Por Ela

Capítulo 36- A Carta de Ezael.

~Ezael alguns anos antes da criação de Clara~

São exatamente 7 anos desde que a grande guerra começou, mais um dia em que eu me levanto para lutar contra os demônios, mas antes vou até o quarto de Elena, ela ainda é muito jovem e inexperiente por isso não pode ir junto comigo, da porta da quarto eu a observo dormir, seu respirar é pacífico e me traz paz no meio dessa guerra sem sentido.

Volto para dentro e visto o meu uniforme, pego minha espada, mas antes de sair dou uma última olhada na minha pequena irmã. Me junto ao meu esquadrão, marchamos rumo ao berço da morte, ultimamente um rumor circula por todos os esquadrões, eles dizem que há um espião entre nós, alguém que está matando soldados dentro de suas próprias casas, o general não se pronunciou sobre o que faz o boato se tornar de certa forma verídico.

Ando pensando nisso mais do que contar quantos corpos morreram em minhas mãos ou quantos a minha espada já atravessou.

- Ei Ezael! Atrás de você!- grita Casthiel.

Rapidamente me virei e minha espada corta a cabeça do obscuro.

Casthiel é meu companheiro de guerra e confio a ele a minha vida se for preciso, o considero meu irmão. Ao ver o sangue manchar minhas roupas, meus cabelos e meu rosto pareço voltar a mim.

- No que está pensando Ezael? Por pouco não é morto, aonde estava com a cabeça?- pergunta Casthiel assim que recebemos o sinal para voltarmos para a base.

- Eu estava pensando na possibilidade de realmente existir um traidor entre nós.- digo passando por cima de cadáveres, tanto de soldados celestiais quanto dos malditos seres impuros.

- Pare de se preocupar com isso, se continuar pensando nesse assunto acabará morto.- disse ele em um tom brincalhão.

Apenas solto um leve sorriso de canto enquanto sigo meu caminho. Depois de chegarmos a base tomamos banho e nos trocamos, para depois voltamos para casa, Casthiel me acompanha, assim que chegamos Elena nos recepciona alegremente, e como sempre ambos buscamos esconder os horrores da guerra, mas Elena era esperta demais para não perceber o que tentávamos inutilmente esconder.

Casthiel e Elena se tratavam de maneira diferente, o jeito que ele ria, na frente de Elena ele sempre gostava de sorrir mesmo sem motivo, já ela tinha um brilho nos olhos que não a deixavam esconder seus sentimentos por Casthiel. Eu estava feliz por eles, eu não poderia querer alguém melhor do que ele para ser meu cunhado.

No dia seguinte eu me arrumei como de costume, olhei para Elena que ainda dormia, aquele sempre foi a minha maneira de tratá-la, manter ela longe de mim era o único jeito que eu via de protegê-la.

O comandante e o general me convocaram para uma missão secreta, eu teria que vigiar algumas casas aonde os anjos que comandavam os altos cargos residiam. Ainda estava escuro quando eu vi um ser suspeito se esgueirando pelos muros, rapidamente o enfrentei, usando de um ataque surpresa foi fácil golpear ele, seu sangue escorria e eu não podia deixá-lo morrer, eu queria respostas.

- Por que fazer isso com agente? Nunca fizemos mal algum a vocês!- eu gritei agarrando ele pela camisa ensanguentada.

- Como esperado de um guerreiro celeste, jovem, você não sabe de nada do que realmente está acontecendo.- disse ele sorrindo

- Me diga então!

- Seus superiores buscam a criança da profecia, aquela que será o equilíbrio perfeito entre o bem e o mal, mas tem algo que vocês não sabem.- o demônio estava por um fio, mas ele não podia ir sem me dizer a verdade.

- Diga logo!- gritei sacudindo ele.

- Ela não nascerá humana, nem de natureza demoníaca, ela será um ser de luz, mas não totalmente, a criança será conhecida por sua marca negra.- dito isso o obscuro morreu.

Um estrondo é ouvido, eu tinha acabado de cair em uma distração, voei o mais rápido que as minhas asas podiam, no meio da rua encontrei Casthiel, ele estava de pé em cima e uma pilha de cadáveres, anjos haviam sido mortos por suas mãos. Quando vi aquela cena não contive o choro e gritei:

- Casthiel por que? Por que você nos traiu.

Ele levantou o olhar cheio de lágrimas negras, e me respondeu.

- Sinto muito Ezael, mas esse não é o meu nome, eu sou Spike o pecado da gula.- responde ele friamente.

Eu mesmo sem dizer nada, tirei minha espada da cintura e o ataquei com toda a minha raiva, porém ao aproximar a minha espada ele a segurou com a mão esquerda, me olhou no fundo dos olhos e disse:

- Voe até Elena e a proteja, não há nada que você possa fazer aqui, vá e salve a vida dela!- eu fiquei relutante por um segundo, depois guardei minha arma e me preparei para sair, mesmo um pouco distante eu o ouvi dizer - Diga a ela que eu a amo, não peço o perdão de Elena pois sei que não sou digno, entretanto apenas desejo que ela seja feliz.

Ignorei o pedido do traidor, segui voando rápido, minha respiração estava acelerada com a possibilidade de entrar em casa e encontrar Elena morta.

Assim que abri a porta vi seu corpo estirado, seu sangue havia respingado na parede e molhado o chão inteiro. Imediatamente a peguei em meus braços e abro um portal para o mundo humano, mais especificadamente na casa de um homem que se dizia bruxo, mas eu sabia que não passava de um Shinigami. Diziam que ele tinha o poder de trazer os mortos a vida, mas seus serviços tinham um preço muito alto.

Coloquei a minha irmã em algo que parecia uma mesa de pedra, expliquei a situação sem muitos detalhes e o homem pareceu pensar, afastou um pouco a franja prateada aonde me é revelado seus olhos verdes, me encarou um pouco mais e depois finalmente deu seu preço.

- Eu posso trazer ela de volta, mas eu quero as suas asas em troca.

- Feito!- disse tão rápido que o Shinigami se surpreende.

Ele me manda esperar fora da sala, não demorou muito para que ele terminasse, depois de me mostrar Elena que dormia tranquilamente finalmente me cobrou o pagamento. Eu tinha medo, mas ao mesmo tempo tinha determinação, puxei a minha espada e eu mesmo cortei as minhas asas.

Anos se passaram e Elena amadureceu, em um certo dia é anunciado que a família E seria presenteada com mais um integrante, um mensageiro nos trouxe dois pequenos bebês, ele disse que por ordem divina eles deviam ser entregues juntos. Elena estava muito feliz com a notícia, mas ao ver as crianças eu entrei em choque, uma tinha os cabelos totalmente negros o que é algo muito estranho visto que nenhum iluminado tem esse tom de cabelo, na minha cabeça a voz do demônio dizia:

-" Ela não nascerá humana, nem de natureza demoníaca, ela será um ser de luz, mas não totalmente, a criança será conhecida por sua marca negra."- e se a marca negra for os cabelos de Emma?

Aquele pensamento me perturbava tanto que eu não suportava olhar para Emma, saber que ela pode ser a culpada pela guerra na qual eu nasci, cresci e lutei, culpada pela morte de Elena, culpada de tudo!

Não suportando mais aquela situação eu fiz uma armação da qual Emma não fosse capaz de escapar, roubei o livro amaldiçoado da biblioteca sagrada, o entreguei para Emma e a mandei esperar debaixo de uma árvore, a ronda dos guardas estava próxima e viram ela portando o livro proibido.

Emma falou apenas a verdade, mas como foi pega em flagrante foi julgada e condenada ao inferno por orgulho, agora depois de muitos séculos ela volta e quer arruinar a paz que estou criando no mundo, eu vou ter que fazer algo a respeito, matarei Emma se for preciso!

Mas se eu morrer no processo quero que saiba, todas as minhas ações foram por amor a minha irmã....

" Uma carta escrita pelo único anjo que por amor escolheu não voar."