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Marina

Minha mãe permite que demos uma volta, mas que eu volte para a banca o mais rápido possível. Nos despedimos e guio Lucas pela rua. Estamos caminhando lentamente, vejo que ele está disperso. Vemos dois garotos mais jovens que nós empinando pipas em uma laje. Ele me diz que onde morava antes não era comum presenciar tal cena.

— Sério? Vocês moravam num castelo, por acaso? — pergunto e tento soar engraçada. E funciona, pois ele ri.

— Nós morávamos num belo apartamento. — diz. — Meus pais sempre tiveram vontade de comprar uma casa grande e um acontecimento muito triste fez com que saíssemos de lá. Assim viemos parar aqui.

Percebo que seu semblante não é dos melhores e não pergunto o que aconteceu. Ora, nos conhecemos há mais ou menos uma hora, não temos tamanha intimidade. E também não sei se ele gosta de tocar em tal assunto. Não quero ser intrometida e muito menos trazer sua provável tristeza de volta. Gosto de ser prestativa, mas agora percebo que a melhor prestação de serviço para Lucas, no momento, é o meu silêncio perante sua resposta.

Ele foi o primeiro a cortar o silêncio com uma espada invisível.

— Qual a sua idade, Mariana?

— Meu nome é Marina, Lúcio.

— Desculpe. E o meu é Lucas, tá bom?

— Eu sei, só quis te provocar.

Rimos como se fôssemos amigos há anos. Como se este momento já houvesse sido predestinado pelos deuses. Atravessamos a pista e paramos próximos à praça do bairro. Uma pista de skate estava sendo construída, assim como uma quadra de futebol. Lucas fica admirado com a vista e tornamos a caminhar. Aponto para um dos bancos que não está com cocô de passarinho e sento primeiro, batendo no espaço ao meu lado para que ele também sente-se. Dito e feito.

Vejo-o colocar uma das mãos no bolso da bermuda e reparo que antes ele estava de calça e sapatos e agora está de bermuda e sandálias. Uma barra de chocolate ao leite aparece em suas mãos como um toque de mágica.

— Você não tomou café da manhã, menino?

— Tomei. Mas gosto muito de chocolate. Se algum dia você tiver o desprazer de me ver zangado ou triste, é só me dar chocolate. Não precisa ser necessariamente uma barra. Até um bombom dá para o gasto.

— Uau! — começo a dar gargalhadas e ele me oferece. Aceito e parto um tablete para mim. Mordo e sinto o gosto do paraíso. — Que delícia!

— Nem me fale.

Acho engraçado o seu jeito de mastigar. Parece um castorzinho comendo madeira. Seus dentes grandes demais me trouxeram tal comparação.

O barulho dos homens que estão construindo a quadra é tamanho, mas sinto que ele deseja permanecer aqui e sinto a mesma coisa. Isso se ele realmente estiver sentindo o que eu deduzi.

O vento faz meus cabelos se esvoaçarem e tento ajeitá-los com tamanho esforço que chega a ficar engraçado.

Rindo, Lucas me pergunta novamente:

— Qual a sua idade?

— Fiz dezessete anos na semana passada. E você?

— Como assim? Eu jurava que você tinha quinze no máximo. Eu tenho dezesseis.

Começo a gargalhar alto, mais mesmo para debochar dele.

— Sou mais velha, bebê. Aliás, para não me iludir com os meus cinco minutos de fama, você ainda vai completar dezessete neste ano ou acabou de completar dezesseis?

— Irei completar dezessete em março. Estou pasmo por descobrir que ambos nascemos em setenta e sete. Você aparenta ser mais jovem, Marina.

— Estou preservada, querido. — no fundo estou igualmente chocada. Eu sabia que não deveria comemorar cedo demais. — Se os meus pais tivessem me feito um pouco mais cedo eu teria nascido em 1976. Aí, sim, seria mais velha.

— Hahaha. Mas isso importa mesmo? Ser mais velha do que eu?

— É legal quando a mulher é a amiga mais velha.

— Então já somos amigos, é isso?

Não respondo e volto a morder minha parte do chocolate.

Um Amor Em 94Onde histórias criam vida. Descubra agora