Capítulo 19- Sua Dama, Fiel (Parte 2)

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Longe dos olhos do conde Clara se permite demonstrar o cansaço, a transformação levou muita energia, suas pernas bambeiam e ela cai, mas antes que seu corpo encontrasse o chão Peter a segura firme, o moreno tinha um largo sorriso carregado de significado, curiosa Clara pergunta:

- Porque sorri?

Os olhos de Peter brilhavam de um jeito diferente quando respondeu:

- Estou orgulhoso da senhorita, enfrentar, mesmo que um mestiço, no estado em que se encontra é quase um pedido de morte.

- Disse como se eu fosse uma velha ou acabada, apenas estou sem um olho nada de mais.

- A senhora faz pouco caso, mas, nós fomos criados iguais aos quebra-cabeça, se faltar uma peça ficamos frágeis, fáceis de desmoronar.

- Então me responda, como que tendo você ao meu lado mesmo que faltando um olho me sinto inteira?

- Estarei sempre ao seu lado senhora, sempre- disse Peter acariciando os cabelos de Clara.

Chegando na mansão Midford, os dois foram recebidos pelo silêncio, Elizabeth estava sentada na janela olhando o jardim. Ao ouvir o barulho da porta instintivamente ela move a cabeça, da porta Clara pôde perceber que Lizy esteve chorando.

Ainda fraca, cambaleou até Elizabeth, com a ajuda de Peter ela se senta ao lado da sua senhora.

A chuva aos poucos se manifestava, pingos grossos batiam na janela, Elizabeth respira fundo e começa:

- Clara, o que você fez?

- Do que está falando, senhora? Aconteceu alguma coisa na minha ausência?

- Ciel pediu para que eu a demitisse.

- E o que a senhorita disse?

- Que eu não podia - Disse a loira caindo novamente em lágrimas.- ele respondeu que me daria mais tempo para pensar, e se a minha resposta ainda fosse não eu teria que arcar com o fim do noivado.

Clara se levanta, a chuva aos poucos enfraquecia, olhava fixamente para Elizabeth quando disse:

- Honrarei a minha palavra, farei com que vocês tenham uma vida longa e feliz juntos, embora muitos tentem matar o conde por achar que ele tem o dom de me invocar- e apontando para a loira Clara completa - poder que habita apenas em você.

- Em mim?! Mas como?

A expressão de Clara se torna sombria, parecia relembrar um passado que durante muito tempo se esforçou para esquecer.

- Garota ingênua, por acaso não se lembra da última vez que viu seu titio Vicente?

- Ele me aplicou uma injeção, dentro tinha um líquido vermelho, aquilo doeu.

- "Aquilo" era o sangue dele.

Elizabeth leva um susto, o sorriso da morena cresce a medida que desenrolava a história.

- O dom ' hive ' vem sendo passado de pai para filho desde o começo da família Phantomhive. Ao descobrir seus poderes Vicente temeu pela vida da sua família, por isso, me invocou e me prendeu no livro como se fosse o único meio de acabar com aquilo.

" Milagrosamente a rainha Vitória descobriu sobre isso, não demorou para que uma carta chegasse anunciando o desejo de vossa majestade em ver os Phantomhive mortos.

Vicente não podia evitar, sabia que logo a família inteira estaria morta, também estava ciente de que se morresse com aquela maldição a alma dele seria minha, sendo assim o medo o dominou.

Sua última escolha foi passar o dom para uma pessoa pura, alegre e carregada de luz, a pessoa ideal era você Elizabeth.

O tempo revelou que ele estava certo, a mansão Phantomhive foi consumida pelo fogo, mas uma coisa Vicente não previu, o fato do pequeno e frágil Outono sobreviver.

Por isso você conseguiu ouvir a voz de Peter na biblioteca, me tirar do livro e firmar um acordo comigo. Sabe mais do que ninguém que o que eu almejo não é a sua alma, não são seus bens nem nada do que possui."

- Sei o que você pediu em troca, eu não esqueci disso.

- Bom, muito bom - disse Clara para depois ordenar a Peter que ele preparasse um banho de espumas para Lizy.

A mulher mal se senta no sofá e Grell aparece como um raio, passando pela porta com um rosto preocupado, sua voz estava carregada de medo.

- Clarinha! Você tem que ajudar o Sebastian!! Ele sumiu e o Ciel tá me deixando louca com aquelas ordens estranhas!! Me ajuda! O menino quer sair procurando mestiços, e como se já não fosse o suficiente Will quer que eu participe de uma missão super importante e...

- DROGA, DROGA! DROGA!!- Interrompe a morena- Peter Kalte Nacht!! Venha já aqui!

O homem se teleporta para a sala, nas mãos trazia um vinho e duas taças.

- O que houve?

- Aquela porcaria de mestiço!! Ele quer renovar a humanidade.

- Então vamos para uma guerra? Então podemos acabar mortos?- pergunta Peter.

Clara apenas acena com a cabeça, o moreno entrega uma das taças para Clara, enche as duas com vinho e levanta a sua dizendo:

- Então vamos brindar!

- Como assim?! O mundo está prestes a ser incendiado, a humanidade está a beira da extinção e vocês vão brindar?- disse Grell indignada.

Clara responde em um sorriso:

- Eu não posso recusar, sabe quanto tempo Peter está guardando essa garrafa? Seria uma tragédia morrer sem sequer experimentar!

O tilintar das taças soou tão leve, parecia até que a cena era apenas uma reprodução de uma memória antiga daqueles dois.

Os dois correriam risco de sumir da existência, de simplesmente ficar na memória dos conhecidos, e mesmo assim comemoravam, apenas por estarem juntos, poderem morrer juntos, eles estariam unidos até o final.

- Antes de ir, já que provavelmente morreremos eu queria te dizer uma coisa.

- Diga Peter.

- Eu me sinto estranho, as vezes parece que estou habitando no sol e de repente a temperatura cai de um jeito inexplicável, meu estômago borbulha com certa frequência parece que mil borboletas resolveram fazer morada nele, minhas mãos soam, pernas tremem só de pensar.

- E quando isso acontece?

- Quando eu penso na Mey-Rin, acho que estou doente, será que é algo grave?

Clara olha para Grell que devolve o olhar, seus rostos conservam um sorriso malicioso acompanhado de um rubor fofo.

- E então, o que eu tenho?- pergunta ele preocupado.

- Peter acho que você está apaixonado pela Mey-Rin!- exclama Clara.

Peter vira o rosto tentando esconder a vermelhidão. Clara dá uma cotovelada de brincadeira nas costelas dele.

- Bom, podemos passar na mansão para vocês se verem, pelo menos poderá confessar o que sente antes de morrer...- constatou a morena.

O tom carregado de tristeza, deixa Grell e Peter preocupados, Clara balança a cabeça como se afugentasse algum pensamento ruim, levanta sua taça e convida os outros a brindarem:

- Se eu morrer saibam que foi uma honra lutar ao lado de vocês!

- Ué Grell, não vai brindar com a gente?- pergunta Peter.

- Vocês dois tem um sério problema com alcoolismo, o cheiro disso é horrível!

- Grossa! Também não precisava ofender.- respondem Peter e Clara em coro.

Depois de esvaziarem a garrafa Clara ordenou:

- Siga seu caminho Grell, agradeço imensamente sua ajuda, quanto a você Peter, leve Elizabeth para a igreja, lá ela estará segura.

Por ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora