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Emma Green

Mexo o dedo e o barmen começa a abrir outra cerveja para mim, ele pega a velha e substitui pela nova. Seguro pelo gargalo e dou um gole grande, recebi outro endereço sem ser o da oficina e acho que isso era bom.

Então vim comemorar.

O pessoal daqui não parecia muito amigável, mas era o mais perto que tinha do meu apartamento e não queria ter que andar muito para chegar lá. Só ia ficar mais alguns minutos e então iria embora.

-E aí?- um cara senta do meu lado.

Olho para ele e vejo que é um machão. A camiseta branca e uma camisa xadrez de botões aberta, uma calça jeans azul escuro e um cinto bem "vim do Texas".

-Não tô afim.- volto a olhar para frente e tomo um gole.

-Tão bonita para ser tão grossa.- ele se aproxima.- Só queria ser gentil com você, deveria retribuir.

-Que tal você ir embora e eu te retribuir não me irritando com você?- levanto as sobrancelhas.

-Ah, você é daquelas difíceis.- ele ri.- Eu apostei com meus amigos quanto tempo iria demorar para você sair comigo.

-Sério?- sorrio lentamente.- Quanto acha?

-Uns cinco minutos.- ele me olha dos pés a cabeça.

-Desculpa, cara, mas eu não tô afim.- repito.- Então por que não vai embora e acha outra garota?

-Porque eu me interessei por você.- ele me observa.- Você vai vir comigo ou eu vou ter que...- ele afasta o a camisa xadrez e vejo a arma presa na sua calça.

-Ah.- o observo.- Isso era para me excitar ou me deixar com medo?

-Você e eu vamos no beco daqui.- ele aponta para a porta.- E você vai ser uma boa garota.

-Quer uma boa garota?- franzo as sobrancelhas.

-Isso.- ele sorri.

Bebo o resto da cerveja e me levanto, ele sorri e uns amigos dele riem lá no fundo, então vejo se eu estou muito bêbada. Não estou tão bêbada e me aproximo do cara para ele me levar até o beco.

A noite está fria e estou com o casaco nas minhas mãos, mas logo vou estar em casa e não vou me preocupar com isso. O cara me puxa para um beco e começa a abrir o cinto.

-Vamos, vira de costas.- ele tira a arma do cinto.

-Claro.- viro de costas.

Ouço um barulho metálico e olho por cima do ombro para ver ele deixar a arma em cima de uma caçamba de lixo. Então ele se aproxima e começa a passar a mão pela minha bunda.

Agarro o pulso dele e o torço até nos trocar de posição e bater as costas dele contra a parede. Ele perde a noção e meu per vai alto o suficiente para bater em seu peito, ouço seu grito e logo depois meu pé sobe mais até bater na sua garganta.

Ele cai no chão e eu o observo enquanto se contorce de dor. Respiro fundo e me agacho na sua frente para segurar o queixo dele, que me olha com ódio e isso me faz sorrir com satisfação.

-Não devia abordar mulheres assim.- falo baixo.- Quem sabe se elas são perigosas ou não...

-Sua vadia...

-Quem está no chão, filho da puta?- pergunto.

-E eu achei que precisava de ajuda.- uma voz atrás de mim fala.

Me levanto rapidamente e vejo Jake com as mãos dentro dos bolsos, ele tem um sorriso irritante no rosto e está com um palito de pirulito vazio no canto da boca. Ouço um suspiro do cara e então ele começa a levantar super rápido.

-Sr.Ballard-Hunt.- ele tosse.

-Eu mesmo.- ele se aproxima.- Ela está com a minha equipe, então da próxima vez que encostar nela ou....tentar, vai estar morto, entende?

-Sim.- ele assente rapidamente.- Não vai mais acontecer.

-Ótimo.- ele abre espaço para o cara passar.- Vá avisar aos seus amiguinhos.

-Sim, senhor.- ele começa a andar rápido e então corre.

-Eu tinha o controle.- falo calma.

-Eu vi.- ele me observa.- Você se estica bem.

-Vai ficar falando dos meus dotes ou vai sair da frente?- aponto com o queixo e visto minha jaqueta.

-Falar dos seus dotes seria bem legal.- ele desce o olhar até meus seios.

-Quer que eu faça com você o mesmo que fiz com aquele coitado?- aponto.

-Você ficaria surpresa com minha resposta.- ele fala rindo.- Eu gosto de sentir um pouco de dor.

-Eu não vou fazer você sentir um pouco de dor.- explico.

-Enfim, quer uma carona?- ele aponta para um Opala preto e fico surpresa.

-Não, meu apartamento é bem ali.- aponto.

-Está com medo de entrar em um carro comigo?- ele provoca.

-Não, e você não fica nada ameaçador com esse pirulito na boca.- aponto enquanto passo por ele.

-Não quero parecer ameaçador.- ele começa a me seguir.- Mas ele ficou com medo.

-Ele ficou com medo do nome da sua família.- explico.- São duas coisas diferentes.

-Ah, então você agora é profissional em pessoas com medo?- pergunta.- Como eu posso fazer para ficar ainda mais ameaçador?

-Não sei se seria possível.- paro e o encaro.- Pare de me seguir.

-Quero garantir que volte para o lugar com segurança.- explica.

-Bem, eu não preciso disso.- volto a andar.- Fique aí mesmo.

-Não pode me dizer o que fazer.- ele fala voltando a andar.

-Só o fato de tentar avisar isso já é um pouco constrangedor.- explico.

-Doce Emma, você está se esforçando demais para me afastar.- ele fica na minha frente.- Minha presença deixa você desconfortável?

-Maluco.- sorrio.- Você é maluco.

-Gosto mais de revolucionário.- explica.- As pessoas ainda não entendem meu jeito.

-Um sinônimo mais difícil de maluco.- o encaro.- Você não me deixa desconfortável, você me deixa irritada.

-Ah, então eu faço você ter algo.- ele se aproxima mais.- Não deveria ter falado isso, é algo muito, muito perigoso.

-Para mim ou para você?- levanto as sobrancelhas.

-Para nós dois.- ele respira fundo.- Se não quer companhia, então vejo você amanhã.

-Claro.- observo ele se distanciar.

-Cuidado, Emma.- ele sorri.- A rua está cheia de malucos.

-É, eu sei.- lanço um olhar para ele.

Jake ri antes de entrar no carro e logo estou caminhando para meu apartamento, não penso naquela conversa por muito mais tempo antes de chegar no meu apartamento e tomar um banho para tirar o cheiro do bar.

Já é tarde quando eu deito no colchão e me cubro até o ombro com o lençol, me sinto estranha e logo lembro dos dias no exército. Lembro da cama ser mais dura que isso e lembro de ouvir sempre os helicópteros e as pessoas passando.

Não sei como isso me faz falta, mas não consigo dormir nesse colchão e nesse silêncio. Uma vez, quando fazia uns dias que tinha voltado, eu precisei dormir com a janela aperta e no chão duro para conseguir dormir.

Aquele colchão era macio demais e o lugar todo era silencioso, tinha pesadelos quando não conseguia dormir do jeito certo e tudo que eu fazia era uma terapia idiota que nem estava funcionando.

Mas, a vida é assim. Quem não tem traumas é frágil demais para conviver na sociedade, frágil demais para confiar em pessoas e frágil demais para achar que alguém vai ajudar você além de você mesmo.

Tudo é frágil demais.

De Repente Ela - 4° Geração.04Onde histórias criam vida. Descubra agora