Capítulo 44- A Iluminada & O Ceifador de Anjos

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~Spike~

Estou no telhado da mansão Midford, a rainha me disse que tem algo especial e afirmou que irei gostar, por se tratar de Clara não tenho preocupação alguma sobre o que provavelmente pode ser, Clara sempre teve boas intensões, diferente de Lilian, aquela mulher fazia o inferno pegar fogo.

Sinto a brisa bater nos meus cabelos, olhei para o céu estrelado, o vento sussurrava o nome de Elena em meu ouvido, o que eu não daria para estar com ela agora? O que eu não abriria mão para ter a simples chance de começar de novo? A verdade era evidente eu abriria mão de tudo o que tenho para voltar no tempo, para aqueles momentos em que eu não precisava me preocupar, pois o fardo da culpa que carrego ainda não repousava em meus ombros.

Ela sabia, desde o momento em que Ezael nos apresentou, que eu era um demônio, e mesmo assim não teve medo, agiu como se de nada soubesse, na primeira oportunidade ela me perguntou sobre a cor dos meus cabelos.

- Ah, eu não sei bem, acho que os tenho desde que nasci.

- Estranho um obscuro ter cabelos tão claros.- comentou ela.

Eu fiquei pasmo com aquilo, como ela poderia saber se eu nunca deixei transparecer nada? Não dei brecha, ela obviamente estava blefando.

- Do que está falando?!- perguntei forçando uma risada.

- Porque não escondeu seus chifres?- questionou ela inocente.

Aquilo claramente não era um blefe, ela estava falando sério sobre aquilo.

- Claro que eu escondi eu não seria tão idiota, mas como você consegue?-respondi deixando o medo tomar conta do meu corpo.

Ela esticou as mãos e começou acariciá-los, e exclamou impressionada:

- Eu os consigo ver, são bem pontudos e brilhantes!

Eu imediatamente afastei as mãos dela, Elena me olhava com os olhos brilhantes repletos de curiosidade, senti atração por aquela pequena curiosa.

- Tá tira a mão, tira a mão, estamos em guerra como você pode ter um coração puro no meio de tanto sangue?- perguntei sem sequer notar o sorriso que se formava no meu rosto.

- Ezael não me leva para o campo de batalha.- confessou ela tímida.

- Ah não, provavelmente você já contou a ele, não é?- disse sentindo o meu fim iminente.

Ela juntou as minhas mãos, meus olhos confusos e atentos foram postos em seu rosto delicado e compreensivo, Elena afirmou:

- Não, não disse nada ao meu irmão.

- Eu sou um demônio, sou seu inimigo, porque não disse nada?- perguntei sentindo o medo aos poucos me deixar.

- Porque eu te achei bonito.- disse ela corando levemente as bochechas.

Ela era sincera, mostrava tudo o que sentia, o completo oposto de mim, que fui treinado para mentir, senti meu coração palpitar, de repente as palavras fugiram e eu fiquei totalmente paralisado enquanto a minha respiração ia se tornando mais rápida a cada segundo.

- Eu quero fazer uma coisa, posso?- perguntou ela me tirando do transe.

Meu rosto esquentou, na minha mente haviam se passado mil e uma hipóteses do que provavelmente ela queria, claro que a cada segundo era uma mais obscena que a outra, aquilo me tirava o fôlego e eu apenas acenei em concordância, ela se esticou e beijou a minha bochecha, logo voltou para casa, eu não pude conter as risadas, me achei um idiota por pensar que uma iluminada de coração puro poderia fazer algo como aquilo.

Os meses foram passando, as lutas ficavam cada vez mais sangrentas, e aos poucos a data prevista para a vingança do meu povo se aproximava, eu temia pela vida de Elena pois diferentes dos mortais se algum de nós morrer simplesmente desaparece da existência. A data chegou mais uma reunião com os outros infiltrados terminava, com o plano na memória eu deveria matar aqueles com mais influência sobre os exércitos celestes.

A noite anunciava sua chegada, peguei a carta e a chave que abria a torre Sul, pois aquele era o meu posto então naquela noite estaria vazio, cheguei até a janela da casa de Elena ouvi a voz de Ezael dizer:

- Eu volto logo, enquanto eu estiver fora não saia e não deixe ninguém entrar aqui.

Assim que a porta bateu eu entrei em ação, a chamei e implorei para que se escondesse na torre Sul, porém a sua resposta foi:

- Ezael disse que é para eu ficar aqui.

- Se ficar aqui você provavelmente morrerá.

- Casthiel, você sabe de algo que eu não sei?

- Apenas vá, tentarei de todas as formas te proteger.

Eu dei as costas para Elena, pronto para ir embora, mas ela me chamou, eu quase corri novamente para a janela, ela agarrou meu colete e me beijou, a ação repentina me pegou de surpresa.... Então é assim que se sentem os mortais que se dizem "estar nas nuvens"? Aquele sentimento ficou gravado em mim, como um golpe que deixou uma marca profunda em minhas memórias, aquele foi o nosso primeiro e último beijo.

Depois disso agente se separou, eu só voltei a revê-la no casamento de Clara, ela estava diferente, ela sequer me cumprimentou, não a culpo, Ezael deve ter contado o que eu fiz, se fosse eu em seu lugar também não perdoaria um assassino mentiroso. Elena mudou tanto, parece uma mulher de 30 anos enquanto eu, mesmo sendo muito mais velho, optei pela aparência de um moleque de 15.

A rainha está demorando, o que será que houve com ela, ouço uma canção, olho para baixo e vejo Calebe ele canta alto dançando pela rua como se não houvesse ninguém, ele deve estar bêbado para ter perdido a noção da vergonha, me pergunto quantos goles ele tomou para chegar nesse estado catastrófico. Apesar das diferenças físicas ele é a cópia de Clara.

A noite está estranhamente fria, apesar de gostar do clima de Londres é anormal estar tão frio em uma noite de primavera, posso estar errado, porém tenho um mal pressentimento sobre essa noite. Apenas desejo estar errado. 

Por ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora