Trabalho

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Emma Green

Saio do banheiro esfregando a toalha nos cabelos e caminho até o colchão no canto do apartamento minúsculo. Jogo a toalha em cima da mesa de jantar e sento na cama com rapidez.

Olho para uma mesinha pequena que deixo ao lado da cama e vejo o celular diferente que Jake Ballard-Hunt me deu depois da corrida. Me arrisquei um pouco para entrar nisso e agora estava me perguntando se valia a pena.

Tinha sobrevivido por pouco a uma missão no Afeganistão para entrar em outra e morrer? Parecia uma ideia bem idiota para que eu me lançasse desse jeito.

Coloco minhas mãos nos ombros em forma de um abraço e passo o dedão por uma cicatriz. Talvez eu não conseguisse parar de me arriscar, talvez eu fosse viciada em me meter em idiotices.

Olho para o apartamento e dou uma risada debochada. Era isso que eu ganhava, um apartamento caindo aos pedaços e uma terapia em grupo para ex-militares. Era isso que eu ganhava por servir.

Já tinha passado uns dois dias desde que eu tinha corrido, nem a polícia me contatou e nem o celular tocou. Então estava apenas indo de um lado para o outro que nem uma maluca.

A campainha toca e eu me levanto com um pouco mais de ansiedade do que eu queria ter, vou até a porta e destranco as três trancas que instalei por segurança. Então vejo quem estava tocando a campainha.

-Achei que não era para manter contato a menos que algo acontecesse.- falo.

-Vim ver se estava bem e trouxe comida.- ele mostra o saco plástico.

-Eu estou bem.- fico na frente dele antes que entre.- Obrigada pela comida.- pego o saco.

-Emma.- ele suspira e me impede de fechar a porta.- Um ano...

-Você desistiu da missão.- explico.

-Meu tempo acabou e eu não quis continuar.- ele explica.

-Não quis continuar a salvar pessoas que precisavam ser salvas?- pergunto.

-Não quis continuar vendo você se arriscar por porra nenhuma.- ele fala com raiva.- Você se metia no meio dos tiros, entrava em território não autorizado, fazia de tudo para correr perigo.

-Eu estava salvando vidas.- explico.

-Você estava com raiva por ter perdido seu pai, Emma.- ele se aproxima e seus dedos tocam minha bochecha.- Mas eu lembro quando a gente ia dormir e você ia para a minha cama. A gente se dava tão bem.

-Steve.- sussurro.

-Me deixa entrar, Emma.- o nariz dele toca o meu.- Me deixa entrar.

Deixo a sacola cair e puxo ele para dentro, Steve fecha a porta do apartamento e leva as mãos até meus quadris enquanto avanço para beijar ele. Ele me coloca no colo e apenas deixo que isso flua, como sempre fizemos no exército.

𑁍

Emma Green

Abro meus olhos procurando o que está tocando e solto um gemido baixo quando tenho que sair do conforto dos braços de Steve. Ele respira fundo mas não acorda, então me sento na colchão e deixo o lençol cair enquanto pego o telefone especial.

Me ajeito e vejo que tem uma mensagem, olho por cima do ombro e Steve ainda está dormindo. Então levanto totalmente nua e caminho até o sofá quase caindo aos pedaços.

"Amanhã, às 11:00hrs."

Tem um endereço fixado e quando aperto nele vejo que é uma oficina bem grande, observo atentamente e me ajeito no sofá quando percebo que é bem longe da minha casa.

Se eu fosse eles, iria querer ver quem estaria entrando no meu grupo. Então mandaria essa pessoa para bem longe enquanto via seu apartamento, uma ideia bem idiota se essa pessoa fosse eu.

-Steve.- guardo o celular e começo a me vestir.- Steve.

-Hum?- ele vira no colchão e afunda o rosto no travesseiro.- Isso é desconfortável, você deveria comprar uma cama.

-É, com o dinheiro que eu vou tirar de onde?- pergunto e ele abre os olhos.

-Volta para a cama, Emma.- ele pede.

-Não, eu...- ajeito a camisa.- Preciso fazer uma faxina.

-Uma faxina de madrugada?- pergunta.

-Isso.- assinto jogando as roupas nele.

-Qual é.- ele senta e começa a vestir a cueca.- O que você tem agora?

-Eu preciso fazer uma faxina.- falo séria.

-Claro.- ele levanta vestindo a calça e vejo a tatuagem do exército que ele fez.

Eu nunca quis fazer nenhuma tatuagem, já bastava todas as cicatrizes que eu tinha para provar que estive lá. Logo lembro que preciso excluir tudo que existe sobre Emma Green e criar tudo que existe sobre Emma Collins.

Isso é fácil se eu conhecer a pessoa certa. E eu conheço a pessoa certa.

-Emma, você está bem?- pergunta enquanto coloca a camisa.

-Estou.- pego um saco de lixo.

-Eu só quero...

-Que caralho, Steve, eu tô bem!- grito.- Eu só preciso fazer uma faxina, ok? Então que tal você me deixa em paz e parar de me tratar como uma menininha que transou pela primeira vez na vida!

-Tudo bem.- ele pega o casaco.- Se quer ficar sozinha, então fique.

Ele sai do apartamento batendo a porta e começo a colocar todas as coisas que podem dizer quem eu sou na sacola. Claro que não sobrou muita coisa, tudo que eu tinha eram algumas fotos com meu pai e meu colar do exército.

Jogo tudo isso na sacola e deixo em cima do sofá enquanto visto minha jaqueta, afasto os cabelos do rosto e pego a sacola com o isqueiro e um maço de cigarros.

Saio do meu apartamento e passo pelo corredor escuro, o som das minhas botas ecoa pelos corredores. Desço as escadas rapidamente e assim que chego no saguão, abro a porta de saída de incêndio e o beco atrás do prédio está iluminado.

Respiro fundo sentindo o cheiro de esgoto e vejo uma lata de lixo vazia, tiro a garrafa de uísque barato de dentro da sacola e dou um gole para sentir o líquido queimando minha garganta.

Então começo a molhar as coisas dentro do lixo e jogo a garrafa de novo lá dentro, pego um cigarro e o isqueiro para acender. Dou uma puxada e então fecho os olhos para sentir o efeito.

Largo o isqueiro na lata de lixo e ela começa a queimar muito alto, continuo fumando e vendo o fogo consumir tudo que eu tenho. Nunca fui muito apegada ao material, então isso não era nada para mim.

Inspiro o cigarro uma última vez e jogo ele na fogueira também. Acho que é a última vez que eu vou fumar, então.

-Que os jogos comecem.

De Repente Ela - 4° Geração.04Onde histórias criam vida. Descubra agora