãozinho. Nos mudamos recentemente.

Ela olha para o lado.

— Eu sei. Faz anos que ninguém consegue comprar aquela casa. Custava muito dinheiro.

— Entendi.

Ora, não somos ricos. Mas meus pais já economizavam dinheiro há anos para que pudéssemos morar numa casa melhor. E o que infelizmente me aconteceu na minha antiga escola conseguiu apressar isso.

Vejo a mesma menina da banca correndo em nossa direção com uma caixa nas mãos. Na hora em que estávamos procurando pela revista eu não reparei que suas roupas ficam bonitas em seu corpo. O macacão jeans e a camiseta rosa-goiaba combinam. Ela arregala os olhos quando me vê, mas primeiramente refere-se à mãe:

— A senhora esqueceu de guardar esta caixa de pirulitos. Há um estoque gigantesco lá na banca. É melhor não criarmos muito volume. — nossos olhares se encontram. — Oi, fã de histórias em quadrinhos. Vejo que já guardou o exemplar, não foi?

Assinto.

— Sim, eu estava ficando ansioso. — falo corando. — Vocês moram aqui?

— Moramos, sim. — a senhora responde pela filha. Pega a caixa de suas mãos. — A família dele se mudou para aquela casa, Marina.

— Ah, somos vizinhos, então.

Sorrio e percebo que elas não sabem o meu nome.

— Eu sou o Lucas. Você é a Marina, já sei.

Rimos e trocamos um aperto de mãos. É a primeira vez que faço isso em duas ocasiões tão repentinas.

— Prazer em conhecer você, Lucas. Espero que goste do bairro.

E eu já estou, sim. Estou amando.

— Eu vou só pegar uma coisa em casa e irei voltar para a banca. Você fechou tudo, não fechou, filha?

Marina assente e sua mãe nos dá licença e entra em uma casa ao lado de mim.

— Nossa! Eu não sabia que estava parado bem em frente à sua casa.

— Acontece. Mas então, quer dar uma volta? Minha mãe não vai demorar. Posso te apresentar um pouco da rua assim que ela voltar para a banca. Aceita?

Respondo com um sorriso gigante.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora