Capítulo 1- Sua Dama Corajosa

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~Ciel~

Já li esta carta de Elizabeth incontáveis vezes e ainda não entendo a urgência ou até a razão de sua visita visto que ela esteve aqui semana passada. Cheguei a perder a paciência depois que ela redecorou a mansão, eu assumo uma pequena parcela de culpa pelo nosso desentendimento, mas com isso imaginei que ela não me visitaria durante um bom tempo.

Desci as escadas colocando a carta dobrada em um dos meus bolsos, ouvia o barulho da carruagem enquanto me preparava para os gritos estridentes de Lizy, demorou um pouco até finalmente a porta se abrir.

Fui surpreendido pela ausência da voz dela e de seu comportamento agitado de sempre, embora estivesse calada esbanjava um sorriso caloroso. Meus olhos são atraídos pela alta mulher atrás de Lizy, ela usava um vestido preto com alguns detalhes em branco, também portava um guarda-sol, seu chapéu embora fosse grande não escondia o brilho mortífero de seus olhos azuis cinzentos.

- Olá Ciel!- disse Lizy sutilmente.

- Olá Elizabeth.

Fiquei esperando para que ela me corrigisse pedindo para eu a chamar pelo apelido, o que não aconteceu, ela apenas me convidou para que fossemos jogar uma partida de xadrez. Meus olhos ainda permaneciam naquela mulher, a dama de companhia de Elizabeth cheirava a flores de velório, suas roupas transmitiam um luto eterno, era como se eu estivesse de frente com a morte encarnada.

Nos separamos e levei Elizabeth para a sala de jogos implorando para que a figura não nos seguisse.

Elizabeth se encontrava concentrada no jogo, nunca a vi assim antes, confesso que foi difícil ganhar aquela partida, pois aparentemente, ela andou treinando.

~Narrador~

Aquele olhar era de certa forma familiar para Sebastian, de algo que ele tinha certeza, aquela mulher não era humana.

Clara entrou primeiro na cozinha, Sebastian não desviava o olhar dela e também não se esforçava para esconder isso.

- Algum problema Sebastian?- perguntou a alta morena com um leve sorriso.

Sebastian junta as sobrancelhas em uma expressão de desgosto, após analisar completamente a moça pergunta:

- Quem é você?

- Sou Clara, dama de companhia da senhorita Midford.

Sebastian se aproximou de Clara como sempre fazia com as empregadas, seu passatempo favorito na mansão era provar a si mesmo quanto era irresistível, suas mãos enluvadas roçaram as maçãs do rosto de Clara que retribuiu o gesto audacioso com desdém.

- Seus modos realmente são vomitativos.

- Há algo de errado?- pergunta o mordomo com voz aveludada e doce.

- Será difícil listar algo certo no senhor, tão desagradável. - disse ela se afastando e caminhando até a porta.

A entrada ofegante de Finnian, o jardineiros, faz Sebastian endireitar a postura, eles trocam sinais e Clara aproveita a deixa para se ver livre do insolente mordomo.

Ela se dirige a sala aonde Ciel e Elizabeth estavam, bate na porta e depois de ouvir o consentimento de Ciel, entra perguntando como quem nada quer:

- Precisam de algo?

- Não, obrigado.- diz Ciel

- Estou bem Clara!- responde Elizabeth.

A morena se senta em um sofá no canto perto da janela.

Ciel definitivamente não a queria por perto, enquanto a mulher caminhava pelo cômodo o coração do rapaz batia no compasso do bater dos saltos elegantes da misteriosa dona Morte.

- Senhorita - chamou Ciel, - me traga uma xícara de chá.

A mulher assentiu, mas assim que fechou a porta atrás de si ela encontra Sebastian, ele pega o braço de Clara fortemente.

- Como você chegou aqui?!- pergunta Sebastian em um tom nervoso.

A mulher puxa o braço:

- Ora, que tipo de funcionaria seria eu se não soubesse aonde se encontra minha senhora?

O mordomo aperta ainda mais a mão em volta do braço da dama de Elizabeth acompanhando sua ameaça:

- Você não me engana seja lá o que estiver escondendo eu vou descobrir!

Ela aperta a bochecha de Sebastian o afrontando, com um sorriso desafiador provoca:

- Vai ser divertido te ver morrer tentando!

Ele a solta entrando para o cômodo. A dama de companhia por sua vez percebeu barulhos anormais do lado de fora da mansão, saindo porta a fora avistou uma troca de tiros entre os empregados e mercenários.

Assim que percebem Clara exposta e indefesa em menos de segundos rifles são apontados para a mulher, com um simples gesto de sua mão três homens caem subitamente mortos. Assustados os outros somem em meio às árvores do bosque.

- Obrigada...- disse a camareira com medo depois de analisar o que havia acontecido.

- Por nada!- respondeu a morena sorridente.

Quando todos estão para entrar de volta a mansão Clara se vira bruscamente atirando um olhar mortal, em seguida é  possível ouvir a queda de algo pesado no meio do bosque que rodeia a mansão, tudo foi tão rápido que ninguém entendeu ao certo o que acabara de acontecer.

Clara andou graciosamente entrando no bosque, atravessou uma moita, desviou de algo e encarou naturalmente os empregados que a  acompanharam.


Atrás da moita havia um homem morto, o cadáver segurava uma arma, aparentemente algo cortou uma veia vital em seu pescoço.

Enquanto os três encaravam perplexos o cadáver ensopado de sangue, a morena foi saindo como se nada tivesse acontecido. Na alta janela Sebastian observava tudo, a cena que acabara de acontecer só aumentou suas certezas, agora restava apenas saber o que tanto escondia a dama de companhia de Elizabeth.

Por ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora