Capítulo 6- Sua Dama, Ardilosa.

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Se o trabalho de Clara não era fácil, o de Sebastian se tornara duas vezes pior, Sebastian era especialista em lidar com várias coisas, mas ao seu tempo já que o conde não se importava com quando as tarefas fossem feitas desde que elas estivessem concluídas antes do jantar. Elizabeth pensava justamente o oposto, exigia várias coisas em um curto período, isso bagunçava a mente de Sebastian, o pobre mordomo corria de uma estremidade da casa a outra, hora levava sapatos, hora levava vestidos.

Sentado no sofá da sala estava Peter, o homem não se esforçava para esconder as gargalhadas e nem fazia questão disso, já nervoso com a situação Sebastian questiona:

- Você vai ficar aí sentado sem cumprir seus afazeres? Ou está sendo pago para rir as minhas custas?

- Para ser sincero não tenho exatamente um cargo sendo assim não tenho afazeres, mas gosto muito da situação, agora por exemplo você engraxou alguns móveis e passou o creme para lustrar nos sapatos, não tem como não rir.- disse ele voltando a cair na risada.

Percebendo seu grande erro Sebastian tentou concertar, mas antes que pudesse terminar Elizabeth soltou outro grito estridente:

- Sebastian!

O alto mordomo se apressou para atender a sua nova senhora, deixando Peter na sala gargalhando. Além de ter o prazer de provar para Clara que ela estava errada, ele poderia aproveitar o tempo que estava ali pois não teria outra chance para descobrir o que mantinha a mulher perto de Elizabeth, se elas tinham um celo ou até mesmo como elas se conheceram.

Essas perguntas ecoaram na cabeça de Sebastian o dia inteiro, até ele se livrar de todo o trabalho já estaria bem tarde, pensando nisso ele teve uma idéia.

Sebastian adentrou o quarto trazendo os sapatos recém engraxados e limpos, Elizabeth agradeceu com um largo sorriso, pediu para Sebastian a ajudar a calça-los, enquanto abotoava as delicadas sandálias ele comenta:

- Peter parece triste.

- Porque acha isso Sebastian?

- Está sempre calado, e sua mente parece não estar ali.

A primeira conclusão de Elizabeth abalou Sebastian.

- Ele deve estar com saudades de Clara, os dois são realmente muito próximos.

Sebastian arregalou os olhos, mas logo tratou de ignorar a pontada de ciúmes que ele havia recebido, aquele era o momento certo de colocar o seu plano em prática, respirou fundo e disse:

- Bom, se ele gosta tanto assim da companhia dela a ponto de estar triste acho que a senhora devia ajudá-lo.

- Como?- Perguntou Elizabeth, sempre prestativa.

- Acho que se ocupar ele com afazeres ele ficará concentrado no trabalho e não pensará mais em Clara. - sugeriu o mordomo.

A moça pareceu refletir um pouco no assunto, ela parecia realmente querer ajudar, sem outra escolha aceitou a sugestão dele e logo lotou Peter de obrigações. Sebastian se distanciou dos dois com um sorriso largo, lhe agradava o doce gosto de justiça.

Assim ele se pôs a procurar algum vestígio de Clara na mansão Midford, depois de algumas horas revirando cômodo após cômodo percebeu que não havia nada. Ele parou imediatamente quando não ouviu mais a voz de Lizy parecia tudo tão quieto, por isso Sebastian se pôs a procurar Elizabeth, o primeiro lugar que ele pensou que ela estava era o quarto, por sorte ou destino, ele encontra um caderno em cima da cama da Condessa. "Que estranho"- pensou ele, e com toda a razão pois o caderno estava aberto ali, parecia que foi deixado com o propósito de Sebastian ler, mas porquê?

Ele pegou o caderno em mãos, lendo as primeiras linhas descobriu que se tratava de um diário de Elizabeth, mas porquê ela deixaria algo tão íntimo exposto daquele jeito, mas o fato do diário se encontrar em cima da cama dela, não significava que fosse exatamente Elizabeth que o colocara ali.

A cada pensamento Sebastian se encontrava ainda mais confuso, por isso tratou de afastar todos esses pensamentos e focar no livro que tinha em mãos, ele provavelmente traria as respostas que tanto procurava.

Ele começou a leitura atenciosamente, no começo da página não havia nada de interessante, até que uma parte chamou sua atenção, o trecho dizia o seguinte:

"Mesmo que eu tivesse boas intenções Ciel pareceu não gostar do jeito que decorei a mansão, ele gritou comigo, Ciel que nunca ousava trocar mais que meras palavras estava se referindo a mim aos gritos. Aquilo me magoou profundamente, eu comecei a tremer, parecia que o chão ruíu sob meus pés, atordoada e completamente perdida me pus a correr.

Corria o mais rápido que pude, e quando dei por mim eu estava na biblioteca, eu nunca tive permissão para entrar ali nem quando Vicente era vivo, não sei exatamente como mas algo me atraiu inconscientemente para aquele lugar. Olhava para todas as prateleiras, ergui a cabeça, em uma prateleira um pouco acima da minha cabeça estava um livro, não muito grosso, fiquei hipnotizada, ele era de algum modo... diferente.

De repente uma voz ecoou no ambiente, parecia uma voz masculina não muito grave que me dizia:

- Pode pegar.

Me virei assustada para ver quem era, mas meus olhos não encontraram ninguém, quase sem voz ousei perguntar:

- Quem está aí?

- Vejo que está curiosa, porque não abre o livro e descobre, hein?

Mesmo com medo, me estiquei na ponta dos pés, inutilmente pois não podia alcançar, eu estava realmente curiosa para ler aquilo, como se realmente quisesse que eu o lesse, o livro se jogou na minha frente como que por vontade própria. Tomei coragem e respirei fundo, esperei um instante, mas a voz não se manifestou novamente..."

Sebastian começou a folear o caderno com raiva, as próximas páginas estavam em branco a história parava ali, ele estava atordoado, não sabia o que fazer ou o que achar. Para sua surpresa a gargalhada de Peter denunciava sua presença no ambiente, Sebastian se virou bruscamente.

- Tão previsível, estou surpreso com isso, não sei como ainda me surpreendo com a inteligência dela, isso também não te admira?

O rosto de Sebastian tinha uma expressão de perplexidade, ele ainda não acreditava que foi capaz de cair em um truque tão previsível como aquele. Se sentia patético, mas ao mesmo tempo queria matar Peter.

Uma lembrança rapidamente o fez repensar. Se lembrou de quando ameaçou descobrir o segredo de Clara, e ela respondeu:

- Será divertido te ver tentar!

E se aquilo não fosse realmente mentira, e se fosse uma pista de como as duas se conheceram? No mesmo instante ele lembrou do tom com o qual ela disse a frase, parecia que aquilo era a oportunidade perfeita para fazer disso um entretenimento. Mesmo a sua última hipótese sendo a mais provável ele não descartou a primeira.

A única coisa que ele suplicou nos últimos dias era ter certeza de pelo menos algo em Clara. A misteriosa morena conseguiu arrancar suspiros de Sebastian, mas não eram de amor ou algo do tipo, era por curiosidade e frustração, mas mesmo assim ele estava começando a se afeiçoar a ela, ele só não queria admitir isso.

Por ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora